O segundo mandato de Trump começará com menos obstáculos
Donald Trump em Palm Beach County, na Flórida, 6/11/2024 (Foto: REUTERS/Callaghan O'Hare)
Donald Trump foi oficialmente declarado vencedor no Arizona neste domingo, encerrando uma série de vitórias cruciais para os republicanos nos estados decisivos ("swing states") e consolidando uma vantagem importante sobre os democratas, informa o The Guardian. Em um gesto simbólico, o presidente eleito se encontrará com Joe Biden na Casa Branca, na quarta-feira, para discutir a transição de poder.
Durante seu primeiro mandato, Trump enfrentou dificuldades para fazer avançar sua agenda, com líderes republicanos no Congresso, como Paul Ryan e Mitch McConnell, distantes de sua ala do partido. Além disso, os democratas controlaram a Câmara dos Representantes na segunda metade de sua presidência, limitando ainda mais sua atuação.
No entanto, seu segundo mandato começa com menos obstáculos. Com uma série de disputas ainda indefinidas, os republicanos parecem prestes a garantir o controle das duas câmaras do Congresso, informa o The Economist. A perspectiva é que o partido alcance 53 cadeiras no Senado caso vença na Pensilvânia, o que seria uma maioria sólida para confirmar nomeações de juízes federais e cargos no gabinete. Na Câmara, os republicanos estão perto de obter uma pequena maioria, com Mike Johnson, presidente da Câmara, contando com o apoio de Trump. Mesmo com possíveis desafios internos, Trump terá uma base forte para avançar em sua agenda.
Com uma campanha inicialmente prevista como acirrada, Trump surpreendeu ao conquistar 312 votos no colégio eleitoral contra os 226 de Kamala Harris. Além do Arizona, ele venceu em estados decisivos como Nevada, Geórgia e Carolina do Norte, e também em regiões industriais como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde os republicanos prevaleceram por margens estreitas. Os republicanos também retomaram o controle do Senado, somando 53 cadeiras contra 46 dos democratas, e têm vantagem para manter a liderança na Câmara dos Representantes, com 212 assentos contra 202 dos democratas e 21 disputas ainda indefinidas.
Após um período eleitoral marcado por intensa polarização, a vitória republicana desafia o Partido Democrata a reavaliar sua plataforma. Trump também obteve a maioria no voto popular, algo que nenhum republicano conquistava desde George W. Bush em 2004, após os atentados de 11 de setembro.
A pedido de Biden, Trump visitará formalmente o Salão Oval na quarta-feira, um gesto que o próprio Trump não fez em 2020, ao se recusar a aceitar a vitória de Biden.O atual presidente já declarou que “dedicará toda a sua administração para assegurar uma transição pacífica e organizada”.
Apesar da disposição pública, alguns pontos na transição permanecem pendentes: Trump ainda não enviou à equipe de Biden certos acordos, como compromissos éticos para evitar conflitos de interesse. Esses documentos são necessários para garantir o acesso à equipe de Biden às informações da administração atual antes da posse, marcada para ocorrer em 72 dias.
Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional, afirmou que Biden abordará com Trump questões de política externa, destacando que “o presidente terá a chance de explicar ao presidente Trump sua visão”. Sullivan disse ainda que Biden buscará novos recursos para a Ucrânia antes de deixar o cargo e que a comunidade internacional precisa “aumentar a pressão sobre o Hamas para negociar um acordo em Gaza”.
A repercussão da vitória de Trump ainda ecoa, especialmente entre os democratas. Estima-se que a campanha de Harris gastou cerca de US$ 1 bilhão nos últimos três meses e agora enfrenta uma dívida de aproximadamente US$ 20 milhões. Frank Luntz, consultor republicano, criticou a estratégia de Harris, afirmando que o foco em Trump durante a campanha foi um “erro de cálculo”. Já Bernie Sanders, senador progressista, defendeu Harris, argumentando que “a classe trabalhadora tem motivos para estar descontente”, destacando que "enquanto os ricos prosperam, 60% da população vive de salário em salário".
A vitória de Trump também reabriu uma questão desconfortável para os republicanos: por que o partido afirma que a eleição de 2020 foi fraudulenta, mas defende que a de 2024 foi justa? Jim Jordan, presidente republicano do Comitê Judiciário da Câmara, celebrou a vitória de Trump como “o maior retorno político da história”.
Jordan e Barry Loudermilk, ambos republicanos, enviaram uma carta ao procurador especial Jack Smith para solicitar a preservação dos registros das investigações contra Trump. Questionado sobre a possibilidade de perseguição a opositores políticos, Jordan negou, afirmando: “Somos o partido que se opõe à perseguição política”.
Por fim, Byron Donalds, congressista republicano da Flórida, refutou rumores de uma “lista de inimigos”, alegando que isso “é uma mentira da esquerda democrata” e que Trump jamais teria feito tal compromisso.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal The Guardian