O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Mário Fernandes, preso por planejar assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes. Foto: Reprodução
O inquérito concluído pela Polícia Federal apresenta o envolvimento de militares de alta patente na tentativa de desacreditar as urnas eletrônicas durante a tentativa de golpe em 2022. O general da reserva Mario Fernandes, membro do grupo de elite “kids pretos” e único oficial do Exército preso fora de um quartel, confirmou em áudios que Walter Delgatti Neto, conhecido como “hacker de Araraquara”, manteve contato direto com o Ministério da Defesa (MD) a fim de contribuir com ações que colocavam em dúvida a integridade do processo eleitoral.
O relatório final da PF reforça que o grupo golpista insistiu na narrativa de fraude, mesmo sabendo que as eleições foram conduzidas sem irregularidades.
Segundo os investigadores, a busca por Delgatti foi parte de um esforço articulado que envolvia auxiliares próximos de Jair Bolsonaro, incluindo o general Fernandes, o coronel Marcelo Câmara e o general Vergara, à época chefe de Comunicação do MD.
Em mensagens transcritas pela PF, Fernandes se referiu ao hacker como “garoto” e relatou encontros que incluíram Vergara. As conversas ocorriam em um contexto de tentativa de criar “códigos maliciosos” que simulassem fraudes nas urnas, como Delgatti já havia declarado na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas.
Walter Delgatti Neto, o hacker da Vaza Jato, durante a CPMI dos Atos Golpistas. Foto: reprodução
O hacker revelou que foi apresentado a Bolsonaro por Carla Zambelli (PL-SP) e encaminhado ao MD. Sua missão seria criar um aplicativo que modificasse os resultados das urnas eletrônicas em demonstrações públicas, usando códigos falsificados para gerar desconfiança na população.
Ele afirmou ter participado de cinco reuniões no Ministério da Defesa, entrando por uma porta lateral sem registro oficial de sua presença.
As declarações de Delgatti ganham respaldo com as coincidências de datas. Em 10 de novembro de 2022, o MD publicou uma nota alegando que o relatório técnico das Forças Armadas não excluía a possibilidade de fraudes nas urnas, mesmo sem apresentar qualquer evidência. No mesmo dia, o general Fernandes enviou mensagens ao coronel Câmara tentando justificar a falta de contundência do documento, que não atendia plenamente às expectativas do ex-presidente.
A cronologia aponta que, em reuniões posteriores, militares discutiram estratégias clandestinas e criaram o plano “Copa 2022”, que envolvia técnicas de anonimização, codinomes e logística para ações clandestinas. O nome remete aos codinomes usados pelos envolvidos, como “Brasil”, “Gana” e “Áustria”.
Fonte: DCM