Analistas afirmam que entrada de Moro na disputa destruiu possibilidades do candidato do PDT chegar a Brasília
Brasil de Fato - A pré-campanha de Ciro Gomes (PDT) foi a mais impactada, de acordo com as pesquisas eleitorais da última semana, com a entrada do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) na corrida eleitoral à presidência da República de 2022. Cientistas políticos ouvidos pelo Brasil de Fato acreditam que o cearense já cogita abandonar a candidatura e pode ser pressionado por isso.
“Eu pensaria com muito carinho em retirar a candidatura para presidente. De certa maneira, o Ciro já está fazendo isso, ele diminuiu muito os ataques que ele vinha fazendo nas redes sociais. Ele terá que gastar muito dinheiro, porque só militância não carrega o Ciro Gomes, ele não consegue retirar votos da direita e extrema-direita e não mexe no eleitorado do Lula. Ele está emparedado. A melhor possibilidade para o Ciro é o Senado ou o governo do Ceará”, pondera o cientista político Rudá Ricci, que acredita numa “reconversão de apoio ao Lula, o que será inevitável no segundo turno.”
Para Cláudio André de Souza, cientista político e professor da UNILAB Ciro Gomes está numa situação muito difícil. "Ele precisará buscar seu eleitorado entre os indecisos. Quando batia em lula e Bolsonaro, buscava um eleitor que ainda mantinha um voto incerto. O grande problema é que ele precisará bater em Moro, mas também precisará dialogar intensamente como um candidato que tenha chance de chegar no segundo turno e isso é difícil. Não será uma surpresa se começar a especulação de Ciro retirando a candidatura, para sair ao Senado, o cenário é muito difícil para ele.”
Há consenso entre os analistas de que Moro não conseguirá penetração no eleitorado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pouca incidência entre os o que devem escolher o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Esses dois possuem eleitores convictos. Observem que Bolsonaro nas pesquisas, na pergunta espontânea, pontua muito bem, seus eleitores são convictos. A dificuldade de Moro é que ele encontrará ao lado de Bolsonaro, eleitores e eleitoras decididos sobre seus votos. Moro precisará dialogar com esses 20% a 30% de eleitores que buscam um voto ainda”, considera Souza.
“Parece que a candidatura do Moro retirou mais votos do Ciro Gomes e, em segundo lugar, do Bolsonaro. Não mexeu no eleitorado do Lula. Isso significa dois cenários. A briga entre Bolsonaro e Moro pode favorecer muito a campanha do Lula ainda no primeiro turno. A segunda possibilidade, é o Moro se consolidar como candidato da segunda via e, imagino, alcançaria no máximo 15% das intenções de voto. Nesse sentido, eu duvido que ele roube muito eleitorado do Bolsonaro, mas pode favorecer o Lula. Há uma grande desvantagem para o Ciro Gomes”, especula Ricci.
Com um currículo repleto de irregularidades na condução da Operação Lava-Jato, confirmadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e com aliança franca com Washington e os grandes conglomerados da mídia brasileira, Moro pode ter dificuldade para construir sua imagem de candidato.
“É um preposto da CIA no Brasil, que trocou mensagens nada sérias e profissionais com o Deltan Dallagnol, parece ser um menino mimado, que não consegue ficar em lugar nenhum e que agora catapulta sua carreira à presidência da República de maneira intempestiva. Ele não tem estofo. Será bem difícil ele desconstruir essa imagem, vamos ver como o marketing que ele está contratado e a grande mídia. Não vejo possibilidade de crescimento, não há ligação com igreja, sindicato, empresariado, nada, nenhuma ligação com entidade de massa”, critica Ricci.
Souza considera que o ex-juiz deverá ter dificuldades em debater grandes temas, que passem ao largo da corrupção, agenda que adotou após a midiatização da Operação Lava Jato. “Moro fez uma escolha pela carreira política, ele tinha ambição de se tornar político. A estratégia de Moro deverá associar-se a uma ruptura de Bolsonaro, essa estratégia me parece que será tomada. Mas, não basta discutir corrupção, há preocupação com pandemia, economia, saúde, desemprego, orçamento, educação, outras políticas públicas, então são agendas que vão precisar entrar em jogo.”