Material sensível não foi apagado pelo ex-chefe da Abin depois da mudança de aparelho
O colunista Leonardo Sakamoto, do portal UOL afirma em sua coluna que Alexandre Ramagem não apagou o “grampo” da reunião com Bolsonaro em que debateram as “rachadinhas” no gabinete de Flávio mesmo após trocar de celular.
A investigação da Polícia Federal indica que o então diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem, manteve a gravação em que ele, Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno e duas advogadas discutem como ajudar o senador Flávio Bolsonaro, investigado por suposto desvio de recursos públicos, mesmo após trocar de celular.
A reunião ocorreu em agosto de 2020, no Palácio do Planalto, com o ex-presidente e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas o arquivo de áudio foi encontrado pela Polícia Federal em um celular iPhone 15 Pro Max em posse de Ramagem. Segundo o site da Apple, esse aparelho e modelo (A3106) só chegou às lojas no final de setembro de 2023.
O hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio pelo PL afirmou, nesta segunda (15), que a gravação ocorreu porque imaginava-se que uma outra pessoa participaria da reunião para fazer uma proposta indecorosa a Bolsonaro. Ou seja, seria uma gravação de segurança.
“Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente. A gravação aconteceu porque veio uma informação de uma pessoa que viria na reunião, que teria contato com o governador do Rio à época [Wilson Witzel], que poderia vir com uma proposta nada republicana. A gravação seria para registrar um crime contra o presidente da República, só que isso não aconteceu. A gravação foi descartada”, disse nesta segunda (15), após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, levantar o sigilo sobre o áudio.
Porém, a gravação não foi descartada. Pelo contrário, foi mantida e repassada para um novo aparelho que estava em sua posse. E ela não poderia ter sido feita no celular em que foi encontrada pela PF porque, como dito acima, o iPhone 15 Pro Max nem existia na época.
A Apple permite a migração total do conteúdo de celulares antigos para novos a fim de facilitar a troca de aparelhos, incluindo arquivos de áudio. Isso, contudo, não explica o porquê uma pessoa que chefiou a agência de inteligência do governo ter mantido em um novo celular material sensível de uma reunião com o presidente da República que ele mesmo diz que foi descartado.
Ramagem foi diretor-geral da Abin entre julho de 2019 e abril de 2022, quando ele deixou o cargo para concorrer a deputado federal. O celular em que estava a gravação só foi lançado um ano e cinco meses após ele se desligar da agência.
Ele diz que Bolsonaro sabia que estava sendo gravado, o que é contestado por pessoas próximas do presidente que afirmam que Jair ficou contrariado ao descobrir que a conversa tinha sido registrada.
No áudio, uma de suas declarações sugere que ele não sabia que as suas palavras estavam ficando para posteridade quando disse “a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa”. O então ministro Augusto Heleno também demonstrou preocupação com um possível vazamento da conversa.
Fonte: Agenda do Poder com informações do UOL