O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, o argentino Fernando Cerimedo, e Paulo Figueiredo, neto de ditador. Ambos na lista de indiciados por golpismo. Foto: reprodução
Após a Polícia Federal encerrar, nesta quinta-feira (21), o inquérito que investigava a tentativa de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu um documento apontando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas que devem ser indiciadas pelos crimes.
Além dos nomes destacados como os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, a lista apresenta nomes curiosos como do padre José Eduardo Oliveira. Na mira da PF desde a intentona no 8 de janeiro, ele foi alvo de busca e apreensão em fevereiro deste ano e entregou o celular sem a senha alegando “sigilo sacerdotal”.
O relatório também aponta participações internacionais, como a do argentino Fernando Cerimedo. Conhecido também por atuar como estrategista na campanha de Javier Milei, ele fez lives espalhando mentiras sobre as urnas eletrônicas após a derrota da extrema-direita em 2022.
Uma dessas transmissões ficou famosa no Brasil quando o youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, decidiu reproduzir as falsas acusações em seu canal, sendo bloqueado no YouTube por decisão do STF.
O ex-presidente Jair Bolsonaro com expressão de medo. Foto: Sérgio Lima/Poder 360
Além dos nomes incomuns, a lista de 37 indiciados é formada por uma maioria de militares, como os “kids pretos” presos na última terça-feira (19), e ex-membros do governo Bolsonaro, sendo o próprio ex-presidente um exemplo. Veja quem é quem:
1. Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado do Exército acusado de intermediar inserção de dados ilegal em cartões de vacinação contra Covid-19
2. Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel do Exército e um dos autores do documento de teor golpista “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”
3. Alexandre Ramagem, deputado federal, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e delegado da Polícia Federal
4. Almir Garnier Santos, almirante da reserva e ex-comandante da Marinha
5. Amauri Feres Saad, advogado citado na CPI dos Atos Golpistas como “mentor intelectual” da minuta do golpe encontrada com Anderson Torres
6. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
7. Anderson Lima de Moura, coronel do Exército e um dos autores do documento de teor golpista “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”
8. Angelo Martins Denicoli, major da reserva do Exército que chegou a ocupar cargo de direção no Ministério da Saúde na gestão Eduardo Pazuello
9. Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional e general da reserva do Exército
10. Bernardo Romão Correa Netto, coronel acusado de integrar núcleo responsável por incitar militares a aderirem a uma estratégia de intervenção militar para impedir a posse de Lula.
11. Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro contratado pelo PL para questionar vulnerabilidade das urnas eletrônicas durante eleições de 2022
12. Carlos Giovani Delevati Pasini, coronel do Exército suspeito de ter participado da confecção da “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa e Exército Brasileiro”
13. Cleverson Ney Magalhães, coronel da reserva do Exército e ex-oficial do Comando de Operações Terrestres
14. Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, general da reserva e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército
15. Fabrício Moreira de Bastos, coronel do Exército e supostamente envolvido com carta de teor golpista
16. Filipe Garcia Martins, ex-assessor da Presidência da República que participou da reunião que tratou da minuta de golpe
17. Fernando Cerimedo, empresário argentino que fez live questionando a segurança das urnas eletrônicas durante as eleições de 2022
18. Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército e um dos responsáveis pelo monitoramento clandestino de opositores políticos
19. Guilherme Marques de Almeida, tenente-coronel e ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas em Goiânia que desmaiou quando a PF bateu à sua porta
20. Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército identificado em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Barbosa Cid
21. Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, ex-deputado, ex-vereador do Rio de Janeiro e capitão da reserva do Exército
22. José Eduardo de Oliveira e Silva, padre da diocese de Osasco
23. Laercio Vergililo, general da reserva envolvido em suposta trama golpista
24. Marcelo Bormevet, policial federal suspeito de integrar o esquema de espionagem ilegal conhecido como “Abin paralela”
25. Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro
26. Mario Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, general da reserva e homem de confiança de Bolsonaro. É suspeito de participar de um grupo que planejou as mortes de Lula, Alckmin e Moraes
27. Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel do Exército (afastado das funções na instituição)
28. Nilton Diniz Rodrigues, general do Exército suspeito de participar de trama golpista
29. Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, empresário e neto do ex-presidente do período ditatorial João Figueiredo
30. Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa, general da reserva e ex-comandante do Exército
31. Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel e integrante do grupo ‘kids pretos’
32. Ronald Ferreira de Araujo Junior, tenente-coronel do Exército
33. Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel que integrava o “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”
34. Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro e considerado um dos pilares do chamado “gabinete do ódio”
35. Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido pelo qual Jair Bolsonaro e Braga Netto disputaram as eleições de 2022
36. Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro em 2022, general da reserva do Exército
37. Wladimir Matos Soares, policial federal que atuou na segurança do hotel em que Lula ficou hospedado na transição. Ele é suspeito de participar de grupo que planejou as mortes de Lula, Moraes e Alckmin
Esses 37 bolsonaristas são acusados de três crimes: “abolição violenta do Estado Democrático de Direito” e “golpe de Estado”, com penas que podem chegar a 12 anos de prisão.
Segundo a PF, Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” de um plano elaborado por militares das Forças Especiais, apelidado de “kids pretos”. O esquema previa o assassinato do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do STF Alexandre de Moraes, com o objetivo de impedir a posse do governo eleito. “As ações seriam acompanhadas de um gabinete de crise para gerenciar os impactos das operações”, detalhou o relatório.
Na última terça-feira (19), a PF desarticulou parte do grupo acusado de monitorar Alexandre de Moraes e de planejar os assassinatos. “Os crimes envolvem não apenas a tentativa de derrubar o governo, mas a formação de uma organização criminosa estruturada para a prática de atos violentos contra a democracia”, afirmam os investigadores.
Fonte: DCM