quinta-feira, 17 de abril de 2025

PF toma depoimento do diretor da Abin e prepara indiciamento por obstrução

Luiz Fernando Corrêa presta depoimento nesta quinta. PF vê tentativa de interferência nas investigações sobre espionagem durante governo Bolsonaro

      (Foto: Leonor Calasans/IEA-USP)

A Polícia Federal se prepara para indiciar Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob suspeita de tentativa de obstrução das investigações sobre o uso ilegal do órgão na gestão de Jair Bolsonaro (PL). Corrêa, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deve depor na tarde desta quinta-feira (17), informa a Folha de S. Paulo.

Também será ouvido Alessandro Moretti, ex-número 2 da Abin, exonerado por Lula em janeiro de 2023. Ambos são apontados como responsáveis por interferências indevidas na apuração conduzida pela PF e, segundo os investigadores, há elementos suficientes para o indiciamento. A situação só poderá mudar caso os depoimentos tragam defesas robustas, o que é considerado improvável pela equipe que conduz o inquérito.

◎ Suspeitas de obstrução e espionagem internacional - O caso ganhou novos contornos com a revelação de que, além de espionagem doméstica, a Abin teria monitorado ilegalmente autoridades do Paraguai. Segundo depoimento de um agente da própria Abin, reportado inicialmente pelo UOL, a operação teve início ainda no governo Bolsonaro e teria sido mantida até os primeiros meses da gestão de Lula, quando foi encerrada. À época da revelação, o governo Lula destcou: "a citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da ABIN em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato".

A PF avalia instaurar um novo inquérito para apurar exclusivamente os fatos relacionados ao Paraguai. A acusação central é que a Abin teria utilizado o software de espionagem FirstMile para monitoramento ilegal de alvos políticos e diplomáticos, o que ultrapassa os limites legais das atividades de inteligência.

◎ Disputa institucional e tensão entre órgãos - A investigação ocorre em um cenário de tensão entre a PF e a Abin, agravada desde o processo de transição presidencial em 2022. A cúpula da Abin, por sua vez, argumenta que a Polícia Federal estaria adotando uma postura "distorcida" para desgastar politicamente a atual gestão e provocar mudanças na direção do órgão.

A associação de servidores da Abin, Intelis, manifestou-se na noite de quarta-feira (16) por meio de nota pública. A entidade criticou duramente a ampliação do escopo do inquérito e alegou vazamentos de informações sigilosas. Segundo a nota, a PF estaria promovendo “uma campanha de descredibilização do seu serviço de Inteligência”.

“A ampliação do escopo do inquérito parece servir a interesses políticos e de deslegitimação da Inteligência de Estado. É inadmissível e nocivo aos propósitos de uma grande nação como o Brasil que uma campanha de descredibilização do seu serviço de Inteligência seja capitaneada, não por atores estrangeiros adversos, mas por grupos da própria administração pública nacional”, afirma o texto.

◎ Histórico da investigação - O inquérito que resultou nos depoimentos desta quinta foi instaurado em março de 2023, já sob o governo Lula, após a revelação de que a Abin utilizou o FirstMile durante a gestão de Bolsonaro para monitorar opositores. O foco inicial da investigação era o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin no governo anterior. Houve buscas e apreensões em endereços ligados a Ramagem, mas o pedido da PF para suspender seu mandato foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, após parecer contrário da Procuradoria-Geral da República.

Carlos Bolsonaro (PL), filho de Jair Bolsonaro e apontado como líder do chamado "gabinete do ódio", também figura entre os investigados. A PF apura se o grupo político se beneficiou de ações ilegais da agência.

Os investigadores identificaram ainda possíveis interferências da atual cúpula da Abin no andamento do inquérito. Um dos episódios que chamou atenção foi uma reunião em março de 2023, na qual Moretti teria afirmado que a apuração tinha "fundo político e iria passar". A frase, atribuída genericamente à "direção-geral", foi interpretada como tentativa de desacreditar a investigação e influenciar os envolvidos.

A polícia apura ainda se houve omissão de dados, envio de informações imprecisas e até formatação irregular de computadores na sede da Abin — práticas que, se confirmadas, configuram tentativa de atrapalhar as investigações.

Próximos passos - Com base nas provas reunidas, que incluem depoimentos e documentos técnicos, a PF prepara seu relatório final. A entrega está prevista para a próxima semana e, em seguida, caberá à Procuradoria-Geral da República decidir se oferece denúncia, solicita aprofundamento das apurações ou arquiva o caso.

Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo

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