Montadora chinesa, maior fabricante de carros elétricos do mundo, traz expectativa de reindustrialização e crescimento econômico para o Polo de Camaçari
Celebração na Bahia em homenagem à chegada da fábrica da BYD no Brasil (Foto: Divulgação)
Por Camila França (247) - A montadora chinesa BYD (Build Your Dreams), a maior fabricante de carros elétricos do mundo, anunciou o início de suas operações no Polo Industrial de Camaçari, na Bahia, previsto para 2025. O empreendimento promete gerar mais de 10 mil empregos diretos, transformando o cenário econômico e social da região. A notícia foi discutida em entrevista à TV 247, pelo secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim.
De acordo com Bonfim, o projeto da BYD traz um alívio após o encerramento das atividades da Ford, em 2021, que deixou um rastro de mais de 50 mil desempregados no estado. "A saída da Ford foi um baque, gerando o fechamento de 42 empresas associadas e causando um deserto econômico em Camaçari", recordou Bonfim. A chegada da BYD representa uma nova esperança para a reindustrialização da Bahia, agora impulsionada por uma agenda focada na produção sustentável e na inovação tecnológica.
Reestruturação industrial e empregos - A nova fábrica da BYD ocupará o antigo espaço da Ford, com grandes adaptações e expansões que já estão em andamento. Além disso, a empresa adquiriu mais 200 mil metros quadrados de terreno adjacente, ampliando suas instalações e reforçando o compromisso com a criação de um complexo industrial robusto. Segundo Bonfim, a expectativa inicial era de gerar 5 mil empregos, mas com as expansões, esse número dobrou para 10 mil vagas diretas. "A BYD veio para revolucionar a economia local, absorvendo a mão de obra qualificada deixada pela Ford e ampliando o número de oportunidades", afirmou.
Ele destacou ainda que, além dos empregos diretos, há uma enorme cadeia produtiva envolvida, com fornecedores de autopeças e serviços que também devem se instalar na região. "A projeção de crescimento é enorme. Estamos falando não apenas de carros elétricos, mas também de ônibus, caminhões e placas solares. A BYD não vem só para produzir, ela traz um ecossistema de inovação", explicou Bonfim.
O papel do governo e do sindicato - A reindustrialização da Bahia foi articulada com apoio do governo estadual e federal, especialmente após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 2022, a montadora chinesa demonstrou interesse, mas hesitou em concretizar o investimento devido à instabilidade política do Brasil sob o governo Jair Bolsonaro (PL). A situação mudou com a vitória de Lula, que, em uma visita à China, ajudou a selar o acordo que trouxe a BYD para o Brasil.
"Graças à articulação do governo Lula, ao esforço do ex-governador Rui Costa (PT) e ao governador Jerônimo Rodrigues (PT), a Bahia garantiu esse investimento histórico", destacou Bonfim. Ele mencionou também a criação de um comitê de fomento, com a participação de diversas entidades, incluindo sindicatos e a Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), que atuaram para atrair novas indústrias ao estado.
Incentivos fiscais - O presidente da Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia), Paulo Costa, detalhou a parceria com a montadora chinesa BYD, que está se instalando no polo industrial de Camaçari. Segundo Costa, a Desenbahia não financiará diretamente os investimentos da BYD na construção da fábrica, estimados em R$ 5 bilhões. "Esses recursos são de responsabilidade da BYD. Ela levantará esses recursos na China, com bancos chineses, internacionais ou até mesmo com o BNDES. Nós, da Desenbahia, não temos participação nesse investimento", afirmou.
A atuação da Desenbahia ocorre por meio do ProAuto, um programa de benefícios fiscais para o setor automobilístico, do qual a BYD é beneficiária. "Dentro do ProAuto, temos um capítulo que fala do financiamento do capital de giro, e é aí que nós entramos como operadores do fundo", explicou Costa.
Costa detalhou que a agência pode financiar até 12% do faturamento da empresa, valor equivalente ao ICMS devido. "Funciona assim: emprestamos o valor que a empresa precisa para pagar o ICMS, e ela passa a ter uma dívida conosco, que pode ser paga com descontos significativos", disse. "Nos primeiros seis anos, o desconto é de 98%, o que representa uma vantagem muito grande para a empresa."
O presidente da Desenbahia destacou os critérios para que uma empresa seja beneficiária do ProAuto. "O investimento mínimo é de R$ 1 bilhão. Além disso, há condicionantes como capacidade de produção, geração de empregos e implementação de centros tecnológicos", afirmou. Ele acredita que a BYD contribuirá significativamente para o desenvolvimento tecnológico e a qualificação da mão de obra na Bahia, especialmente em tecnologias modernas como carros elétricos.
Formação profissional - Um dos grandes desafios para atender à demanda da BYD será a qualificação da mão de obra local. "Temos uma necessidade urgente de capacitar trabalhadores para atuarem em um ambiente altamente tecnológico e automatizado", alertou Bonfim. O sindicato está trabalhando junto com o governo do estado e instituições como o Senai para qualificar profissionais.
Entretanto, Júlio Bonfim destacou que a formação de novos trabalhadores ainda é uma preocupação. "Camaçari não tem tradição em certos setores, como a produção de placas solares, e precisamos garantir que nossos profissionais estejam preparados. Se não formarmos essa mão de obra local, corremos o risco de trazer trabalhadores de fora, o que não é o ideal", ressaltou.
Em entrevista à TV 247, Davidson Magalhães, secretário de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, detalhou a importância do projeto e o papel do governo estadual na preparação da mão de obra local.
O governo baiano, em parceria com a BYD, já realizou cursos de capacitação para 530 trabalhadores, com foco em funções como operador de produção veicular e inspetor de qualidade. O secretário destacou a grande procura pelos cursos: “Abrimos 500 vagas e recebemos quase 50 mil inscrições, o que mostra a ansiedade da população por oportunidades de emprego. Desse grupo, 479 pessoas já concluíram a qualificação e estão prontas para atuar na nova fábrica.”
Além das vagas diretas, Magalhães ressaltou a importância do impacto indireto que a fábrica trará para o mercado de trabalho e para a economia regional. “A presença da BYD já está atraindo outras empresas para o polo de Camaçari. Isso gera um efeito dominó, ampliando a geração de empregos e fomentando novos empreendimentos. A revitalização do Porto de Aratu e os investimentos anunciados pelo governo federal em infraestrutura portuária e ferroviária também contribuirão para a expansão do setor industrial.”
Expectativas para o futuro - Com a previsão de criação de 10 mil postos de trabalho diretos, o governo do estado já trabalha para que a maioria dessas vagas seja preenchida por trabalhadores locais, especialmente aqueles qualificados pelos programas estaduais, como o Qualifica Bahia. “Estamos em diálogo constante com a BYD para garantir que a mão de obra local seja priorizada. Nosso objetivo é que os investimentos reflitam diretamente na economia baiana, garantindo empregos e renda para os nossos trabalhadores”, afirmou o secretário.
A continuidade dos cursos de qualificação é uma prioridade para o governo baiano. Novas turmas estão previstas para o próximo ano, em sintonia com as necessidades da BYD, que deverá iniciar suas operações com força total. Segundo Magalhães, a parceria com a BYD é um exemplo claro de como políticas públicas voltadas para a qualificação e a atração de investimentos podem transformar o cenário econômico de uma região.
“A vinda da BYD é resultado de um esforço contínuo para atrair novos investimentos, sobretudo após a saída da Ford, que deixou um vazio industrial em Camaçari. Estamos falando não só de uma fábrica de automóveis, mas de uma transferência de tecnologia e da revitalização de toda uma cadeia produtiva”, afirmou o secretário Davidson Magalhães.
Essa iniciativa não ocorre de maneira isolada. Segundo o secretário, a Bahia tem atraído investimentos em setores estratégicos, como a indústria fotovoltaica, eólica e de biocombustíveis. Além disso, o estado liderou a redução da taxa de desemprego no Brasil no segundo trimestre de 2024. Magalhães credita esse avanço às políticas de atração de investimentos e à retomada de iniciativas voltadas para a geração de empregos formais e o aumento do rendimento médio dos trabalhadores.
“Estamos em um momento muito positivo. A BYD chega num contexto de políticas assertivas tanto do governo estadual quanto federal. Não se trata apenas de substituir a Ford, mas de abrir um novo capítulo para o desenvolvimento industrial do estado”, destacou Magalhães. O projeto é parte de uma estratégia mais ampla de reintegração da Bahia no cenário internacional, com um foco claro na inserção do Brasil no bloco dos BRICS e no fortalecimento do Sul Global.
O novo cenário industrial da Bahia - A instalação da BYD também se insere em um contexto maior de reestruturação industrial no Brasil, liderado pelo governo federal. “O governo Lula colocou a reindustrialização como uma prioridade nacional. A Bahia está se destacando nesse processo, não apenas na indústria automotiva, mas em setores como energia renovável, que são cruciais para o futuro do país”, disse Davidson Magalhães.
Para além da geração de empregos e da retomada do polo industrial, o secretário acredita que o estado está se posicionando como um hub logístico no país, aproveitando sua localização geográfica privilegiada e a infraestrutura portuária em expansão. Esse movimento, segundo ele, coloca a Bahia no centro das grandes discussões sobre o desenvolvimento sustentável e o futuro da indústria brasileira.
“A Bahia tem condições de se tornar uma referência nacional e internacional em tecnologia e inovação industrial. Estamos avançando de forma consistente, e isso é fruto de um planejamento estratégico e da determinação de criar um novo ciclo de desenvolvimento para o nosso estado”, concluiu Magalhães. Assista na TV 247: