Grupos de apoiadores do ex-presidente Donald Trump têm utilizado o Telegram nos últimos dias para organizar a presença de fiscais eleitorais em áreas de predominância democrata, com o objetivo de contestar e vigiar votos. Em algumas mensagens, há imagens de homens armados que defendem seus direitos e incentivam outros a aderir à causa. Teorias da conspiração circulam nesses grupos, sugerindo que qualquer resultado diferente da vitória de Trump seria uma fraude, exigindo mobilização nas ruas.
Uma publicação dos Proud Boys, grupo de extrema direita que teve papel significativo no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, afirma: “Está se aproximando rapidamente o dia em que não será mais possível ficar em cima do muro. Ou você se posicionará ao lado da resistência ou aceitará o jugo da tirania e da opressão”.
O Telegram, com quase um bilhão de usuários, tem se mostrado uma ferramenta chave para esses grupos extremistas, que frequentemente convertem sua coordenação digital em ações nas ruas, prenunciando possíveis tumultos durante e após o dia da eleição.
Uma análise do The New York Times de mais de um milhão de mensagens em quase 50 canais do Telegram, com mais de 500 mil membros, revelou um movimento amplo e interconectado com a intenção de questionar a credibilidade da eleição presidencial, interferir no processo de votação e potencialmente contestar o resultado. Quase todos os canais analisados pelo NYT foram criados após a eleição americana de 2020, o que mostra o crescimento e a sofisticação do movimento que nega a veracidade das eleições.
O Times analisou mensagens de grupos de “integridade eleitoral” em uma dúzia de Estados, incluindo Estados-chave para eleição como Pensilvânia, Geórgia, Wisconsin, Carolina do Norte e Michigan. As postagens, em sua maioria, despejam desinformação e teorias de conspiração e apresentavam imagens violentas.
Mais de 4 mil posts foram além, incentivando os membros a agir, participar de reuniões eleitorais locais, juntar-se a manifestações de protesto e fazer doações financeiras, mostra a análise.
As postagens de outros grupos de direita analisadas pelo The Times pediam aos seguidores que se preparassem para a violência. Os apelos à ação estenderam a retórica de direita, normalmente encontrada em outras redes sociais, para o mundo físico.
Em New Hampshire, um canal do Telegram instruiu as pessoas a questionar pessoalmente as autoridades locais sobre a contagem de votos de eleitores ausentes. Na Geórgia, os seguidores de um canal local do Telegram foram incentivados a participar de reuniões do conselho eleitoral para defender limites ao voto do mesmo tipo de eleitor. No Novo México, as pessoas foram orientadas a monitorar as seções de votação com câmeras, registrar boletins de ocorrência se necessário e estar prontas para “lutar ao extremo”.
“Se você já se perguntou: ‘O que posso fazer?’, esta é a sua oportunidade”, disse uma postagem de um grupo do Telegram focado na Pensilvânia.
Katherine Keneally, ex-analista de inteligência do Departamento de Polícia de Nova York, disse que as opiniões compartilhadas no Telegram não devem ser descartadas como reflexões de uma minoria à margem, mas sim vistas como um alerta sobre o que pode acontecer no dia da eleição e depois.
“O Telegram é muitas vezes fundamental para organizar as pessoas para se envolverem em atividades nas ruas”, disse Keneally, que agora trabalha para o Institute for Strategic Dialogue, uma empresa de pesquisa que monitora o Telegram.
Ela se lembra de ter participado de uma reunião de céticos eleitorais em Montana, onde os participantes ensinaram uns aos outros como usar o aplicativo. Entre os movimentos mais extremistas, disse ela, o Telegram é usado “de forma muito estratégica para radicalizar e recrutar”.
O Telegram desempenhou um papel pequeno, mas significativo, na eleição de 2020 como uma ferramenta de organização para os organizadores do ataque de 6 de janeiro. Hoje, a influência desses grupos é maior e potencialmente mais ameaçadora, de acordo com a análise do The Times.
Em uma declaração, o Telegram, cujo fundador e proprietário foi preso na França em agosto por acusações relacionadas à disseminação de material ilícito no serviço, disse que havia aumentado a moderação de conteúdo antes da eleição. A empresa acrescentou que cooperaria com as autoridades para remover “conteúdo criminoso”.
“O Telegram não tolera conteúdo que incentive a interrupção de processos democráticos legais por meio de violência ou destruição de propriedade”, disse.
O Telegram desempenhou um papel pequeno, mas significativo, na eleição de 2020 como uma ferramenta de organização para os organizadores do ataque de 6 de janeiro. Hoje, a influência desses grupos é maior e potencialmente mais ameaçadora, de acordo com a análise do The Times.
Os canais midiáticos de direita publicam um fluxo de notícias, memes e desinformação sobre supostas irregularidades nas votações, que são então aproveitadas por outros grupos que as utilizam para argumentar que os democratas começaram a roubar a eleição. Em meio a isso, há apelos para que os cidadãos compareçam às urnas e monitorem e denunciem as irregularidades – ou lutem, se necessário.
Fonte: Agenda do Poder com informações do Estadão.