O candidato do PSOL diz que Nunes e Marçal disputam a extrema direita e que ele está crescendo na periferia
Coletiva de Guilherme Boulos com a mídia progressista. Créditos: Leandro Paiva/@leandropaivac
O candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos, fez uma coletiva de imprensa com veículos de mídia progressistas nesta sexta (27). Ele falou sobre a escalada de atos violentos nos debates. O Diário do Centro do Mundo (DCM) esteve na entrevista.
O repórter Thiago Suman entrevistou o jornalista Carlos Tramontina, o mediador do debate no Flow News, no DCMTV. O apresentador afirmou que o candidato José Luiz Datena (PSDB) levou ao evento o Sargento Victor, PM da Rota, que estava armado.
Perguntamos a Boulos se ele sabia da presença do policial militar e o que ele achou da escalada da violência na eleição municipal, da cadeirada de Datena, passando pelo soco do assessor de Marçal e a presença de um homem armado.
“Não soube dessa informação. O que a gente vê nos debates é inédito. Não lembro de campanha eleitoral com passagem da palavra ao ato, com agressão física. Agressão verbal, bate boca, sempre existiu”, disse.
“Ir para a agressão física é algo que eu desconheço que tenha acontecido. Não sabia do homem armado no Flow e temo uma escalada de violência nos debates. É óbvio que isso é uma preocupação da campanha e para a preparação do próprio debate. Tem debate na Record. Eu estou escolado na baixaria dessa turma, depois de quase ter perdido a linha em um dos primeiros debates [quando Marçal o provocou com a carteira de trabalho]. Vou manter a tranquilidade e o pulso”.
“Quem quiser ir para a lama no debate, que vá para a lama sozinho”, completou Boulos, que diz que ouve pagode dos anos 1990 para entrar relaxado.
Falou da situação vulnerável dos motoristas de aplicativo, a possibilidade de a esquerda virar essa eleição no final e como os progressistas podem mudar o debate sobre segurança pública. Também recebeu no evento uma cartilha da Rede Progressista de Games para incorporar em seu plano de governo.
Boulos e Camila De Caso, sua coordenadora de programa de governo. Créditos: Leandro Paiva/@leandropaivac
O candidato do PSOL acredita nas pesquisas, mas aposta numa mudança de quadro nos momentos finais das eleições, tanto em primeiro quanto em segundo turno. E quem Boulos acredita que vai crescer entre os eleitores, baseado no Datafolha, na Quaest e na Atlas Intel? A esquerda ou a extrema direita.
“Há uma diferença entre o que a pesquisa pega e o que sai na urna. Nas últimas eleições, inclusive com a ascensão de Bolsonaro em 2018, há um voto de chegada que é decidido na última semana. E ele costuma ser de esquerda ou de extrema direita”, explica.
“Vocês viram no que se transformaram os debates. Por causa do Pablo Marçal e não só por causa dele. O Ricardo Nunes se bolsonarizou. Eles mudam o conteúdo, mas o modo é o mesmo que fizeram para atacar o presidente Lula”.
“Vamos reforçar ainda mais as parcerias com o presidente Lula. Ele tem compromisso com o Poupatempo da Saúde e gravou uma peça de propaganda sobre isso. O presidente Lula já anunciou dois Institutos Federais em Cidade Tiradentes e Jardim Ângela. Já anunciou apoios para o metrô”, disse.
“Vou insistir em uma mudança na reta final. Faço um apelo para eleger vereadoras do PT, do PSOL e da nossa coligação. Isso vai ajudar a gente a ter um maior campo na Câmara. Maioria nunca tivemos, mas temos que brigar. Temos uma semana ainda. O máximo que tivemos foi 23. Temos 17. Queria 23, 24 vereadores”.
Boulos diz que fez o possível para haver uma candidatura progressista com o vice-presidente Geraldo Alckmin e o PSB. “Sigo respeitando a Tabata Amaral, tenho respeito pela Tabata e vocês não viram nenhum ataque da minha parte. Ouvi coisas que não merecia. Mas a Tabata qualifica o debate”, completa.
“Os únicos candidatos que têm propostas somos eu, Tabata e o Datena, mesmo não concordando com as propostas do Datena. Ele tem uma visão. Os outros falam em ideologia de gênero, essas coisas da extrema direita”.
O candidato diz que construiu a maior frente das forças progressistas de São Paulo, com oito partidos, que encara a maior aliança da história da direita e da extrema direita, com muito tempo de televisão. Para vencer, ele aposta em agendas de ruas mais intensas com Lula.
“O segundo turno será uma guerra de duas semanas”, declarou.
Guilherme Boulos: “Nunca o meu mestrado em psiquiatria foi tão útil”. Créditos: Leandro Paiva/@leandropaivac
A necessidade de crescer na periferia
Para Boulos e sua equipe, a campanha foi a que mais fez agendas na periferia comparada com seus adversários. O problema no crescimento é o tamanho da máquina eleitoral de Ricardo Nunes, o atual prefeito do MDB.
“Os nossos trackings, pesquisas internas, estão mostrando um crescimento contínuo na periferia. A periferia decidirá votar na última semana. Nossa reta final terá muitas carreatas e a caminhada da vitória terá a presença do próprio presidente Lula, dependendo da sua agenda”.
O candidato pretende aumentar o policiamento da Guarda Metropolitana e reclama que seu programa de segurança sai distorcido na imprensa corporativa, em portais como o Metrópoles.
“Roubo de celulares não acontece só na Paulista. Uma senhora no Capão foi roubada por um moço de moto e me perguntou: O que você tem a me dizer?. Nós temos que ter o que dizer a essa senhora”, contou.
“Se a gente mostrar na prática que dá para fazer um aumento de segurança sem incentivar os crimes contra a juventude negra periférica, pode ser um ponto de virada para toda a esquerda no debate da segurança pública. A gente tem oportunidade de sair na defensiva”.
Coordenador da campanha de Boulos, o deputado federal Rui Falcão diz que a relação entre o PT e o PSOL está muito boa na campanha, com nenhum atrito após a entrada de Marta Suplicy na vice-prefeitura. Falcão também diz que a segurança pública da candidatura foi debatida com especialistas da PUC e com jornalistas como Bruno Paes Manso. É a principal proposta do programa de governo além da saúde.
Preocupação com trabalhadores de aplicativo
Guilherme Boulos está pensando, após ouvir os próprios trabalhadores, em um projeto para ajudá-los diretamente para melhorar seu trabalho. “Temos projeto de centros de apoio aos trabalhadores de aplicativo. O objetivo deles: Ser espaço de descanso, alimentação, para carregar celular, ter apoio jurídico”.
Ele prossegue: “Tive muita conversa com motociclistas. Em 12 horas de trabalho não dá tempo nem de comer. Dizem que esse é um tema das empresas, mas eu discordo, isso é tema da cidade. Nós vamos fazer os centros? Sim ou sim. E vamos chamar essas empresas, como iFood, para eles ajudarem a custear. Vamos ganhar primeiro e tirar do papel”.
“As mortes no trânsito aumentaram. Precisamos de um programa de educação no trânsito com as escolas municipais. Pensamos nisso também no combate ao racismo, educação ambiental e outros temas. Temos também que fortalecer outros modais de transporte, como bicicletários e corredores de ônibus. Corredores de ônibus organizam o trânsito”.
Diante da demanda dos trabalhadores, dos periféricos e dos mais empobrecidos de São Paulo. o candidato quer retomar investimentos nas rádios comunitárias e nas mídias progressistas que existiram na gestão Fernando Haddad. “Muitas das denúncias do desgoverno de Nunes não encontra eco na imprensa tradicional e o trabalho de vocês é exemplar. Vamos manter a tradição de investimento na democratização da mídia”.
“Nossa campanha tem temor com Marçal, mas eu estou tranquilo com o que fiz até aqui. Por estar tranquilo, minha cabeça está tranquila. Representar o campo democrático contra dois bolsonaristas, Ricardo Nunes e Marçal, me traz um senso de responsabilidade”.
“O nível de violência pessoal, isso impacta na família. Mas cultivo uma equipe muito boa, muito parceira, e cuido da saúde mental. Nunca o meu mestrado em psiquiatria foi tão útil quanto nessa campanha”, finalizou.
Fonte: DCM