Após desafio de Harvard, instituições de elite denunciam corte de verbas e intervenção federal, enquanto Trump acusa universidades de “ensinar ódio”
A tensão crescente entre o governo do presidente Donald Trump e instituições de ensino superior dos Estados Unidos atingiu um novo patamar após a Universidade Harvard se posicionar publicamente contra a política de cerco adotada pela Casa Branca. Segundo o jornal O Globo, a decisão da universidade de rejeitar exigências do governo federal desencadeou um movimento de resistência entre outras universidades de prestígio, que agora também denunciam cortes de financiamento e intervenções nas áreas de governança, admissões e pesquisa.
A crise teve início na segunda-feira (14), quando Harvard — a mais antiga e rica universidade do país — recusou-se a implementar as mudanças determinadas por Washington, mesmo sob ameaça de perder quase US$ 9 bilhões (aproximadamente R$ 50 bilhões) em contratos e subsídios federais. Em carta enviada ao governo, o reitor Alan Garber afirmou: “a Universidade não abrirá mão de sua independência ou de seus direitos constitucionais. Nem Harvard nem qualquer outra universidade privada pode permitir ser tomada pelo governo federal”.
◉ Columbia muda de postura e engrossa o coro - A resposta firme de Harvard influenciou diretamente a Universidade Columbia, que havia sido alvo anterior da ofensiva governamental. Após sofrer um corte de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) sob alegações de antissemitismo, Columbia havia feito concessões ao governo no mês passado. No entanto, na terça-feira (15), a presidente em exercício da universidade, Claire Shipman, divulgou um novo posicionamento: “rejeitaria qualquer orquestração autoritária do governo que pudesse potencialmente prejudicar nossa instituição e minar reformas úteis”, afirmou em mensagem dirigida à comunidade acadêmica.
Shipman declarou ainda que acordos nos quais autoridades federais determinem “o que ensinamos, pesquisamos ou quem contratamos” são inaceitáveis. A mudança de tom foi interpretada como uma tentativa de recuperar a credibilidade acadêmica após críticas por sua postura anterior considerada vacilante.
◉ Resistência se espalha entre as universidades - Outras instituições de peso, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Princeton e a Universidade de Illinois, também manifestaram apoio à carta de Harvard. Essas universidades ajuizaram ações contra o Departamento de Energia em resposta aos cortes em bolsas de pesquisa.
A Universidade Princeton informou que dezenas de bolsas já foram suspensas, comprometendo cerca de US$ 210 milhões (R$ 1,2 bilhão) em recursos federais. O presidente da instituição, Christopher Eisgruber, expressou solidariedade à causa de Harvard em publicações nas redes sociais.
Em Stanford, os dirigentes Jonathan Levin e Jenny Martinez uniram-se à defesa da autonomia universitária. “As objeções de Harvard à carta que recebeu estão enraizadas na tradição americana de liberdade, uma tradição essencial para as universidades do nosso país e que vale a pena defender”, escreveram em nota conjunta.
Para a especialista Teresa Valerio Parrot, da empresa TVP Communications, Harvard deu o passo que outras universidades aguardavam: “o ensino superior estava esperando por uma instituição que enfrentasse o governo Trump. Precisava ser uma instituição com bons recursos e uma marca forte”, disse ao Wall Street Journal.
◉ Perdas bilionárias e tensão política - Outras universidades também estão na mira da Casa Branca. Segundo o New York Times, a Universidade Brown pode perder cerca de US$ 510 milhões (R$ 2,9 bilhões) em recursos; a Cornell, pelo menos US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões); e a Northwestern, US$ 790 milhões (R$ 4,6 bilhões). A Universidade da Pensilvânia já teve US$ 175 milhões (R$ 1 bilhão) suspensos por apoiar a participação de um atleta transgênero em competições esportivas.
As universidades George Washington, Johns Hopkins, Nova York (NYU), Berkeley, UCLA, Minnesota e do Sul da Califórnia também enfrentam ameaças similares.
◉ Trump intensifica ataques - Em meio à reação das instituições, o presidente Donald Trump voltou a atacar Harvard em sua plataforma Truth Social nesta quarta-feira (16). Ele chamou a universidade de “piada” e disse que ela “ensina ódio e estupidez”, afirmando que a instituição “não merece mais receber recursos federais”.
“Harvard não pode mais nem mesmo ser considerada um lugar decente de aprendizado e não deveria estar em nenhuma lista das melhores universidades do mundo”, escreveu Trump, ampliando o tom agressivo de sua retórica.
◉ Apoio republicano à cruzada do governo - Enquanto o embate se acirra, líderes republicanos demonstram apoio ao cerco federal. A deputada Elise Stefanik, de Nova York, ex-aluna de Harvard, declarou ao Wall Street Journal: “acho que Harvard recebeu um conselho ruim ao adotar uma abordagem diferente. Mas o que eles não percebem é o nível de seriedade: é gravíssimo”.
Em postagem anterior nas redes sociais, Stefanik já havia atacado a universidade, afirmando que Harvard “conquistou merecidamente seu lugar como o símbolo da decadência moral e acadêmica do ensino superior”.
A ofensiva de Trump se insere em um movimento mais amplo de combate ao que ele classifica como “doutrinação ideológica” e “antissemitismo” nas universidades. A pressão ganhou força após manifestações estudantis em diversos campi contra a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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