A edição deste sábado do jornal O Globo, da família Marinho,
simplesmente ignora a entrevista concedida pelo ex-presidente Lula, que foi o
assunto mais debatido no mundo nesta sexta-feira. Na entrevista, Lula falou
sobre sua condição de preso político, do papel da mídia na destruição do Brasil
e disse ainda que o Brasil é governado por malucos. Censura da Globo lembra
capítulos tristes de sua história, como o veto à campanha Diretas-Já
247 – O grupo Globo de comunicação provou, mais uma vez, não
ter compromisso com a democracia, com seus leitores e com a liberdade de
expressão ao censurar a entrevista concedida pelo ex-presidente Lula, que foi o
tema mais comentado do mundo nesta sexta-feira.
Na entrevista, Lula falou sobre
sua condição de preso político, do papel da mídia na destruição do Brasil e
disse ainda que o Brasil é governado por malucos. Censura da Globo lembra
capítulos tristes de sua história, como o veto à campanha Diretas-Já
Leia, abaixo, reportagem da
Reuters sobre a entrevista:
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou, em sua primeira entrevista à imprensa desde que
foi preso há pouco mais de um ano, que o país está sendo governado por um
“banco de malucos”, revelou ter recusado conselhos de aliados para deixar o
país na iminência da prisão e fez duras críticas ao ministro da Justiça e
primeiro juiz que o condenou na operação Lava Jato, Sérgio Moro, a quem diz
querer “desmascarar”.
“Vamos fazer uma autocrítica
geral nesse país. O que não pode é esse país estar sendo governado por esse
bando de malucos que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo
não merece isso”, afirmou o ex-presidente, ao defender uma autocrítica da elite
brasileira após a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Depois de uma batalha jurídica
—em que foi proibido de ser entrevistado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
durante a campanha eleitoral—, o ex-presidente falou com os jornais Folha de
S.Paulo e El País na sede da Polícia Federal em Curitiba, onde cumpre pena por
condenação por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do
Guarujá (SP).
Na entrevista, Lula fez
críticas a Bolsonaro, embora não tenha sido taxativo em relação ao presidente.
Disse que “ou ele constrói um partido sólido, ou não perdura”.
Ao ser perguntado se se dava
conta de que poderia passar o resto da vida preso, disse não ter problema com
isso, mas que vai provar sua inocência.
“Adoraria estar em casa com
minha mulher, meus filhos, meus netos, meus companheiros, mas eu não faço
nenhuma questão porque eu quero sair daqui com a cabeça erguida como eu entrei.
Inocente. E só posso fazer isso se eu tiver coragem e lutar com isso”, afirmou.
Lula conta que, quando ficou
claro que o objetivo era prendê-lo, aliados lhe disseram para sair do país, se
refugiar numa embaixada ou até fugir. Mas ele afirmou ter tomado uma decisão de
que deveria ficar e mirou seus ataques aos principais personagens envolvidos em
sua condenação.
“Eu tenho tanta obsessão de
desmascarar o Moro, desmascarar o Deltan Dallagnol (coordenador da Lava Jato no
Ministério Público Federal) e a sua turma e desmascarar aqueles que me
condenaram que eu ficarei preso durante 100 anos, mas eu não trocarei a minha
dignidade pela minha liberdade”, disse.
“Eu tenho certeza que eu durmo
todo dia com a minha consciência tranquila. Tenho certeza que o Dallagnoll não
dorme e que o Moro não dorme”, reforçou. “Sei muito bem qual lugar que a
história me reserva. E sei também quem estará na lixeira.”
Na entrevista, o ex-presidente
se mostrou esperançoso em uma eventual vitória futura no STF no seu processo.
Disse que o Supremo teve “coragem” em analisar uma série de casos, como a
liberação das pesquisas com células-tronco, na demarcação da reserva indígena
Raposa Serra do Sol, em permitir a união homoafetiva “contra todo o preconceito
evangélico” e a favor da adoção das cotas para negros nas universidades, em
decisões contrária a boa parte da opinião pública.
“Ela (A Suprema Core) já
demonstrou que teve coragem e se comportou. No meu caso, a única coisa é que
votem em relação aos autos do processo. Não peço favor a ninguém”, disse.
Na parte da entrevista que foi
divulgada pelos veículos, não há comentário dele a respeito da decisão do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), que manteve a condenação no caso do
tríplex, mas reduziu a pena para 8 anos e 10 meses de prisão, o que poderia
abrir a possibilidade para que tenha direito a pedir a progressão para o regime
semiaberto —em que teria direito a trabalhar fora da cadeia de dia e voltar à
noite— a partir de setembro.
Em pelo menos um momento
divulgado pelos jornais, Lula mostrou emoção e chorou, quando foi perguntado
sobre a morte do neto, Arthur, de 7 anos, no mês passado, e da morte do irmão
Vavá, em janeiro deste ano.
Apesar da lei de execuções
penais prever a autorização para presos irem ao velório e enterro de parentes
próximos, o ex-presidente não pôde comparecer ao enterro do irmão. No entanto,
foi autorizado a sair por algumas horas para o velório e cerimônia de cremação
do neto.
“A morte do meu neto é uma
coisa que não... Às vezes penso que seria tão mais fácil se eu tivesse
morrido... já vivi 73 anos, poderia morrer e deixar meu neto viver”, disse,
chorando.
“Mas não são apenas esses
momentos que deixam a gente triste. Eu sou um homem que tento ser alegre, que
tento trabalhar muito essa questão do ódio. Eu trabalho muito para vencer a questão
do ódio, da mágoa profunda. Eu tenho muitos momentos de tristeza aqui. O que me
mantém vivo, que eles têm que saber, é meu compromisso com esse país.”
O ex-presidente disse ter
preocupação com seus familiares —citando o fato de que ele está com os bens
bloqueados. Mas ele destacou que também se preocupa com o Brasil, ao citar que
antes o país era uma referência e que a situação atual é uma “avacalhação”.
Os jornalistas ficaram por mais
de duas horas com o ex-presidente, em uma sala de reuniões na sede da PF, em
Curitiba, onde Lula está preso desde 7 de abril do ano passado.
Segundo as reportagens, pelas
regras da PF, os jornalistas teriam que ficar a quatro metros da sala. No
entanto, de acordo com vídeo publicado pela Folha de S.Paulo, Lula, ao chegar
na sala, cumprimentou e abraçou os jornalistas, antes de sentar na sua mesa.