Os advogados do ex-mandatário, Fabio Wajngarten e Frederick Wassef, entraram em atrito no caso da venda ilegal de joias
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está em um racha no inquérito que investiga a venda de joias recebidas da Arábia Saudita.
O atrito ocorre entre Fabio Wajngarten e Frederick Wassef. O primeiro deles foi chefe da Secom (Secretaria de Comunicação) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e é um dos advogados constituídos para defender o ex-presidente no inquérito que apura esquema de venda de joias que Bolsonaro recebeu de presente da Arábia Saudita. Wassef, por sua vez, é defensor da família Bolsonaro em outros processos há anos, mas não tem procuração para representar o ex-presidente formalmente no caso das joias sauditas.
Nos bastidores, desentendimentos envolvem acusações de traição. Wajngarten é acusado de vazar informações das investigações para a imprensa, usar o caso das joias para se promover e aproveitar seu registro na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para se proteger atrás de suas prerrogativas de advogado. Em uma conversa no WhatsApp, tornada pública pelo ministro Alexandre de Moraes, Wassef disse que Wajngarten estaria “atirando nas costas” de Bolsonaro.
Demais advogados de Bolsonaro procuram se afastar de conflitos. Reportagem do portal UOL apurou que as discussões entre Wajngarten e Wassef têm causado desconforto no restante da equipe de defesa do ex-presidente no caso das joias — o grupo é comandado pelo advogado Paulo Amador da Cunha Bueno. A equipe nega relação com Wassef e busca não se envolver nos atritos para preservar as estratégias para defender Bolsonaro.
Ex-presidente é próximo de Wassef e o consultou para tentar ficar com joias. Mensagens interceptadas pela PF mostram que, no dia 7 de março de 2023, Bolsonaro enviou trechos de um acórdão do TCU (Tribunal de Contas da União) a Wassef e questionou, em áudio enviado pelo WhatsApp, se havia possibilidade de incorporação das joias recebidas por ele da Arábia Saudita. Na ocasião, o tenente-coronel Mauro Cid havia dito que Bolsonaro recebeu pessoalmente um segundo kit de joias de uma comitiva do ex-ministro Bento Albuquerque.
“Você [Wassef] que é advogado aí, dá uma olhada nisso aí. Nós sublinhamos aí um? Pintamos de amarelo alguma coisa. Pelo que tudo indica, nós temos o direito de ficar com o material. Dá uma olhada aí”, disse Jair Bolsonaro, em áudio a Frederick Wassef.
Conversa com Bolsonaro também teve debate sobre nota de defesa. As horas seguintes à consulta do ex-presidente a Wassef tiveram ao menos sete ligações entre os dois, além do envio de várias versões de uma nota de defesa para decidir o texto definitivo. Oficialmente, Wassef só representa Bolsonaro em uma ação no STJ. Essa ação foi movida pela OAB em favor de Zanone Manuel de Oliveira Júnior, ex-advogado de Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro.
A Wajngarten, Wassef se queixou por nota de defesa não ter nome dele. Enquanto Wassef falava com o ex-presidente, ele também trocou mensagens com o ex-chefe da Secom. Nessas conversas, os dois discordaram sobre a forma de defender o ex-presidente. “Se o [Mauro] Cid já falou, para quê a nota?”, perguntou Wajngarten. Na sequência, ele enviou uma versão do texto sem a assinatura de Wassef, que se queixou do fato de seu nome não estar na nota — Wassef também cobrou Wajngarten pelo texto não ter saído na imprensa.
Wajngarten disse que Wassef e assessor de Bolsonaro “contaminavam tudo”. O comentário foi feito pelo ex-Secom em conversa com Mauro Cid. Na conversa, eles estavam organizando as viagens para recuperar os itens do kit de joias em ouro branco que o ex-presidente ganhou, mas tinham sido vendidos em 2022. Wajngarten criticou Wassef e Marcelo Câmara, que era assessor pessoal de Bolsonaro.
À PF, Wassef atribuiu a Wajngarten operação para recomprar relógio Rolex. Em seu depoimento, ele afirmou que partiu de Wajngarten o pedido para recomprar o item de luxo e que, inclusive, ele teria prometido devolver o dinheiro da recompra para Wassef.
Wassef fez insinuação sobre patrimônio de Wajngarten ao depôr para a PF. Ele foi ouvido no dia 31 de agosto de 2023 e disse que o ex-titular da Secom teve “recente crescimento patrimonial”. Por isso, Wanjgarten teria condições de reembolsá-lo pela recompra do relógio.
Para a PF, Wajngarten atuou na operação para trazer de volta ao Brasil o kit “ouro rosé”. Já Wassef ficou responsável pela recompra do Rolex nos EUA. Ao final do inquérito, os dois advogados foram indiciados por associação criminosa e lavagem de dinheiro. Agora, cabe à PGR (Procuradoria-Geral da República) analisar as provas do inquérito e decidir se denuncia eles ou não.
À reportagem, Wanjgarten minimizou as divergências. “O dr. Frederick Wassef possui longo histórico de prestação de serviços advocatícios para a família Bolsonaro e permanece como advogado em vários casos. A antiguidade do relacionamento dele, sendo apoiador de primeira hora do Presidente, não pode ser desprezada”, disse o ex-chefe da Secom.
Fonte: Agenda do Poder com informações do UOL.