A mudança
de governo nos EUA "pode se traduzir em um isolamento ainda maior do
Brasil" no cenário internacional, principalmente devido à questão
ambiental, disse especialista à Sputnik Brasil
247 - Neste sábado (7), o candidato democrata à Presidência
dos Estados Unidos, Joe Biden, derrotou o rival republicano, Donald Trump.
Para Alessandro
Biazzi Couto, professor e pesquisador do CEFET-RJ, o atual alinhamento
brasileiro aos EUA é uma questão de afinidade ideológica entre os presidentes
Jair Bolsonaro e Donald Trump, mais do que políticas de Estado. Por isso, a
saída do republicano da Casa Branca pode prejudicar o governo brasileiro e
afastar os EUA de seu aliado na América do Sul.
"O alinhamento com os Estados Unidos
nesse período esteve vinculado diretamente às ações de Trump. Logo, a mudança
pode se traduzir em um isolamento ainda maior do governo brasileiro, tanto nas
pautas de gênero, sexualidade e proteção do meio ambiente, quanto em relação ao
conflito Israel-Palestina. A tendência é de que os democratas revisem em grande
medida a posição isolacionista adotada por Trump e, com isso, as relações com o
presidente do Brasil", disse Biazzi na Sputnik.
Democratas podem
exigir abertura maior de mercado
Segundo o especialista, mesmo quando era
candidato, Bolsonaro, "de forma inédita na política externa brasileira,
estabeleceu um vínculo pessoal, ideológico e até familiar com a administração
Trump e segmentos da extrema-direita conservadora e militarista dos
Estados Unidos".
Por outro lado, o pesquisador afirma que
as negociações para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico) e as vantagens econômicas que a aproximação com os
EUA poderia trazer foram "bastante limitadas, mesmo no governo
Trump". Além disso, Biazzi diz que a administração democrata pode exigir
uma "abertura ainda maior do mercado brasileiro".
"Acredito que
uma administração democrata, além de buscar uma proteção de segmentos sensíveis
da economia estadunidense, vincule possíveis avanços na pauta comercial com o
Brasil a um maior comprometimento com a proteção da Amazônia e do meio
ambiente, como parte dos países Europeus adotaram recentemente no acordo com o Mercosul,
ou mesmo exija uma abertura ainda maior do mercado brasileiro, no setor
industrial e de serviços, como era proposto na ALCA", refletiu.
'Quase como um
Estado pária'
O especialista diz que Biden "já
sinalizou uma postura crítica sobre a política ambiental brasileira, de forma
similar a líderes europeus".
Sem o ponto de apoio da administração
conservadora dos Estados Unidos, o governo brasileiro ficaria ainda mais isolado
no tema ambiental, quase que como um Estado pária. Haveria uma perda ainda
maior do prestígio, credibilidade e influência construídos no passado recente,
por exemplo, na liderança brasileira na participação das COPs, no âmbito do
G-20 e na organização da RIO+20 em 2012", afirmou.
Biden e a temática ambiental
Para
Pedro Vasques, doutor em ciência política pela Unicamp, a administração
democrata deverá "recuperar o protagonismo dos Estados Unidos nas arenas
multilaterais marginalizadas pelo governo Trump", o que pode forçar os EUA
a agirem na temática ambiental.
"Mesmo
caso Biden se distancie dessa agenda ao longo de sua administração, ele deverá
ser pressionado em várias frentes, que incluem desde representantes de seu
partido até os atuantes movimentos ambientalistas, compelindo-o a agir em favor
da temática ambiental", avaliou o pesquisador do Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-Ineu).