domingo, 20 de abril de 2025

China amplia compra de minerais críticos do Brasil; venda de cobre atinge recorde de US$ 331 milhões

Com alta demanda impulsionada pela transição energética, país asiático já responde por 35% das exportações brasileiras de minério de cobre

A China possui 63% da mineração de terras raras no mundo, 85% do processamento e 92% da produção de imãs (Foto: Reprodução)

A China reforçou seu papel como principal destino das exportações brasileiras de minerais críticos, especialmente aqueles essenciais à transição energética, como cobre, manganês e nióbio. É o que revela o mais recente boletim do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), divulgado nesta semana e repercutido pela revista Exame.

O relatório, assinado por Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC, mostra que no primeiro trimestre de 2025 as exportações brasileiras de minério de cobre para a China atingiram um recorde histórico de US$ 331 milhões — um crescimento de 180% em relação ao mesmo período de 2024. Esse avanço se deve tanto ao aumento de 18% no preço do minério quanto ao salto de 79% no volume exportado, que chegou a 124 mil toneladas, a maior marca já registrada para o período.

Com esse desempenho, o cobre passou a representar 2% de todas as exportações brasileiras para o mercado chinês, tornando-se o item de maior crescimento relativo entre os dez principais produtos da pauta exportadora, tanto em valor quanto em volume. A China agora lidera com 35% das compras brasileiras do minério, ultrapassando países como Bulgária (18%) e Alemanha (15%).

◉ Demanda crescente e oportunidades estratégicas

Segundo o CEBC, a demanda chinesa por cobre e outros minerais estratégicos tem aumentado de forma consistente. Em 2014, o país respondia por apenas 11% das importações brasileiras de minério de cobre; em 2024, esse índice já havia saltado para 20%, consolidando-se em 2025 como o principal destino.

A tendência acompanha a expansão global da chamada “indústria verde”, focada na transição energética e na produção de veículos elétricos, baterias e tecnologias renováveis, todas altamente dependentes de insumos como cobre, lítio, manganês e nióbio. “Esse novo padrão de demanda vem abrindo oportunidades para o Brasil, que detém grandes reservas e capacidade produtiva desses insumos”, observa o relatório do CEBC.

◉ Exportações em alta de outros minerais estratégicos

Além do minério de cobre, o boletim do CEBC aponta expressivos aumentos nas exportações brasileiras de outros minerais estratégicos para a China no primeiro trimestre de 2025. O manganês teve crescimento de 310%, seguido por ferroníquel (253%), cobre refinado e ligas de cobre (56%), obras de nióbio (35%) e ferronióbio (13%). Já os compostos de metais de terras raras de ítrio e escândio totalizaram 419 toneladas — sete vezes mais do que em todo o ano de 2024. O carbonato de lítio também ganhou destaque, com 56 toneladas embarcadas, ante nenhuma no mesmo período do ano anterior.

Apesar desse panorama otimista, o relatório registra queda de 22% no preço do minério de ferro, o que levou a uma redução de 25% no faturamento com esse produto. Ainda assim, o minério de ferro segue como carro-chefe da pauta mineral, respondendo por 65% das remessas do setor para a China. O volume exportado cresceu 3% e atingiu 59 mil toneladas, também um recorde para o primeiro trimestre.

◉ Geopolítica e disputa por recursos estratégicos

O avanço das exportações brasileiras de minerais críticos ocorre em meio a uma crescente tensão nas relações comerciais globais em torno desses recursos estratégicos. Nesta terça-feira, 15, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou uma investigação oficial para avaliar a necessidade de novas tarifas sobre importações de minerais estratégicos.

Segundo a Casa Branca, o objetivo da investigação é determinar se essas importações prejudicam a “segurança e resiliência dos EUA”. Caso o secretário de Comércio confirme o risco, Trump poderá impor novas taxas, substituindo as tarifas recíprocas atualmente em vigor.

◉ Soja e indústria de transformação também se destacam

O boletim do CEBC, destacado pela revista Exame, também evidencia o bom desempenho da soja nas exportações brasileiras para a China. O volume embarcado chegou a quase 17 mil toneladas — alta de 7% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar da queda de 4,4% no faturamento devido à desvalorização do grão, a China ampliou sua participação nas compras brasileiras de soja, agora com 77% de representatividade (alta de 5 pontos percentuais).

Outro ponto de destaque é o avanço da indústria de transformação nas exportações para a China. Sua participação cresceu para 23% no primeiro trimestre, alta de 6 pontos percentuais em relação a 2024. Por outro lado, o setor extrativo teve queda de 5 pontos, ficando com 42%, e o setor agropecuário caiu um ponto percentual, com 35%.

A guinada nas exportações brasileiras em direção à China, especialmente no setor mineral, mostra um realinhamento importante na geoeconomia global. O Brasil surge como fornecedor estratégico de matérias-primas para uma economia chinesa que busca liderar a transição energética mundial — enquanto o cenário geopolítico global, liderado pela ofensiva tarifária dos EUA, sinaliza que a disputa pelos recursos do futuro está apenas começando.

Fonte: Brasil 247

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