Preocupação do então coordenador da Lava Jato com o acordo de leniência da empresa foi repassada aos procuradores da Operação Greenfield
O ex-procurador e
ex-deputado Deltan Dallagnol influenciou a inclusão de uma cláusula no acordo
de leniência firmado pelo Ministério Público Federal (MPF) com a J&F no
âmbito da Operação Greenfield, quando ocupava o cargo de coordenador da Lava
Jato, diz a jornalista Bela Megale em
sua coluna no jornal O Globo. “Os dados estão em novos trechos das conversas do
grupo de Telegram que reunia procuradores das forças-tarefas das duas
operações. As mensagens foram registradas apenas duas semanas antes de o acordo
ser fechado”, destaca a reportagem.
Na conversa, Dallagnol manifestou sua preocupação com o
fato de a J&F estar negociando acordos de leniência de forma simultânea no
Brasil e nos Estados Unidos. “Concordo que a leniência tem que ser alta, mas
não dá para fechar valores antes dos EUA, sob pena de passar vergonha
histórica. Porque fecha aqui por 6 e depois os EUA fecham em 60 e ficamos com
cara de trouxa”, diz Dallagnol em uma das mensagens.
O alerta de Dallagnol foi feito pouco após o procurador Andrey
Borges de Mendonça, que estava envolvido diretamente nas negociações com a
J&F, “avaliar que o momento seria ideal para impor condições à J&F, que
estava pressionada após o vazamento e a quebra do sigilo dos acordos de
colaboração premiada dos executivos do grupo”. Diante dessa situação, foi
incluída uma cláusula no acordo de leniência que proibia a empresa de concordar
com multas e ressarcimentos em valores superiores aos estipulados no acordo com
o MPF, sob pena de rescisão do acordo.
A multa acordada com as autoridades americanas foi de US$
128 milhões, representando cerca de 6% da multa acordada com o MPF brasileiro,
que totalizou R$ 10,3 bilhões. Em dezembro de 2023, o ministro Dias Toffoli, do
Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu temporariamente a multa bilionária em
função das dúvidas sobre a voluntariedade da empresa ao firmar o acordo de
leniência com o MPF.
Tanto Dallagnol quanto Mendonça não
reconhecem a autenticidade das mensagens do Telegram, que vieram à tona por
meio de um ataque hacker. Dallagnol enfatizou que, se as mensagens forem
autênticas, refletem apenas uma preocupação legítima dos procuradores em
garantir que o Brasil fosse o principal beneficiário da devolução dos valores
pela empresa.
Fonte: Brasil 247 com informações da coluna da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo