sexta-feira, 18 de abril de 2025

Esquerda em compasso de espera enquanto extrema direita acelera no xadrez paulista

 

Raí e Drauzio Varela são nomes simpáticos à classe média, mas sem densidade política pra enfrentar uma eleição tão difícil como a de São Paulo. Imagem: reprodução
Enquanto a extrema direita se organiza para manter o comando do governo de São Paulo ou apostar na reeleição de Tarcísio de Freitas, ou através de um substituto caso o mandatário opte por concorrer à presidencia, o campo progressista segue indefinido por indefinições internas, silêncio de lideranças e ausência de articulação concreta para 2026 em SP.

O nome mais bem posicionado até agora, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), sinaliza desejo de permanecer ao lado de Lula, repetindo a chapa de 2022. Sem ele, restam alternativas pulverizadas — Fernando Haddad, Alexandre Padilha, Márcio França e Guilherme Boulos — nenhuma com favoritismo consolidado, segundo os levantamentos recentes..

A paralisia na escolha de um nome ocorre em meio à disputa interna no PT pela sucessão de Gleisi Hoffmann.

Até julho, o partido pretende resolver essa questão antes de definir estratégias para São Paulo.

A dificuldade em escolher um nome de consenso abre espaço para rumores de possíveis candidaturas de figuras conhecidas, mas sem histórico partidário, como o médico Drauzio Varella e o ex-jogador Raí. Ambos, no entanto, rechaçam, segundo o Globo, qualquer intenção de entrar na política institucional. “Seria tempo perdido”, resumiu Drauzio. “A chance de cargos eletivos pra mim é zero”, disse Raí.

A a construção de uma frente competitiva passa por obstáculos antigos: a dificuldade do PT em dialogar com o interior paulista, onde Alckmin ainda tem recall; a falta de consenso interno sobre qual projeto encabeçar; e o avanço acelerado de lideranças bolsonaristas no estado, com presença constante nas redes e discurso populista ativo fora do calendário eleitoral.

A popularidade de Tarcísio, hoje com 61% de aprovação segundo o Datafolha, e seu entorno político já articulado com Republicanos, PL, PSD e PP, acende o alerta vermelho entre progressistas.

O risco de ver o bolsonarismo se consolidar no Senado, com dois nomes eleitos em 2026, é real — e ameaça diretamente a estabilidade do governo Lula no Congresso.

A esquerda paulista, apesar de nomes relevantes e experiência de governo, parece apostar mais no compasso de espera do que em uma ofensiva estratégica.

Márcio França, único a declarar publicamente o desejo de concorrer, admitiu que depende do apoio de Lula. “Se o Lula me apoiar, vou disputar e ganhar”, disse. Já Guilherme Boulos, após derrota em São Paulo em 2024, aparece como possível candidato ao Senado, mas o próprio reconhece que é preciso construir unidade no campo progressista antes de qualquer definição.

Com apoio de Lula, Alckmin é um nome de consenso para representar a esquerda nas urnas em SP no ano que vem. Imagem: arquivo DCM


A comparação com 2022 é inevitável.

Naquele ano, o PT também atrasou decisões em nome do projeto nacional — e perdeu São Paulo para a extrema direita. A diferença, segundo analistas, é que a direita segue se movimentando mesmo fora das urnas, enquanto parte da esquerda ainda acredita que campanha começa em período eleitoral.

A base bolsonarista já pavimenta suas alianças, cogita nomes para substituir Tarcísio caso ele vá ao Planalto, e negocia vagas ao Senado, inclusive com a possibilidade de lançar Eduardo Bolsonaro.

Enquanto isso, a principal disputa real no campo progressista ocorre dentro do próprio PT.

De um lado, Edinho Silva, apoiado por Lula; do outro, Rui Falcão, nome mais à esquerda, que já presidiu a legenda.

A resolução dessa disputa interna deve definir não só a candidatura ao governo paulista, mas também a direção ideológica e a capacidade de diálogo com forças do centro. Alckmin, que aparece na frente nas simulações do Datafolha, é visto como possível nome ao Senado, mas sua presença no interior, ainda forte, levanta hipóteses de um retorno ao Bandeirantes — hipótese hoje descartada por ele.

Enquanto a esquerda estuda as peças e hesita no movimento, a extrema direita joga com tempo, estrutura e ousadia.

A escolha do adversário de Tarcísio ou de seu sucessor precisa ser feita com urgência, sob risco de ver o estado mais populoso do país seguir como fortaleza do bolsonarismo até o fim da década. A cada mês sem definição, a partida avança — e o jogo corre risco de terminar antes mesmo de começar.

Fonte: DCM

Nenhum comentário:

Postar um comentário