sábado, 26 de abril de 2025

Marília Arraes: “Não sei a que serei candidata em 2026, mas sei que estarei ao lado de Lula”

Ex-deputada reafirma apoio ao presidente Lula, critica a anistia a golpistas e defende unidade progressista para enfrentar a extrema direita
       Marília Arraes (Foto: Divulgação)

Em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, no Boa Noite 247, a ex-deputada federal Marília Arraes (Solidariedade-PE) fez um balanço de sua trajetória política, relembrou o impacto da ditadura militar sobre sua família e apontou os desafios do campo progressista para as eleições de 2026. Ao longo de quase uma hora de conversa, ela reafirmou seu apoio irrestrito ao presidente Lula, criticou a proposta de anistia a golpistas e defendeu uma frente ampla contra a extrema direita.

“Meu apoio ao presidente Lula é incondicional”, afirmou. “Ainda que ele dissesse que não quer meu apoio, eu estaria com ele.” Marília destacou que, mesmo com divergências internas em seu partido, o Solidariedade, permanece alinhada ao projeto democrático representado pelo atual governo. Para ela, é essencial que o campo progressista aja com responsabilidade estratégica, especialmente diante da ameaça de que a extrema direita conquiste maioria no Senado em 2026. “Bolsonaro já mandou o recado: se tiver 50% do Senado e 50% da Câmara, ele governa o país, mesmo sem estar no Planalto”, alertou.

Marília falou com emoção sobre o vídeo que divulgou recentemente nas redes sociais, criticando a tentativa de relativização dos atos de 8 de janeiro. “Minha grande preocupação é contar a história de forma clara, para que não se banalize o que aconteceu. Quando você compara um crime grave a alguém que apenas riscou uma estátua com batom, você cria espaço para que novos ataques à democracia ocorram”, disse. “Não venha me dizer que quem estava na Esplanada estava só se manifestando. Estavam pedindo a deposição de um presidente eleito.”

Ao revisitar as memórias de sua família, Marília relatou os traumas do exílio forçado de seu avô, Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco, preso por 11 meses e exilado na Argélia após o golpe de 1964. “Ele chegou à Argélia dois anos depois da independência do país. Foi um momento conturbado politicamente, mas ele se estabeleceu como uma referência para os revolucionários que expulsaram os franceses.” Segundo ela, o avô recebia brasileiros perseguidos e até mesmo os trocados pelo embaixador alemão sequestrado no Brasil. “Ele acreditava que nunca mais voltaria. Valdir Pires dizia: ‘No próximo ano a gente está de volta’, mas ele não acreditava”, contou.

Marília também recordou o impacto da ditadura sobre sua família direta, incluindo os filhos de Miguel Arraes, que migraram em etapas para a Argélia. Ela citou a falta de documentos, a vigilância constante da repressão e a incerteza cotidiana vivida pelos exilados. “Entravam civis e militares na casa onde estavam só mulheres e crianças, reviravam tudo. Meu pai ficou um tempo com o único passaporte da família porque a embaixada, por acaso, não sabia que era proibido emitir documentos para eles.”

A ex-deputada aproveitou para ressaltar a importância da memória histórica e lamentou que muitos brasileiros desconheçam os horrores da ditadura. “Muita gente acha que foi um período de ordem. Mas foi o período em que o Brasil virou marionete dos Estados Unidos. A história foi mal contada, e isso tem consequências sérias.” Para ela, a anistia negociada no fim do regime militar contribuiu para a impunidade. “Se anistia o torturador, você perpetua a violência institucional.”

Ao tratar da política atual, Marília disse que a disputa eleitoral de 2026 será decisiva para o futuro do país. Questionada sobre uma possível candidatura ao Senado, respondeu: “Não sei a que serei candidata, mas sei que estarei do lado do presidente Lula”. Ela fez questão de elogiar a gestão do prefeito João Campos (PSB), seu primo e adversário político no passado, e defendeu sua candidatura ao governo de Pernambuco. “João tem sido um excelente líder, amadureceu muito. Fizemos a recomposição e hoje estamos juntos. É hora de união.”

Marília lembrou que seu rompimento com o PSB aconteceu em 2014, quando o partido se afastou da candidatura de Dilma Rousseff. Desde então, ela construiu sua trajetória no PT e, mais recentemente, no Solidariedade. Em 2022, disputou o governo do estado e chegou ao segundo turno. “Apesar de o Solidariedade não ter a força do PT ou do PSB, foi o primeiro partido a declarar apoio a Lula. Paulinho da Força enfrentou muitas pressões para manter esse apoio”, destacou.

Ela também criticou a ausência de diálogo do governo federal com a direção nacional do Solidariedade. “Paulinho foi ignorado politicamente, mesmo após ter sido correto em 2022. Política não se faz com mágoa.” Ainda assim, segundo Marília, a maioria dos quadros do partido nos estados continua alinhada com o Planalto.

A ex-deputada reiterou que sua prioridade é fortalecer a frente progressista e ampliar a base de apoio de Lula. “O Brasil precisa de quadros no Senado. O risco de termos uma maioria fascista é real.” Por isso, defende que o cálculo eleitoral de 2026 inclua a eleição de senadores comprometidos com a democracia.

A entrevista encerrou-se com um apelo à unidade das esquerdas. “Temos que superar vaidades. Nada é mais importante do que defender a democracia. E quando se defende a democracia, se defende justiça social, menos desigualdade, mais oportunidades. Meu papel é estar na trincheira, ao lado de quem defende esse projeto para o Brasil.” Assista:
Fonte: Brasil 247

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