domingo, 20 de abril de 2025

Trump promete o “pote de ouro”, mas aposta em tarifas leva a risco de perda de apoio até dentro do Partido Republicano

Base conservadora ainda vê com otimismo a guerra comercial, mas líderes alertam que paciência com prejuízos econômicos tem prazo de validade

Presidente dos EUA, Donald Trump, dá detalhes sobre tarifas no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C. (Foto: REUTERS/Carlos Barria)

A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, continua provocando turbulência não apenas em Washington e Wall Street, mas agora também dentro do próprio Partido Republicano. Embora parte da base conservadora ainda apoie a retórica do presidente contra parceiros comerciais tradicionais, cresce entre dirigentes locais e estaduais da legenda a percepção de que o impacto econômico poderá custar caro nas eleições de meio de mandato.

É o que mostra uma série de entrevistas conduzidas pela jornalista Liz Crampton e publicadas originalmente pelo site POLITICO, com quase três dezenas de lideranças e estrategistas republicanos em sete estados-chave. A constatação geral: o apoio à cruzada tarifária de Trump ainda é alto, mas não incondicional.

“Se a economia simplesmente afundar completamente, então é Ciência Política 101 que o titular está em apuros”, alertou Jonathan Felts, consultor do Partido Republicano na Carolina do Norte. Felts ainda disse que, embora “muitas pessoas estejam dispostas a arcar com alguns problemas de curto prazo”, tudo muda quando o prejuízo bate no bolso: “Se você for ao McDonald’s e não houver mais opções no menu de um dólar, isso será um problema”.

O cenário atual é de insegurança. Com os índices de aprovação presidencial em queda — abaixo da média desde que assumiu o cargo — e a maioria dos americanos afirmando, segundo pesquisa da Economist/YouGov, que a economia está piorando, até os eleitores mais fiéis de Trump começam a manifestar desconfiança.

Trump insiste que as tarifas são parte de um plano para corrigir décadas de práticas comerciais desvantajosas contra os EUA. No entanto, o preço dessa estratégia já se faz sentir. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, alertou que as tarifas trarão aumento de preços, gerando ainda mais pressão inflacionária. A reação da Casa Branca foi, mais uma vez, de confronto.

Mesmo lideranças republicanas que se dizem simpáticas à pauta comercial de Trump impõem prazos. “Se a economia não melhorar dentro de um ano, vamos ficar preguiçosos nas eleições de meio de mandato”, disse Todd Gillman, presidente de uma seção eleitoral do Partido Republicano em Michigan. Ainda que acredite no “pote de ouro no final disso tudo”, Gillman reconhece que a paciência do eleitorado não é infinita.

Robin Vos, presidente da Câmara de Wisconsin, admitiu estar arcando com tarifas sobre seu próprio negócio de embalagens de alimentos. Ainda assim, aposta na reversão dos impactos: “A esperança é que a ideia de promulgar as tarifas resulte em zero no final, e é aí que acho que a maioria das pessoas está otimista”.

Em diversos estados, líderes republicanos relatam que seus eleitores estão dispostos a dar mais tempo ao presidente — mas não por muito. “Se levar seis meses, um ano, você pode ver algumas pessoas reclamando um pouco”, disse Jesse Willard, presidente do Partido Republicano do Condado de Decatur, na Geórgia. “Mas se levar mais de alguns anos, você verá pessoas não aceitando isso”.

Apesar da insatisfação crescente, há quem ainda veja virtudes em uma abordagem agressiva. Para Greg Rothman, senador estadual na Pensilvânia, as tarifas de Trump são promissoras para os trabalhadores da combalida indústria siderúrgica. “Nossa indústria vem morrendo há cinquenta anos, então seria necessária uma abordagem mais radical”, defendeu.

Outros, no entanto, tratam a política econômica de Trump com ceticismo. “Não é como virar uma canoa, é como virar um navio de guerra”, comparou Jim Runestad, presidente do Partido Republicano de Michigan. Mesmo defendendo mais tempo ao presidente, ele reconhece que não há como garantir resultados com prazos curtos — nem apoio indefinido.

A retórica da Casa Branca, que celebra o suposto interesse de mais de 100 países em renegociar acordos comerciais com os EUA, não convence plenamente nem os próprios aliados. Economistas alertam que os danos a médio prazo — aumento de preços em roupas, brinquedos, eletrônicos e alimentos — podem atingir diretamente a classe média, base essencial do eleitorado republicano.

Embora Trump continue sendo uma figura central e carismática dentro do Partido Republicano, os sinais de desgaste são visíveis. Em uma semana, sua aprovação entre republicanos caiu 5 pontos percentuais, atingindo 85% — número ainda alto, mas preocupante num cenário de crise prolongada.

Em resumo, o presidente dos EUA arrisca transformar sua guerra comercial numa bomba-relógio eleitoral. Com uma base disposta a esperar — mas apenas até certo ponto —, o desgaste político já começa a corroer o apoio que antes parecia blindado. E a promessa de um “pote de ouro” pode se transformar em um peso de chumbo na campanha republicana.

Fonte: Brasil 247

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