quarta-feira, 17 de julho de 2024

Sóstenes Cavalcanti, autor do PL antiaborto, apadrinha projeto com suspeita de superfaturamento no Rio

 R$ 339 mil de dinheiro público foram gastos em projeto ligado ao ex-líder da bancada evangélica


Uma ONG usou um projeto apadrinhado pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) — autor do PL antiaborto — para comprar 11.500 camisas com fortes indícios de superfaturamento.


Uma reportagem do portal UOL identificou suspeita de superfaturamento de ao menos R$ 339 mil em dinheiro público em projeto de qualificação profissional ligado ao ex-líder da bancada evangélica.


O caso em 6 pontos:


— Preço unitário de camisas dobrou em apenas três meses. A ONG Con-Tato, que tocou o projeto Qualifica RJ (também conhecido como Ellos Qualificação) em parceria com a Unirio (Universidade Federal do Rio de Janeiro), comprou 11.500 camisas de uma mesma empresa por R$ 688 mil em 2023.


— Sete camisas por aluno. Foram pagas 11.500 camisas, mas a ONG estimou 1.440 beneficiados no Ellos Qualificação, que ofereceu cursos profissionalizantes gratuitos e foi encerrado em março.


— Formaturas sob suspeita. A ONG pagou R$ 684 mil por 49 cerimônias de formatura dois dias após o lançamento oficial do projeto, que ofereceu cursos com duração de três meses. Fotos mostram cerimônias simples nos locais dos cursos, como igrejas.


— Brinquedos em formaturas de adultos. Proposta de orçamento para os eventos previa “organização de beneficiários em brinquedos e distribuição de lanches e medalhas”. Apesar disso, a ONG pagou R$ 1,3 milhão pelo serviço, o equivalente a 98 formaturas para 24 polos do projeto, segundo notas fiscais.


— Sóstenes Cavalcante se intitula o padrinho dos projetos da marca Ellos, que envolvem castração animal e aulas de qualificação profissional e esportes. Ele direcionou aos projetos Ellos um total de R$ 20 milhões em emendas parlamentares individuais nos últimos três anos. Todas as postagens do Ellos no Instagram marcam o parlamentar.


— O deputado é o campeão de envio de dinheiro federal para a rede de ONGs com indícios de desvios. O valor total de verbas vinculadas a Sóstenes chega a R$ 43 milhões.


Elas receberam quase meio bilhão de reais de parlamentares entre 2021 e 2023.


Camisas com suspeita de superfaturamento


A ONG Con-Tato fez pesquisa de preços — espécie de concorrência para se chegar ao valor mais baixo — referente a 600 camisas para o projeto de esportes Avante Brasil em setembro de 2022.


A North Rio Comércio e Serviços saiu vencedora com o valor unitário de R$ 29,54. As camisas foram pagas pela ONG com dinheiro de emenda, enviado pelo deputado Otoni de Paula (MDB-RJ).

Três meses depois, a mesma empresa deu para a ONG orçamento de R$ 59,85 por um produto igual: camisas de malha brancas com logotipo do projeto.


Desta vez, com o logotipo do projeto apadrinhado por Sóstenes.


Apesar de ser uma quantidade bem maior (11.500 camisas), o produto saiu por mais que o dobro do valor.

A ONG economizaria R$ 339 mil em dinheiro público se tivesse comprado pelo valor oferecido três meses antes.


Entre os projetos ligados a Sóstenes, o Ellos Qualificação de 2023 foi o mais caro: R$ 12 milhões por cursos profissionalizantes em 24 polos no RJ.


O dinheiro veio de emenda assinada pela bancada do RJ (verba direcionada coletivamente por parlamentares).


Nos dois casos, as pesquisas de preços foram feitas com as mesmas empresas: North Rio (vencedora), Esporte Global e Dry Print, que apresentaram diferença de poucos centavos por produto.


Dry Print e North Rio já tiveram como sócia Priscilla Barbedo, que firmou contratos no valor total de R$ 2,5 milhões com a rede de ONGs por meio de outra empresa, a Pulsar Energia. O marido dela, Robson Barbedo, é nome forte por trás das empresas que fornecem materiais esportivos para ONGs. Ele é dono da Goldstar.com, que vende para ONGs em projetos do governo do RJ.

Por WhatsApp, o empresário negou relações com outras fornecedoras. “Não há nenhuma conduta ou processo que desabone minhas condutas.”


Sóstenes: “Não é meu papel acompanhar compras”


O deputado se manifestou em email enviado por sua assessoria de imprensa:


“Não é meu papel acompanhar as compras [das ONGs], eles prestam contas aos ministérios”, em referência a órgãos como a Unirio e o Ministério de Esporte, responsáveis pelo acompanhamento das verbas destinadas pelos deputados aos projetos.


Questionado se nunca suspeitou de desvio, ele afirmou: “Todos os nossos polos e fiscais são fiscalizados por mim pessoalmente e garanto que todos funcionam”.


O dono da North Rio, Alexandre Soares da Cunha, alegou, por meio do advogado Eduardo Damian, que “os uniformes fornecidos foram produzidos com composição e cor de tecido diferentes em virtude de alteração no escopo solicitado pela contratante, por isso, houve divergência de valores”.


Já a ONG Con-tato disse que “a diferença [de preços] pode ocorrer pelas próprias peculiaridades do material utilizado (malha, dry fit, poliamida), estampa, além do tamanho e número de cores das logos utilizadas”.


No entanto, a diferença de valores ficou evidente no próprio envio das propostas de preços onde as especificações do produto eram as mesmas: camisa em malha branca, com logotipo do projeto estampado. As notas fiscais, emitidas para entrega do material, contêm a mesma descrição.


A Unirio comprometeu-se a verificar os indícios de irregularidades levantados pela reportagem e informou que seu atual comando participou apenas parcialmente da execução do Ellos Qualificação (encerrado em março) e que está desenvolvendo um sistema para aumentar o controle sobre as compras das ONGs.

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Imagem: Arte/UOL

11.500 camisas x 1.440 alunos


Outro ponto que levanta suspeitas é a quantidade de camisas adquiridas.


Foram compradas 11.500 camisas, mas a própria ONG divulgou no Instagram, em março de 2023, que havia previsão de 1.440 beneficiados no projeto – ou seja, seriam ao menos sete uniformes por aluno.


A Con-tato disse que “muitas vezes o plano de trabalho inicial sofre alterações, muitas vezes, por orientação do próprio ministério [da Educação, ao qual a Unirio está subordinada]”.

“Além disso, ao longo do projeto, os beneficiários inscritos podem mudar e o beneficiário que ocupa a vaga recebe um novo uniforme”, concluiu a ONG.

Post do projeto Ellos Qualificação no Instagram
Post do projeto Ellos Qualificação no Instagram Imagem: Reprodução/Facebook

Campeão de emendas


Sóstenes Cavalcante aparece entre os deputados que mais destinaram recursos à rede de ONGs que tocou projetos com indícios de desvio de dinheiro público.


O aliado do pastor Silas Malafaia direcionou R$ 25,9 milhões em emendas individuais para a Con-tato e o Instituto Realizando o Futuro.


O valor total ligado ao parlamentar, porém, é maior. Ao menos duas outras emendas – uma de relator (sem autoria pública) e outra da bancada do RJ – são referentes aos projetos Ellos.


Com isso, o valor total vinculado a Sóstenes chega a R$ 43 milhões, atrás apenas do total de emendas assinadas pela bancada do RJ (R$ 152 milhões) nos últimos três anos.

Página no Instagram do projeto Ellos parabeniza o deputado Sóstenes Cavalcante pelo aniversário
Página no Instagram do projeto Ellos parabeniza o deputado Sóstenes Cavalcante pelo aniversário Imagem: Reprodução/Instagram

“Parabéns” e ex-assessor contratado


Sóstenes faz questão de associar seu nome a projetos da marca Ellos.


No Instagram (@ellos.social), ele é sempre elogiado por alunos e professores. Também são divulgados vídeos de Sóstenes visitando locais onde ocorre o Ellos. Até parabéns pelo aniversário do deputado já foi tema de postagem.


Recentemente, houve a divulgação de visitas do cantor Waguinho a polos do Ellos. Ele é tido como a grande aposta de Malafaia para a eleição de vereador no Rio.

Sóstenes afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não existe impedimento legal de visita de pré-candidatos junto comigo para fiscalizar a realização dos projetos”.


A reportagem ainda identificou a contratação pela ONG Con-Tato de Valfredo Marciano Pereira, assessor de Sóstenes entre 2015 e 2017 na Câmara. Ele foi contratado em 2022, segundo prestação de contas de projeto da marca Ellos.


Pereira venceu um processo seletivo para coordenador-geral do projeto com salário de R$ 4.800. Até hoje, Pereira se apresenta nas redes sociais do próprio Ellos como coordenador.


“Valfredo é um profissional muito qualificado, tem um currículo impecável”, afirmou Sóstenes. A Con-tato afirmou que, “para ter sido contratado, o profissional [Valfredo] atendeu aos critérios de avaliação e expertise dos profissionais para a vaga”.


Formaturas a jato


Além do superfaturamento nas camisas, há suspeitas de desvio de verba pública na contratação de cerimônias de formatura no Ellos Qualificação, ligado a Sóstenes.


A Con-Tato pagou à Produmix Brasil Produções e Eventos R$ 684 mil por 49 cerimônias (R$ 13.970 cada), desembolsados apenas dois dias após o lançamento oficial do projeto em março do ano passado.


A Produmix afirmou que já havia turmas em andamento desde janeiro que teriam se formado em março, segundo o advogado da empresa Carlos Eduardo Gonçalves.


A Con-tato disse que tem a comprovação de que todas as cerimônias pagas foram realizadas. Também afirmou que “os cursos de formação são cíclicos”.


“Pode acontecer a realização de uma cerimônia de formatura de um curso anterior na vigência do próximo ou após o início do próximo curso.”


Brinquedos e medalhas


Apesar de ser um projeto de qualificação profissional, voltado para jovens e adultos e sem aulas de esporte, a proposta de orçamento enviada pela Produmix à ONG Con-tato previa “organização de beneficiários em brinquedos e distribuição de lanches e medalhas”.

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Imagem: Reprodução

A Produmix disse que, apesar dessa descrição do serviço, foram “fornecidos todos os elementos necessários para a realização das cerimônias, como locação do espaço, buffet, fotografia, entre outros”.


Nas redes sociais do Ellos, a reportagem localizou fotos de cerimônias simples nos próprios locais onde ocorreram as aulas — dos 24 polos, ao menos 14 funcionavam em igrejas.

Ao todo, a Produmix recebeu R$ 1,3 milhão por 98 formaturas até junho do ano passado.


Gráfica de laranja


No mesmo Ellos Qualficação, a Gráfica Dinâmica Digital conquistou o seu maior contrato com a rede de ONGs: R$ 696 mil em recursos de emenda de Sóstenes para fornecer material gráfico. O valor foi pago pela Con-tato em 2023.


Criada em outubro de 2022, a firma – que assinou contratos no valor total de R$ 2,3 milhões com a Con-tato e o Instituto Realizando o Futuro – pertence à técnica de enfermagem Agatha Melissa Ferreira dos Santos, 23.


A sede da empresa fica na casa em que ela mora com os pais, no bairro carioca da Ilha do Governador. Ela ganha salário de R$ 1.800 como técnica de enfermagem.


A gráfica diz que isso “não a desqualifica como empresária”.

Sede da Gráfica Dinâmica Digital, que forneceu material para o Ellos Qualificação, apadrinhado por Sóstenes
Sede da Gráfica Dinâmica Digital, que forneceu material para o Ellos Qualificação, apadrinhado por Sóstenes Imagem: Ruben Berta/UOL

A maior parte do valor da emenda de Sóstenes (R$ 426 mil) se refere à impressão de 11 mil “materiais didáticos” ao custo de R$ 38,78 cada. O número contrasta com a previsão para o projeto feita pela Con-tato de atender a 1.440 alunos.


Não há nos documentos enviados pela ONG à Unirio nada que detalhe o que seria esse material didático.


Nas redes sociais do Ellos Qualificação, a reportagem localizou fotos que mostram apostilas. A pedido da reportagem, empresas do segmento estimaram em R$ 20 o custo unitário da impressão de 5.000 unidades desse tipo de material.

Exemplo de apostila do projeto Ellos Qualificação, apadrinhado por Sóstenes Cavalcante
Exemplo de apostila do projeto Ellos Qualificação, apadrinhado por Sóstenes Cavalcante Imagem: Reprodução/Facebook

Por email, a gráfica afirmou que “não sabe por que a ONG Con-Tato não informou a relação de materiais devidamente entregues no âmbito dos convênios”. Questionada, a Con-tato não especificou o material didático.


Fonte: Agenda do Poder com informações do UOL.

PEC de Lewandowski que amplia participação federal na segurança pública já está em análise na Casa Civil e deve seguir para o Senado

 Proposta visa aumentar responsabilidade da União e melhorar integração das polícias

Uma proposta de emenda à Constituição (PEC), elaborada pelo Ministério da Justiça, prevê uma modernização do modelo de segurança pública no Brasil.

Entre outros temas, a PEC propõe a criação de uma nova polícia de nível federal, a partir da atual Polícia Rodoviária Federal (PRF).


O texto busca também integrar as diversas polícias do país. A avaliação de especialistas hoje é que cada corporação age de forma muito solitária e sem compartilhar dados, o que prejudica as investigações.


A PEC também procura reforçar o Sistema Público de Segurança, criando um modelo parecido com o do Sistema Único de Saúde (SUS) e dando mais responsabilidades para a União.


A Constituição de 1988 deixou a segurança pública como assunto predominantemente dos estados. Mas a avaliação do Ministério da Justiça é que a realidade desde então mudou e que o crime evoluiu e se tornou até transnacional, o que pede uma ação integrada do governo brasileiro.


Em reunião com ministros e empresários do setor alimentício nesta terça-feira (16) no Palácio do Planalto, o presidente Lula falou sobre a proposta para a segurança.


“Eu agora vou discutir uma política de segurança pública. Eu não vou fazer junto com o Lewandowski, com a Casa Civil, com a AGU [Advocacia-Geral da União], um projeto de segurança.

Não. Eu vou chamar os 27 governadores dos estados para dizer o seguinte: ‘O governo federal quer participar da questão da segurança pública. Nós queremos saber qual é o nosso papel, aonde a gente entra, como a gente pode ajudar?’”, disse o presidente.


A nova polícia


A proposta de emenda à Constituição (PEC) em estudo no governo prevê a transformação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em uma nova polícia ostensiva federal, com atribuições mais amplas do que apenas o policiamento das rodovias federais.


Atualmente, o artigo 144 da Constituição lista as polícias existentes no país, incluindo uma polícia ferroviária federal, que nunca foi efetivamente implementada.


A nova polícia ostensiva, citada na PEC teria a responsabilidade de cuidar das estradas, ferrovias e hidrovias, suprindo essa lacuna.


Além disso, a PRF já atua fora das rodovias em algumas situações, como quando os estados solicitam apoio em operações, como ocorre no Rio de Janeiro.


A intenção do Ministério da Justiça é regulamentar essas atividades desempenhadas pela PRF, permitindo uma fiscalização mais rigorosa e a responsabilização de agentes que cometerem excessos.


Papel da nova polícia


O texto da PEC foi elaborado com a participação direta do ministro Ricardo Lewandowski. A concepção é que o governo federal deve ter duas polícias: uma judiciária, responsável por investigações, que continuará sendo a Polícia Federal (PF), e uma ostensiva, que será a nova corporação criada a partir da PRF.


Isso espelharia o modelo existente nos estados, onde há uma polícia judiciária (Polícia Civil) e uma ostensiva (Polícia Militar).


Substituição para a Força Nacional


A longo prazo, com a consolidação da nova polícia ostensiva federal, que ainda não tem um nome, ela poderá substituir a atual Força Nacional, que não possui um quadro fixo de profissionais.


A Força Nacional é composta por policiais cedidos pelos estados para atuar em situações que demandam reforço federal, um modelo criticado por poder desfalcar as polícias estaduais e ser caro devido ao pagamento de diárias aos policiais cedidos.


Os próximos passos da PEC


A minuta da PEC está em análise na Casa Civil do governo Lula. Interlocutores do ministro Lewandowski sugeriram que o texto seja apresentado ao Senado para iniciar sua tramitação.


No ministério, a PEC é vista como uma possível marca da gestão de Lewandowski, que deseja deixar um legado na área da segurança pública. Além disso, segundo um interlocutor do ministro, é uma oportunidade de discutir com mais profundidade o tema da segurança pública, um dos mais importantes para a população.


Fonte: Agenda do Poder com informações do g1.

Receita e Serpro abriram investigação interna 3 dias após reunião de Bolsonaro sobre ‘rachadinha’, revela reportagem do Estadão

 Pedido de abertura de apuração sobre servidores se deu após discussão de Bolsonaro e Ramagem

No dia 28 de agosto de 2020, a Receita Federal demandou ao Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) a abertura de uma investigação interna sigilosa para identificar auditores que teriam vasculhado os dados fiscais do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O pedido ocorreu três dias após o então presidente Jair Bolsonaro (PL) se reunir com advogadas do parlamentar e sugerir uma conversa com o chefe do Fisco para avaliar o inquérito que apurou possível prática de “rachadinha” no gabinete do filho “01″ do presidente.


Além disso, José Tostes Neto, então secretário especial da Receita, recebeu a defesa de Flávio Bolsonaro, incluindo, em um encontro, o próprio senador, por três vezes depois da determinação do presidente.


A análise de um possível vazamento de dados era uma estratégia da defesa do senador que pretendia descobrir se auditores teriam repassado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) dados fiscais que deram origem ao inquérito das “rachadinhas” que envolvia ele e o ex-assessor Fabricio Queiroz, revelado pelo Estadão. Na época das supostas ilegalidades, Flávio era deputado estadual no Rio.


O encontro com a sugestão de Bolsonaro ocorreu em 25 de agosto de 2020 e não estava na agenda oficial do presidente. A transcrição do áudio encontrado pela Polícia Federal (PF) revela que, durante o encontro, o então presidente afirmou que a situação diante do inquérito contra Flávio poderia ser “o caso de conversar com o chefe da Receita”. Também participaram da reunião o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e o então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.


As advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que representavam Flávio, estavam na reunião e, no dia seguinte, participaram de agenda com José Tostes Neto, então secretário especial do Fisco. Tostes também recebeu Flávio Bolsonaro.


Conseguir uma agenda com um agente público para obter informações sobre um processo específico não só é incomum como infringe o preceito de impessoalidade da gestão pública, segundo Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da FGV/EAESP. Já para Felipe de Melo Fonte, professor de Direito da FGV do Rio de Janeiro, pode haver sanção ao ex-secretário até no âmbito regimental por conta dos encontros. “Se ele (José Tostes) ofereceu a expertise dele para tratar de um processo penal, isso, segundo os regulamento da atividade da Receita (Federal) não é permitido”, diz Fonte.


Em nota, a advogada Luciana Pires disse que sua atuação na reunião “se deu de forma técnica e nos estritos limites do campo jurídico”. A advogada Juliana Bierrenbach, por sua vez, disse que uma reunião do gênero era “necessária” diante da situação do processo envolvendo Flávio, mas que não tinha conhecimento prévio de que o então presidente estaria na audiência.


O sigilo da gravação foi suspenso nesta segunda-feira, 15, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Após a divulgação do material, Fabio Wajngarten, ex-assessor e advogado de Jair Bolsonaro, saiu em defesa do ex-presidente, alegando que a conversa exposta “só reforça o quanto o presidente ama o Brasil e o seu povo”.


Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a petição feita pelas advogadas de Flávio foi enviada para a Receita no dia 25 de agosto de 2020, mesmo dia da reunião com Bolsonaro e Ramagem. No documento, encaminhado para Tostes Neto, é solicitado que o Fisco levante “todas as pesquisas de seu nome (o de Flávio), de sua esposa e de suas empresas, que tenham sido realizadas desde o ano de 2015″.


Inicialmente, o pedido de apuração sobre possível vazamento de dados incluía apenas Flávio e a mulher dele, a psicóloga Fernanda Bolsonaro. Porém, posteriormente, foram incluídos também o ex-presidente, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os outros dois filhos políticos (Carlos e Eduardo) e as duas ex-mulheres de Bolsonaro: Rogéria Bolsonaro e Ana Cristina Siqueira Valle.


Na gravação da reunião, há um trecho onde as advogadas apresentam a intenção de que o Serpro produzisse “provas” da suposta “devassa” na vida do senador. O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que na época era o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), informou, durante a reunião de 25 de agosto de 2020, que o órgão não forneceria os dados, pois eles eram protegidos por sigilo fiscal e bancário.


“Eu estou querendo te ajudar no caminho, pelo critério que vocês estão no caminho de demonstrar uma nulidade indevida, que esse é o ponto nodal da questão”, disse o parlamentar.


Durante o governo do ex-presidente, o comando da Receita era considerado estratégico por Flávio após o pedido de apuração interna. Esse foi um dos motivos para a nomeação de um simpatizante de Bolsonaro, em fevereiro de 2022, para o cargo de corregedor geral.


Receita disse a deputados que pagou R$ 490 mil para Serpro realizar a apuração


Em dezembro de 2021, três deputados do partido Novo encaminharam um requerimento de informações após a imprensa divulgar a criação da auditoria interna na Receita. Aos parlamentares, a Receita afirmou que pagou R$ 490 mil para o Serpro realizar a apuração.


O Fisco negou ter pedido ao Serpro que realizasse investigações sobre os dados fiscais da família Bolsonaro. Segundo a Receita, o que foi solicitado uma lista de todas as solicitações de arquivos individuais que os servidores e os próprios titulares dos dados fizeram.


“A Receita Federal não pediu apuração ao Serpro sobre investigações acerca dos dados fiscais da família presidencial. Cumpre informar, no entanto, que a RFB solicitou ao Serpro os logs de acesso aos dados do senador Flávio Bolsonaro e pessoas físicas a ele relacionadas, incluindo o próprio acesso realizado pelos próprios titulares dos dados, por servidores da Receita Federal e por sistemas em processos automáticos”, afirmou a Receita em resposta aos deputados.


Ministério Público de Contas pediu investigação ao TCU, mas não obteve retorno


Em outubro de 2020, dois meses após a Receita pedir a investigação ao Serpro, o subprocurador geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU), Lucas Furtado, pediu para a Corte de Contas apurar se Bolsonaro estaria usando a estrutura pública para o “atendimento de interesses particulares seus e de sua família, como também para causar embaraços e dificultar investigação pela Receita Federal de atos ilegais dos quais seu filho”.


Ao Estadão, Lucas Furtado afirmou que não teve retornos do TCU e da Receita.


Sindicato ligado à Receita cobrou explicações sobre apuração interna


Em junho de 2021, o Sindifisco, que é a entidade sindical que representa os auditores da Receita, enviou um requerimento de informações para Tostes Neto, solicitando que a Receita informasse se houve, ou não, um vazamento de dados por parte de funcionários.


Em resposta enviada após 16 dias, o Fisco afirmou que a apuração interna já havia apresentado resultados, mas negou a apresentar informações sobre os servidores que teriam feitos acessos de log nos dados fiscais da família presidencial. “Sob pena de expô-los a hipotéticos e desnecessários riscos ou a eventuais constrangimentos injustificáveis”.


O passo a passo da interferência de Bolsonaro para beneficiar Flávio


  • 25 de agosto de 2020: O ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu com Ramagem, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno, e as advogadas de Flávio Bolsonaro: Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
  • 25 de agosto de 2020: A defesa do senador protocolou neste dia uma petição que exigia a apuração de supostos vazamentos de dados por parte de auditores da Receita. De acordo com a defesa do senador, isso poderia comprovar que os dados do Coaf, que endossaram o inquérito das “rachadinhas”, teriam sido obtidos de forma ilegal.
  • 26 de agosto de 2020: Horas antes de se reunir com o chefe da Receita, a advogada Luciana Pires esteve no Palácio do Planalto. É o que aponta um registro solicitado ao GSI via Lei de Acesso à Informação (LAI).
  • 26 de agosto de 2020: Um dia depois, no dia 26 de agosto de 2020, as advogadas se reuniram com o chefe da Receita. A informação sobre o encontro com o secretário consta em um relatório de agendas emitido pela Receita em junho de 2021, em resposta a um requerimento de informação da deputada federal Natália Bonavides (PT-RN).
  • 28 de agosto de 2020: Dois dias após o encontro com as advogadas, o então secretário especial da Receita, José Tostes Neto, enviou o pedido para a abertura da apuração especial ao Serpro.
  • 4 de setembro de 2020: Novo encontro entre Flávio Bolsonaro, Juliana e o secretário José Barroso Tostes Neto.
  • 17 de setembro de 2020: Ocorre um encontro entre Luciana, Flávio e José Tostes Neto. Segundo a Receita, a reunião foi solicitada pelo próprio Flávio Bolsonaro.

Fonte: Agenda do Poder

Governo reformula o Voa Brasil, programa que vai proporcionar passagens aéreas a R$ 200, e deve focar apenas em aposentados

 Estudantes do Prouni não devem mais ser incluídos entre os beneficiários


O programa Voa Brasil, que deverá proporcionar passagens aéreas de até R$ 200, deverá ser focado em aposentados.

Inicialmente, o governo previa que o público do programa seria mais amplo e também incluiria estudantes do Programa Universidade Para Todos (Prouni) – de bolsas universitárias para pessoas de baixa renda.


Porém, o governo federal quer, primeiro, avaliar o resultado da oferta de passagens.


No primeiro ano, devem ser colocados à venda 3 milhões de bilhetes. A previsão mais recente é que o Voa Brasil seja lançado até o fim de julho, mas esse prazo ainda depende de aval do presidente Lula (PT).


Para ter direito à compra, o aposentado não pode ter viajado de avião nos últimos 12 meses.


Será criado site para facilitar a busca pelos bilhetes oferecidos a até R$ 200 pelo trecho e, segundo integrantes do governo envolvidos nas discussões, o aposentado precisará entrar com o cadastro do gov.br. Com base nessas informações, o sistema já saberá se a pessoa viajou de avião ou não no último ano.


Quando encontrar uma passagem que deseja, o aposentado será redirecionado pelo portal para o site da própria companhia aérea, já na parte para finalizar a compra.


Essa foi uma forma encontrada para dar mais segurança e evitar que essas pessoas sejam vítimas de golpes.


Atualmente, há mais de 23 milhões de aposentados no Brasil. O governo chegou a pensar em limitar o programa a quem recebesse até dois salários mínimos. Mas cerca de 85% dos aposentados já estão dentro desse critério.


Acordo com companhias


Não haverá gasto de dinheiro do Orçamento federal para reduzir o custo das passagens para quem comprar pelo Voa Brasil. O trabalho do governo foi costurar com as companhias áreas um acordo para que ofereçam os bilhetes a esse preço para quem não viajou nos últimos 12 meses.


O argumento do governo é que essas pessoas vão ocupar vagas ociosas nos aviões.


Segundo dados levantados por auxiliares do presidente Lula, a aviação civil movimentou aproximadamente 112 milhões de passageiros no ano passado. Desse total, cerca de 12% (mais de 13 milhões) das passagens foram vendidas por até R$ 200.


A expectativa é que os 3 milhões de bilhetes do Voa Brasil façam essa fatia crescer, pois as empresas aéreas ocupariam os lugares vazios nos aviões com aposentados que não costumam viajar.


Atraso


O Voa Brasil foi anunciado em março de 2023 pelo então ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, que deixou a pasta sem lançar o programa. Silvio Costa Filho assumiu o ministério em setembro e, em dezembro, disse que a iniciativa só sairia do papel em 2024.


França assumiu, no início deste ano, o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.


O Voa Brasil vem sendo discutido pelo governo desde o ano passado, mas ainda não saiu do papel. O assunto voltou a ser tratado entre o Ministério de Portos e Aeroportos e a Casa Civil nos últimos dias. A expectativa é que, após o aval de Lula, o programa seja lançado e comece a funcionar logo em seguida – talvez até no mesmo dia.


Fonte: Agenda do Poder com informações do g1.