Um dos seis militares envolvidos no plano para prender ou matar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou uma mensagem para o tenente-coronel Mauro Cid minutos após a operação ser abortada. A informação consta no relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista.
Em 15 de dezembro de 2022, às 20h59, foi dada a ordem para abortar a operação contra o ministro. Seis minutos depois, o major Rafael de Oliveira, que usava o codinome “Japão”, enviou uma mensagem para o então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
O contato foi feito por outro número de telefone. No grupo de WhatsApp “Copa 2022”, onde a ação era coordenada, Oliveira usou um número registrado em nome de uma laranja, com DDD de Minas Gerais. Já no chat privado com Cid, o major utilizou um número com DDD do Rio de Janeiro — salvo na agenda como “Joe”.
“Opa”, escreveu Oliveira para Cid, seguido por uma tentativa de chamada de vídeo que não foi completada.
As mensagens trocadas indicam que o tenente-coronel estava com problemas de conexão. “Vou mudar de posição”, disse Cid. “Tá foda”, respondeu o major.
Trecho de relatório da PF mostra troca de mensagens entre Rafael de
Oliveira e Mauro Cid. Foto: Reprodução/Polícia Federal
De acordo com o relatório da PF, na manhã de 6 de dezembro, Oliveira tentou ligar para Cid por WhatsApp. No final da tarde, ambos estavam na região do Palácio do Planalto.
“Os dados objetivos permitem concluir que Mauro Cid e Rafael de Oliveira estiveram concomitantemente, conforme extratos de ERBs (antenas de celular), na região do Palácio do Planalto no dia 06 de dezembro de 2022 por volta das 17h45”, disse a PF.
Bolsonaro chegou ao Planalto minutos depois, às 17h56. Às 18h31, outra mensagem enviada em um grupo de assessores do então presidente, indicou que ele já estava de volta ao Palácio da Alvorada.
Nesse período, o general Mário Fernandes imprimiu, no Planalto, um documento “Punhal Verde e Amarelo”, que visava assassinar Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). A PF acredita que o documento possa ter sido apresentado a Bolsonaro.
No dia seguinte, 7 de dezembro, a esposa de Oliveira comprou um celular em uma loja de Goiânia. O aparelho, comprado em dinheiro, seria usado pelo major nas ações contra Moraes.
No mesmo dia, Bolsonaro se reuniu com os comandantes das Forças Armadas para discutir a minuta golpistas. Ainda no dia 7 de dezembro, mensagens trocadas entre Cid e outros envolvidos também indicam que a localização de Moraes estava sendo monitorada.
Oliveira e Cid vinham mantendo contato pelo WhatsApp desde novembro, pelo menos. Em 8 de novembro, o tenente-coronel pede para o kid preto “rascunhar algo”. Dois dias depois, novas mensagens sugerem que os dois estavam tentando marcar um encontro.
Em 11 de novembro, Oliveira questionou Cid sobre orientações a serem dadas para os manifestantes que apoiavam Bolsonaro. “O pessoal tá querendo a orientação correta da manifestação. A pedida é ir para o CN [Congresso Nacional] e o STF [Supremo Tribunal Federal]?? As FFAA [Forças Armadas] vão garantir a permanência lá?? Perguntas recebias [recebidas]”, perguntou o major.
Cid respondeu: “CN e STF” e “Vão”.
“Percebe-se que no dia 11 de novembro de 2022, já havia a intenção de que as manifestações fossem direcionadas fisicamente contra o STF e o Congresso Nacional, fato que efetivamente ocorreu no dia 08 de janeiro de 2023”, afirmou a PF no relatório.
General Walter Braga Netto. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Já no dia seguinte, 12 de novembro, ambos participaram de uma reunião na casa do general Walter Braga Netto, ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro. Outros militares também estavam na reunião.
No dia 14 de novembro, Oliveira pergunta para Cid se havia “alguma novidade” e escreve que tem “recurso zero”. “Qual a estimativa de gastos? Falei pra deixar comigo”, disse Cid. “Só uma estimativa com hotel. Alimentação. Material. 100 mil?”, acrescentou.
Em 15 de novembro, Oliveira enviou a Cid um documento intitulado “Copa 2022” e faz referência a valor de R$ 100 mil. Em seguida, ele pede para Cid apagar a mensagem.
Entre 21 e 23 de novembro, Oliveira e outros militares começaram a colocar “em prática os atos de monitoramento do ministro Alexandre de Moraes”.
Fonte: DCM