Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folha Press |
O Fórum Econômico Mundial em
Davos sucumbiu à pirralha. É da ativista ambiental
sueca Greta
Thunberg, 17, a voz mais esperada no encontro que reúne a
partir desta segunda (20), nos Alpes Suíços, a elite financeira e política
global.
Depois
de dois anos de estreia presidencial no evento, um com Michel Temer (MDB) e
outro com Jair Bolsonaro (sem partido), o Brasil baixou a graduação de sua
comitiva, que será chefiada pelos ministros Paulo Guedes (Economia) e Luiz
Henrique Mandetta (Saúde), ladeados por parte da equipe econômica.
Gustavo
Montezano, presidente do BNDES, que tem destacado a importância das parcerias
internacionais, faz sua estreia em Davos. Também acompanha a comitiva, Wilson
Ferreira Júnior, presidente da Eletrobras, a estatal que encabeça a lista de
privatizações do governo.
Sem o
presidente, a lista de empresários e executivos brasileiros também minguou,
resumindo-se quase que a presidentes de bancos. A comitiva da área financeira
brasileira conta com Itaú Unibanco, Bradesco, BTG Pactual e Safra.
Mas não
foi só Bolsonaro que abriu mão do convite.
CHEFES DE
ESTADO
A lista
de chefes de Estado e de governo neste ano está bem mais magra do que em seu
auge, 2018, quando as calçadas escorregadias do resort de esqui de 11 mil
habitantes que inspirou Thomas Mann a escrever “A Montanha Mágica” (1924) foram
tomadas por mais de 70 comitivas de presidentes, premiês e monarcas.
Desta
vez, serão 43, sendo 25 delas de europeus.
Com a
adesão de última hora do americano Donald Trump,
aumentaram as expectativas e o quórum. Sua ida, anunciada no início da semana,
permanecia nos planos da Casa Branca e da organização até o início deste sábado
(18). Mas estando Trump em pleno processo de impeachment, não se pode ter
certeza.
A
viagem ao exterior neste momento é talhada para ser lida como sinal de
confiança de que o processo naufragará em um Senado de maioria republicana, o
que é mesmo mais provável. Concretizada, porém, sua presença em Davos pode
causar saias-justas.
Nos
corredores acarpetados do centro de convenções o americano deve cruzar com (1)
Greta, com quem mantém uma guerra verbal; (2) o vice-premiê chinês Han Zheng,
com cujo governo trava uma guerra comercial em incipiente armistício; (3) o
presidente iraquiano Barham Salih, cujo país foi usado pelos EUA como trampolim
para uma quase-guerra com o Irã.
E (4)
com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pivô da guerra política que
Trump enfrenta em casa após virem à tona telefonemas em que exigia do europeu a
cabeça de inimigos políticos para manter os aportes financeiros americanos a
Kiev.
Saia-justa
é o que Bolsonaro parece evitar ao desistir do evento e reduzir a delegação
logo antes de seu amigo americano confirmar presença.
Com as
queimadas na Amazônia e os incêndios em curso na Austrália para mantê-las vivas
no debate, o brasileiro seria inevitavelmente cobrado por sua inação ambiental,
já que, sob o tema “Interessados em um mundo sustentável e coeso”, a ecologia e
a sustentabilidade são o trilho principal do encontro neste ano (com saúde,
trabalho, desigualdade social e os de praxe: negócios, tecnologia,
geopolítica).
E ainda
poderia ter que ouvir um sermão de Greta, a quem definiu como “pirralha”.
É
sintomático e estratégico, portanto, que esteja na delegação o cientista Carlos
Nobre, presidente da Academia Brasileira de Ciência e respeitado pesquisador do
aquecimento global, mas não o ministro do Ambiente de Bolsonaro, Ricardo
Salles.
O
governo parece já ter suficientes escândalos com os quais lidar, e expor Salles
a perguntas sobre a Amazônia de gente como Greta, Al Gore e o príncipe Charles
não ajuda.
Nobre,
por sua vez, foi escalado para três sessões oficiais sobre clima e ambiente. É
o mesmo número da estrela da equipe, Paulo Guedes, que falará sobre indústria
na terça, crescimento e inclusão social na quarta e dólar na quinta.
O que
faz Davos ter o peso que tem para definir a agenda de política e negócios do
ano que começa, entretanto, é menos os palcos e mais seus corredores, que
fervilham com encontros bilaterais.
O
governador de São Paulo não ficou muito atrás. A agenda preliminar de Doria
somava 17 encontros bilaterais com executivos e representantes de governo, além
de almoços e jantares de negócios.
Ao
falar da viagem na sexta (17), o tucano alfinetou Bolsonaro ao dizer que é o
único no Executivo do país a participar do evento três vezes seguidas.
No
vídeo para convencer investidores estrangeiros a colocarem dinheiro em São
Paulo, nova cutucada: a produção elétrica que descreve o estado como ponto de
convergência global mostra São Paulo praticamente independente do Brasil e seus
problemas, e enfatiza o respeito ao Acordo de Paris sobre o Clima, que
Bolsonaro desdenha e a nova cartilha empresarial ama.
O palco
principal do evento, porém, não deve apresentar maiores emoções. Além de Trump
e do vice-premiê chinês, os demais líderes a discursar ali serão o iraquiano
Salih, a alemã Angela Merkel, que deixa a política no ano que vem, o espanhol
Pedro Sánchez, que acaba de sobreviver a uma crise doméstica, o italiano
Giuseppe Conte, o paquistanês Imran Khan e o príncipe Charles, num furacão
familiar após seu filho caçula se afastar da realeza.
Greta
ainda não pisa ali – por ora.
AGENDA
Veja os
discursos” em www.weforum.org
Terça (21)
7h30: Donald Trump (EUA)
10h15: Han Zheng (China)*
Quarta
(22)
7h: Pedro Sánchez (Espanha)
10h40: Pr. Charles (R. Unido)
11h30: Imran Khan (Paquistão)
14h: Barham Salih (Iraque)
Quinta
(23)
10h15: Angela Merkel (Alem.)
12h: Giuseppe Conte (Itália)