Mônica Valente, secretária de relações
internacionais do Partido dos Trabalhadores, também visitou a Vigília Lula
Livre
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Valente (esq.) posa ao lado de boneco do ex-presidente Lula em Curitiba (PR) / Pedro Carrano |
A secretária de
relações internacionais do PT, Mônica Valente, esteve na última quinta-feira
(18) em Curitiba para visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) na Superintendência da Polícia Federal (PF), onde é mantido preso sem
provas há 287 dias.
Após a
visita, Valente transmitiu mensagens de Lula à Vigília Lula Livre. Uma
delas diz respeito à preocupação do ex-presidente com a soberania nacional
e a integração entre os países da América Latina, ameaçada pelo atual governo
Bolsonaro (PSL). "Essas atitudes que tem sido anunciadas, em termos de
política externa, são um grave retrocesso para o povo brasileiro", disse
Valente.
A secretária
afirma que a figura de Lula segue ganhando apoio internacional na mesma medida
em que os meios privados buscam isolá-lo e naturalizar uma prisão política.
Valente acrescenta também a preocupação com a situação da Venezuela e a
necessidade de se denunciar as sanções e boicotes sofridos pelo governo Nicolás
Maduro.
Em
entrevista exclusiva ao Brasil
de Fato, a militante lembrou: “O processo político venezuelano,
desde que Maduro ganhou a primeira eleição, em 2013, nunca deixou de
sofrer tentativa de desestabilização”.
Confira
na íntegra:
Brasil de Fato: Em um
momento em que países buscam proteger sua economia, como você vê as
sinalizações do atual governo para uma abertura da economia brasileira, na
contramão dessa tendência?
Mônica Valente: Quando o
presidente Lula diz para nós que uma das lutas mais importantes é a luta pela
soberania nacional, ele vai exatamente ao encontro dessa temática mundial.
Bolsonaro tem anunciado uma postura isolacionista do Brasil e subalterna aos
interesses das empresas norte-americanas e agora do governo norte-americano. E
fragiliza muito o Brasil quando ele, por exemplo, recebe o presidente da
Argentina e acorda flexibilizar o Mercosul para que os países do Mercosul
possam fazer tratados bilaterais de país a país, sem a necessidade de passar
pelo Mercosul. Isso é um grande retrocesso, porque qualquer criança sabe que
uma negociação em bloco favorece muito mais esse bloco do que se cada um
negociar.
Não tem
como negociar sozinho em tratados bilaterais. Então, nesse sentido, o
Bolsonaro, com essas atitudes, o que tem anunciado em termos de política
externa é um grave retrocesso para o povo brasileiro, para a
economia. Porque serão os interesses das grandes empresas transnacionais e
do capital financeiro que vão prevalecer numa negociação bilateral na qual o
Brasil está isolado. Neste sentido, a luta pela soberania nacional adquire uma
dimensão muito mais importante, como nos orientou o presidente Lula.
Há uma tentativa dos meios de
comunicação de naturalizar a prisão de Lula. Neste sentido, a luta pelo Nobel
da Paz e a campanha internacional Lula Livre é uma forma de manter essa luta
forte?
Sem
dúvida. Uma das coisas mais impressionantes que eu acompanho dessa divulgação
internacional e dessa denúncia internacional da prisão injusta do presidente
Lula (uma prisão eminentemente política e sem provas, sem crime), é que cada
vez mais mais gente e lideranças internacionais vão chegando a essa conclusão,
de que a prisão não é justa, de que não cometeu crime, e que é uma prisão política
para impedi-lo de disputar as eleições. E é impressionante porque essa
tentativa de naturalização que os meios de comunicação privados tentam
passar, não acontece na prática. Tanto é que há muitos líderes
internacionais querendo visitar o presidente Lula. Ou seja, pelo contrário,
cada vez mais ele se torna ícone da justiça social e dos direitos humanos no
mundo.
Lula é o principal líder de
esquerda perseguido devido às suas políticas em um país. Mas vemos um cerco na
América Latina a governos de esquerda. Nesse sentido, a preocupação com a
Venezuela é importante?
Sem
dúvida, temos um processo que é de judicialização da política e criminalização
da política contra o presidente Lula, contra Cristina Kirchner (ex-presidenta
da Argentina), contra Rafael Correa (ex-presidente equatoriano), Jorge Glas
(ex-vice-presidente do Equador); ou seja, a direita mais conservadora,
como ela não consegue ganhar eleições com seus projetos políticos, ela tem que
se usar do meio da criminalização dessas lideranças para viabilizar a sua
eleição. Então isso é uma grande preocupação no Foro de São Paulo, onde estamos
sempre trocando ideias e compartilhando experiências sobre como lutar contra a
judicialização e a criminalização da política.
Essa
perseguição chega a recair inclusive contra empresas brasileiras, como vimos no
Peru. Parece ser uma política contrária contra qualquer projeto de
desenvolvimento, projeto nacional e, principalmente, projeto de integração da
América Latina; porque um projeto de integração regional na América Latina, em
que a gente tenha a integração energética, de infraestrutura, de cadeias
produtivas regionais, torna o nosso bloco com peso geopolítico no cenário
mundial de muita importância.
Então,
principalmente frente à crise internacional do capitalismo, a tentativa é de
nos isolar enquanto país, porque na integração regional que nós nos propomos,
que começamos a construir com a Unasul, a Celac e o Mercosul, não é só o bloco
que ganha, individualmente cada um dos países também se desenvolvia. Então, golpear
a integração é uma maneira de isolar cada país e atender aos interesses das
grandes transnacionais e do sistema financeiro.
Algo
importante que você mencionou se trata da Venezuela. O processo político
venezuelano, desde que Maduro ganhou a primeira eleição, em 2013, de lá para cá
nunca deixou de ter tentativa de desestabilização do governo do presidente
Maduro. Primeiro, foram as guarimbas, logo a sabotagem econômica, o bloqueio e
as sanções econômicas, e todas as vezes o presidente Maduro, o PSUV, os partidos
que conformam o Gran Polo Patriótico foram para o povo resolver os problemas. O
que eu quero dizer? Nem um país da América Latina teve tanta eleição quanto a
Venezuela e o povo reitera seu apoio aos princípios da revolução bolivariana.
Então,
o que tenta fazer o imperialismo? Primeiro, um bloqueio econômico brutal, não
deixando o segundo governo Maduro se desenvolver, implementar suas políticas,
inclusive as políticas que busquem resolver os graves problemas econômicos que
vive a Venezuela, ninguém nega isso. Dias depois da sua posse, o governo
anunciou o aumento do salário mínimo, importante. Ampliar as sanções econômicas
à Venezuela é um dos mecanismos que o imperialismo e esse
ultraneoliberalismo utilizam para tentar derrocar nossos governos. A criminalização
da política, criminalização dos nossos líderes, chantagem econômica, tentativa
de desestabilização por meios de redes, de fake news são outros. Agora, tanto
aqui quanto na Venezuela há uma forte resistência do povo venezuelano, que não
tem dúvida de ir às ruas para se mobilizar pelas suas conquistas, que são
conquistas do povo venezuelano.
Fonte:
Brasil de Fato