Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Bolsonaro (Foto: Reprodução | REUTERS/Adriano Machado)
Reuters - Mesmo inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro é a principal aposta do PL para concorrer ao Palácio do Planalto em 2026 e a legenda vai trabalhar pela aprovação no Congresso Nacional de uma proposta que garanta a anistia dele, afirmou o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, em entrevista exclusiva à Reuters.
"Lógico", disse Valdemar, de forma enfática, quando questionado se Bolsonaro ainda é o nome do PL para concorrer à Presidência daqui a dois anos, na entrevista realizada na sede da legenda na quarta-feira.
"Você imaginava quando o Lula estava preso que ele ia ser candidato? Isso aqui você está no Brasil, não está nos Estados Unidos. Concorda? Ninguém, nem eu. Nunca ninguém chegou para mim, nem do PT, não passava pela cabeça de ninguém (que Lula seria candidato)", acrescentou.
Bolsonaro está proibido de concorrer a cargos eletivos até 2030 após ter sofrido condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder e outros crimes ao ter promovido, quando presidente, uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada para atacar o sistema eletrônico de votação do país e também por declarações no Bicentenário da Independência.
O ex-presidente também é alvo de quatro investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo fontes da Polícia Federal, deverão ser concluídas até o final do ano: fraude nos cartões de vacina; apropriação de joias dadas pelo governo saudita; uso indevido da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar indevidamente adversários; e tentativa de golpe de Estado -- o mais sensível dos casos e que deve ser encerrado no próximo mês, conforme publicou a Reuters na terça-feira.
O presidente do PL disse que o partido -- que detém a maior bancada na Câmara, atualmente com 92 deputados -- vai trabalhar para incluir na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que anistia investigados e condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 um pedido para estender os benefícios a Bolsonaro.
Ele foi taxativo que os candidatos à presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro do ano que vem terão de se comprometer com o apoio à PEC para conquistarem os votos dos deputados do PL.
A intenção de Valdemar e aliados é tentar aprovar uma PEC que derrube as condenações de Bolsonaro pelo TSE, assim como barre as investigações criminais que ele também é alvo.
"Anistia não fala do Bolsonaro. A anistia é só para os presos (investigados pelo 8 de janeiro). Mas nós temos que trabalhar para pôr no texto, quando criarem a comissão especial, para mudar o texto e colocar o Bolsonaro", afirmou.
"O grande problema da anistia vai ser você fazer ela andar. Eles vão querer segurar porque nós vamos pôr o Bolsonaro lá, vamos brigar na comissão. É difícil porque é uma emenda constitucional, precisa criar comissão e é muito trabalhoso. Eu acho que a gente tem muita chance de conseguir", destacou.
Valdemar acredita que até o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, poderá apoiar a tramitação da PEC porque seria "inteligente", na ótica dele, o petista concorrer à reeleição contra Bolsonaro daqui a dois anos.
Embora tenha apontado Bolsonaro como a primeira opção do PL, Valdemar disse que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), poderia migrar para a legenda para disputar o Planalto em 2026. Contudo, ele ressaltou que caberá ao ex-presidente dar o eventual aval ao governador ou a qualquer outro nome que vier a ser apoiado pela legenda.
Valdemar afirmou também que não vê a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como presidenciável, defendendo que ela deve ser candidata ao Senado. Também avaliou que o influencer Pablo Marçal não tem força para dividir a direita, a despeito do expressivo resultado que obteve na corrida à prefeitura de São Paulo pelo PRTB no primeiro turno. Disse que ele deveria se lançar primeiro a outros cargos eletivos.
"Eu convidei ele (para ir para o PL) no começo, mas ele fez tanta besteira", afirmou Valdemar, ao considerar como "muito grave" o episódio em que o então candidato acusou, com base em um laudo falso, o adversário Guilherme Boulos (PSOL) de uso de droga.
STF - Na entrevista, Valdemar defendeu Bolsonaro das acusações e chamou de "absurdo" dizer que ele tenha tentado dar um golpe de Estado, chamando o que ocorreu no 8 de janeiro de 2023 de coisa de "bagunceiro". Naquele dia, apoiadores do ex-presidente invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes pedindo uma intervenção militar contra o governo Lula.
Questionado se o ministro Alexandre de Moraes, do STF, teria se excedido na condução dos inquéritos contra Bolsonaro e se isso justificaria o impeachment dele no Senado, Valdemar -- que também é alvo de investigação -- não respondeu aos questionamentos por orientação dos advogados.
Em fevereiro, o dirigente foi alvo de um mandado de busca e apreensão na investigação sobre golpe de Estado e chegou a ser preso por três dias por terem encontrado na batida uma arma de fogo com documentação irregular.
Ainda que o PL tenha ficado bem aquém das mais de 1.000 prefeituras projetadas por ele mesmo para as eleições municipais deste mês, Valdemar creditou o que considera sucesso da legenda -- 510 prefeituras no 1º turno -- à força política de Bolsonaro. O partido conquistou ainda duas prefeituras de capitais na primeira rodada e ainda concorrerá na etapa final em outras nove.
"Quando que eu fui imaginar isso na vida? Nunca! Isso é graças a quem? Ao Bolsonaro. É um fenômeno", afirmou, ao acrescentar que teve dificuldades de fazer os acertos eleitorais com o ex-presidente porque há mais de um ano está impedido pelo Supremo de ter contato com Bolsonaro.
Para Valdemar, o ex-presidente não é uma "pessoa normal" e tem um carisma pessoal que impressiona por onde passa.
"O Lula é muito inteligente, tem carisma, mas o carisma não chega aos pés do Bolsonaro. Não conheço uma pessoa no mundo que tenha o carisma dele", disse Valdemar, cujo partido já foi aliado de Lula nos dois primeiros mandatos do petista. O partido, inclusive, indicou o candidato a vice de Lula na eleição de 2002, o empresário José Alencar.
Fonte: Brasil 247 com Reuters