terça-feira, 9 de julho de 2024

Site de extrema-direita pede assassinato de políticos de esquerda após derrota na França


Franceses comemoram derrota da extrema-direita nas eleições legislativas — Foto: Emmanuel Dunand/AFP

 Após a derrota dos ultraconservadores nas eleições legislativas na França, um site de extrema-direita lançou uma chamada perturbadora, incitando ataques contra políticos de esquerda e incentivando ataques contra advogados, jornalistas e ativistas. A publicação detalha métodos potenciais, como armas de fogo, facas, bestas e até mesmo o cabo de uma picareta, conforme informações do colunista Jamil Chade, do UOL.

No último fim de semana, a coalizão de partidos de esquerda surpreendeu ao conquistar o primeiro lugar na eleição legislativa, impedindo que o movimento de extrema-direita Reunião Nacional alcançasse o poder na França.

No site Reseau Libre, quatro políticos de esquerda foram marcados como alvos: os deputados Manuel Bompard, Alexis Corbière, Rachel Keke e o senador comunista Ian Brossat, além de um advogado envolvido na defesa contra violência policial, cujos endereços foram divulgados para justificar potenciais ataques. As vítimas anunciaram medidas legais contra essas ameaças.

Durante a campanha eleitoral, ocorreram incidentes de violência e ataques contra pelo menos 51 políticos e suas equipes. O mesmo site já havia sido alvo da justiça por listar 98 advogados que deveriam ser “eliminados” na semana anterior.

Uma queixa formal foi apresentada contra o grupo, fundado em 2015 e registrado na Rússia, cujo líder é um militante de extrema-direita residente na Rússia e procurado pela França por suspeitas que incluem planos de ataques contra muçulmanos no país.

Site de extrema direita pede assassinato de políticos de esquerda na FrançaManifestantes em Paris comemoram resultado das eleições legislativas na França. Foto: Emmanuel Dunand/AFP

Na segunda-feira seguinte à derrota da extrema-direita nas urnas, um artigo assinado por um indivíduo identificado como Leon no site discutiu as opções que o grupo enfrenta, incluindo a possibilidade de adotar “métodos restantes” para controlar o que descrevem como “idiotas”.

“Ou tomamos nota e decidimos deixar que isso aconteça, contentando-nos em proteger os nossos, ou decidimos colocar essa manada de idiotas sob controle usando os únicos métodos que nos restam, que eu deixo para vocês imaginarem”, afirmou.

O autor mencionou também opções como “ataques gerais não direcionados”, apesar de rejeitar qualquer associação, e expressou um desejo de que jihadistas cometam atos semelhantes ao do Bataclan para punir os franceses que apoiam a imigração.

Ele ainda sugere um terceiro caminho: “Proteja-se e proteja sua família, MAS ataque regularmente não apenas alvos aleatórios entre os 95% de idiotas, mas alvos que aceitem seu status de inimigo”, incluindo advogados, jornalistas, ativistas comunitários e políticos de segunda linha.

Fonte: DCM

Lula se encontra com Luis Arce e não descarta conversa com Morales, hoje na Bolívia pós-golpe

 Reunião com Morales ainda não foi confirmada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma série de agendas nesta terça-feira na Bolívia, após uma tentativa de golpe militar fracassada no país.


Lula não descarta conversar com o ex-presidente Evo Morales, inclusive por telefone, embora essa reunião ainda não esteja prevista. Na cidade de Santa Cruz de la Sierra, Lula tem reuniões com o atual presidente boliviano, Luis Arce, principal adversário de Morales.


Em declaração a jornalistas após a cúpula de líderes do Mercosul, no Paraguai, na segunda-feira, Lula afirmou que está “à disposição” para uma conversa com Morales, mesmo que por telefonema. Conforme o GLOBO mostrou, interlocutores do governo brasileiro informaram que lideranças de outros países pediram a Lula que ajude a pacificar a relação entre Morales e Arce, ambos do Movimento ao Socialismo (MAS).


No dia 30 de junho, Morales acusou Arce de ter mentido ao dizer que fora vítima de um fracassado golpe na semana anterior. Em poucas horas, os articuladores do movimento golpista, liderados pelo comandante destituído do Exército, general Juan José Zúñiga, foram presos.


Após a reunião do Mercosul, na segunda-feira, Lula disse que ficou “muito feliz” pela tentativa de golpe no país ter fracassado:


— Minha ida a Santa Cruz de la Sierra é um voto de confiança. Estou muito feliz que o golpe não deu certo na Bolívia e vamos aguardar que o processo eleitoral defina o presidente da República.


A Bolívia passa por uma situação econômica difícil. Na visita de Lula, também serão discutidos acordos nas áreas de gás natural, energia, infraestrutura, saúde e o combate ao tráfico de pessoas.


Arce e Lula participarão, ainda, de um encontro empresarial e outro com movimentos sociais. O presidente da Bolívia esteve quatro vezes no Brasil em 2023. O país tem a fronteira mais extensa com o território brasileiro — mais de 3,4 mil quilômetros.


Fonte: Agenda do Poder com informações de O Globo

Ideia de que Brasil ia ao abismo pela alta do dólar é exagerada, diz Trabuco, presidente do Conselho de Administração do Bradesco

 Galípolo é melhor opção para uma transição técnica e tranquila no BC, avalia

Após o recuo na disparada do dólar no Brasil, o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, diz à Folha que a interpretação de que o Brasil estava se encaminhando para a beira do abismo é exagerada.


“Depois de muito tempo, a alta do dólar voltou ao centro do noticiário como símbolo do risco de uma crise. Não é verdade. Como falar em crise num país com fundamentos positivos como o crescimento na faixa de 2% ao ano, desemprego em queda, recuperação da renda, inflação dentro da meta e balança comercial robusta?”, avalia.


Segundo Trabuco, a alta recente da cotação do dólar frente ao real estava acompanhada dessa narrativa do abismo.


“O fato é que ninguém ganha ao esticar a corda. O mercado amplia o seu próprio risco assumindo posições de compra alavancadas. E o governo perde capacidade operacional e política para a construção de sua agenda”, afirma.


Na sua avaliação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad encontrou espaço político para consolidar o compromisso do ajuste fiscal no governo. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afiançou a política econômica do governo e o compromisso explícito com o ajuste fiscal.


“Esse posicionamento foi bem recebido pelo mercado, que deu sinais concretos de confiança na disposição. Esse é o principal saldo das duas semanas de crise no mercado cambial”, diz.


Para Trabuco, a indicação do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, para comandar a instituição, uma vez confirmada, seria a melhor opção para uma “transição técnica, tranquila e serena” na presidência da autoridade monetária.


O presidente do Conselho de Administração do Bradesco considera que Galípolo será o nome adequado para essa travessia no atual momento desafiador.


“Galípolo fez um excelente trabalho no Ministério da Fazenda, e tem um desempenho consistente no comando da política monetária do País. Será, portanto, uma troca sensata, que tem como lastro a credibilidade e a tempestividade”, diz.


O diagnóstico do executivo do Bradesco é que a origem fundamental da alta do dólar é a mudança do juro dos Estados Unidos.


“Todos os analistas previam que o Fed [Banco Central dos Estados Unidos] iria reduzir o juro em março ou junho. Mas isso mudou. Nessa semana, a possibilidade é o início dos cortes em setembro. Há uma incerteza relevante e isso gera volatilidade nos ativos em todo o mundo”, ressalta.


Trabuco destaca que o canal de contaminação dessa incerteza se dá no Brasil pela bolsa, dólar e mercado futuro de juros, que opera alinhado ao movimento dos juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.


Ele pondera que a questão fiscal é preocupante e importante “como sempre”, mas que não há novidade a ponto de justificar a alta acelerada do dólar.


“Foram poucas as ocasiões nas quais o mercado entendeu a questão fiscal como resolvida. O fiscal é um desafio permanente”, diz.


Trabuco ressalta que o regime cambial do Brasil é o mercado flutuante, pelo qual a cotação do dólar se orienta pelo fluxo de entradas e saídas da moeda. Ele cita que o fluxo atual é positivo, com a força do comércio exterior e os investimentos na renda fixa e em empreendimentos.


A sua leitura é que um dos fatores para a volatilidade do dólar foi a decisão do Banco Central de não sinalizar uma atuação no mercado de câmbio.


Fonte: Agenda do Poder com informações de entrevista à Folha de São Paulo

PF diz que Bolsonaro mentiu sobre ter guardado joias em fazenda de Nelson Piquet no Brasil

 Kit que estaria em propriedade do ex-piloto de F1 foi desviado para os EUA, e investigadores vêem tentativa de acobertar operação para leiloar itens


O relatório da Polícia Federal (PF) que indiciou Jair Bolsonaro e outros 11 aliados pelo caso das joias revela que o ex-presidente mentiu aos investigadores sobre ter mantido um dos kits presenteados pelo governo da Arábia Saudita em uma fazenda do ex-piloto de F1 Nelson Piquet. O objetivo, para a PF, foi acobertar o envio dos itens de luxo para os Estados Unidos com o objetivo de leiloá-los, informa a colunista Malu Gaspar, do jornal O GLOBO.


Em depoimento no dia 5 de abril de 2023, em Brasília, Bolsonaro declarou nunca ter ficado em posse das joias e que, ao deixar o Brasil no final de seu mandato para não entregar a faixa presidencial para Lula, não levou os itens em questão para os EUA.


O ex-presidente alegou que o kit da grife Chopard, composto por uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um masbaha (espécie de rosário árabe) e um relógio, foi encaminhado ao seu acervo presidencial armazenado em uma fazenda de Piquet no Lago Sul, área nobre da capital federal.


O ex-piloto é próximo de Bolsonaro e foi o maior doador da campanha do então presidente e candidato à reeleição entre as pessoas físicas após repassar a cifra de R$ 501 mil.


Mas, conforme a PF conseguiu comprovar ao longo das apurações, o kit ouro rosé foi levado para a Flórida a bordo do avião presidencial. Já em solo americano, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid levou os itens pessoalmente à sede da Fortuna Action House, empresa especializada em leilões de joias, em Nova York. Elas foram submetidas a leilão em fevereiro do ano passado, mas não foram arrematadas.


Ainda segundo o relatório, o kit foi desviado do acervo presidencial com a ajuda do então chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República, Marcelo Vieira, um dos 11 aliados de Bolsonaro indiciados pela PF.


Os itens entraram no Brasil sem sobressaltos, ao contrário do primeiro kit feminino da Chopard revelado pelo jornal Estado de S. Paulo, que foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) no retorno da comitiva presidencial ao Brasil de um périplo pelo Oriente Médio que incluiu a Arábia Saudita em outubro de 2021.


Os bens estavam na mochila de um assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Já o kit ouro rose passou incógnito na bagagem de Albuquerque.


Após a divulgação da existência do segundo kit e a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para que fossem devolvidas ao poder público, Bolsonaro e aliados orquestraram uma força-tarefa para retomar as joias nos Estados Unidos.


“Operação clandestina”


O plano, chamado de “operação clandestina” no relatório, tinha o objetivo de “não levantar a suspeita que os bens, na verdade, estavam no exterior” – e contradiz frontalmente a versão apresentada por Bolsonaro de que as joias estavam na fazenda de Nelson Piquet.


Uma vez recuperada pessoalmente por Cid na sede da Fortune, as joias foram levadas para a Flórida, estado americano onde Bolsonaro se instalou após deixar o Brasil e onde vivia o pai do tenente-coronel, o general Mauro Lourena Cid, na época lotado em um escritório da Apex em Miami.


O kit só viria a ser devolvido em 4 de abril de 2023, na véspera do depoimento do ex-presidente à PF na qual negou de forma veemente que os bens tenham sido levados para os EUA.


As tratativas para a retomada dos bens foram discutidas por Mauro Cid e o coronel da reserva Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, em diálogos no WhatsApp. Alguns dos diálogos deixam claro que a dupla tinha ciência da irregularidade das transações envolvendo as joias no exterior.


Em 13 de fevereiro de 2023, Câmara enviou um áudio para Cid relatando uma conversa com Marcelo Vieira, então chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência.


“Eu perguntei para o Marcelo [Vieira,]. Marcelo me explicou o seguinte: apesar de ser um presente personalíssimo, ele [Bolsonaro] pode fazer o que quiser. Mas se for pra [vender] no Brasil, pra brasileiro, alguma coisa, doar, vender, dar de presente… Qualquer coisa não tem problema nenhum. Não precisaria avisar. Mas como é no exterior, obrigatoriamente eu tenho que avisar. Então, para não gerar problema, melhor voltar. E aí, em uma outra oportunidade, pode leiloar, mas só que no Brasil mesmo, ok?”, disse Marcelo Câmara.


“Fechado. Só dá pena porque estamos falando de 120 mil dólares”, respondeu Cid, por escrito, emendando com gargalhadas.


O argumento de Vieira relatado por Marcelo Câmara, porém, não encontra amparo na jurisprudência do TCU – que determinou a custódia dos bens pela União e não reconheceu as joias como “itens personalíssimos”, que é a exceção prevista para presentes que podem ser mantidos por presidentes da República após o término do mandato.


Um terceiro kit, composto por um relógio Rolex, uma caneta Chopard, um par de abotoaduras, um anel e um masbaha, também foi omitido da Justiça por Bolsonaro. A venda do relógio em uma loja na Pensilvânia, nos EUA, levou a uma força-tarefa para recuperar a joia, que acabou recomprada por Frederick Wassef, um dos advogados de Bolsonaro.


Este conjunto, porém, havia sido presenteado ao então presidente em outro roteiro pelo Oriente Médio, em outubro de 2019, com passagens de Bolsonaro pelo Catar e a Arábia Saudita.


Em nota divulgada à imprensa, a defesa de Bolsonaro afirmou que o ex-presidente “em momento algum pretendeu se locupletar ou ter para si bens” que pudessem ser considerados públicos.


Os advogados de Bolsonaro também sustentam que o caso não deveria tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a relatoria de Alexandre de Moraes, e sim na Justiça de Guarulhos, como defendeu a gestão de Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República (PGR). A posição da PGR, no entanto, foi revista depois.


A defesa ainda manifestou “completa indignação” com a informação do relatório da PF de que o ex-presidente teria tentado beneficiar-se de bens cujos valores alcançariam R$ 25 milhões, um número que “somente após enorme e danosa repercussão midiática foi retificado pela Polícia Federal”.


Após a correção, a PF informou que o esquema desviou bens que somam R$ 6,8 milhões.


Fonte:Agenda do Poder com informações da coluna da Malu Gaspar no jornal O Globo

Presidente do IBGE quer lei para garantir "soberania de dados" no país

 

Objetivo é criar Sistema Nacional de Geociência, Estatísticas e Dados

Marcio Pochmann (Foto: Pedro França/Agência Senado)

Por Luiz Claudio Ferreira, repórter da Agência Brasil - O presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Márcio Pochmann, planeja para o final deste mês dar o primeiro passo para um projeto de lei que garanta a soberania dos dados no país. Na prática, ele quer criar o Sistema Nacional de Geociência, Estatísticas e Dados (Singed), tanto para integrar cadastros dos mais variados setores (como saúde, educação e benefícios sociais), como também ter acesso e controlar informações que atualmente somente as gigantes de tecnologia possuem (conhecidas como big techs).

As discussões sobre o projeto devem ocorrer de 29 de julho a 2 de agosto, durante a Conferência Nacional dos Agentes, Produtores e Usuários de Dados. Em entrevista à Agência Brasil, Pochmann, que recebeu a equipe na sede do IBGE em Brasília, diz que espera que o sistema esteja implementado até 2026. Essa efetivação da proposta, segundo o economista, reduziria custos ao país, além de proporcionar possibilidades de mais planejamento tanto ao setor público quanto privado. Confira abaixo a entrevista.

Agência Brasil -  O senhor pretende que exista um sistema para garantir a soberania dos dados dos brasileiros? O que é isso?

Márcio Pochmann - Nós partimos do entendimento de que o Brasil vive a terceira dimensão da soberania. Há 200 anos, o tema da soberania era de natureza política. O Brasil era uma colônia e a independência nacional foi aquele procedimento que permitiu que as decisões passassem a ser tomadas internamente, feitas por brasileiros. 

Praticamente 100 anos depois, no início do século 20, emergiu a questão da soberania econômica. As decisões econômicas dependiam dos importadores dos produtos brasileiros. Nós não produzíamos para atender o mercado interno, mas sim para o mercado externo. Então, essa produção era determinada, em geral, pelas condições externas.

Nesse início do século 21, a questão que emerge é justamente a soberania de dados, porque, na realidade, pela transformação digital, os nossos dados pessoais e também de empresas e instituições passaram a servir de modelo de negócio para um oligopólio mundial que controla esses dados pessoais, individuais e utiliza, de acordo com os seus interesses, que não são interesses necessariamente nacionais. 

O Brasil tem hoje uma diversidade de dados muito importante, mas são dados setoriais que não são cruzados. Há metodologias diferentes porque foram construídos com objetivos específicos. A ideia que nós estamos trabalhando é a de recolocar o tema da coordenação dos dados oficiais do Brasil interconectando esses diferentes bancos de dados, registros administrativos, que permitiria aos gestores públicos e à sociedade conhecer melhor a realidade a partir do território. Essa é a ideia do IBGE: voltar a ser o grande coordenador das informações estatísticas, dos dados oficiais. 

Agência Brasil - Integrar dados reduz custos também, certo?

Márcio Pochmann - Sim. Isso reduziria custos porque há uma fragmentação de bancos de dados, e daria agilidade para quem toma decisão, seja no setor público ou no setor privado. 
Ao mesmo tempo, com a construção dessa coordenação a gente teria o que denominamos como Sistema Nacional de Geociência, Estatísticas e Dados (o Singed). 

Seria, então, não apenas a integração dessas informações já existentes em bancos de dados oficiais, mas também informações a que hoje não temos acesso, que são as pessoais a partir das redes sociais.

Por isso, a gente entrou em contato com o sistema de telefonia brasileira, com o objetivo de fazer essa aproximação. O Brasil constituiria um sistema que teria essa gama de informações e dados que a era digital possibilita. 

Agência Brasil - De que forma pode ser gerado um projeto de lei?

Márcio Pochmann - Teremos agora, do dia 29 de julho a 2 de agosto, a Conferência Nacional dos Agentes, Produtores e Usuários de Dados. Ou seja, um encontro do IBGE com a comunidade acadêmica, científica e ofertante de dados públicos e privados, com a ideia de dialogar a respeito desse sistema.

Se a gente tiver sucesso nessa convergência, a ideia é que se possa oferecer ao Parlamento a possibilidade de ter um projeto de lei. 

Essa é a questão formal que precisamos buscar. Nós temos dialogado tanto com o Legislativo quanto com o Poder Executivo para ver a melhor maneira de que isso possa ser uma discussão dentro do próprio Parlamento. Esperamos que, no segundo semestre, possamos ter novidade nesse sentido. Uma vez concluída a conferência, a gente vai ver qual o melhor instrumento para trabalhar o projeto.

Agência Brasil - Outros países também estão caminhando nesse sentido?

Márcio Pochmann - A própria ONU também está nesse movimento. Eles têm também diversos bancos de dados. Tem o banco de dados do Banco Mundial, tem do FMI, tem da Unesco, Unicef. Eles têm que ter uma fragmentação. E isso pode ser integrado num banco de dados que permitiria o diálogo entre as diferentes informações.

Agência Brasil - O senhor entende que os países em desenvolvimento estão mais vulneráveis a esse oligopólio das grandes corporações?

Márcio Pochmann - Há um processo de subdesenvolvimento que decorre dessa efervescência que a era digital permite. O que acontece é que o IBGE leva dez anos para fazer um censo. Depois, leva um ou dois anos para posicionar todos os dados e disponibilizar, enquanto que hoje a política de privacidade das grandes big data, para se ter acesso às redes sociais, é preciso aceitar a política de privacidade. E aceitar significa dizer que os seus dados não lhe pertencem. 

Então são dados brutos de decisões que foram feitas em relação à escolha de um determinado aplicativo para se deslocar, as compras realizadas, as formas de pagamento, músicas que a pessoa ouve.

São dados brutos, mas que essas grandes corporações têm condições de trabalhar por meio de uma sofisticação de algoritmos ou mesmo inteligência artificial. A partir desse processamento, transforma-se em um modelo de negócio. 

Mas o que eu entendo, na verdade, em relação às informações, é que o IBGE faz um censo (a cada dez anos), enquanto que as big techs fazem um censo diário.

Agência Brasil - E são empresas que não estão aqui no Brasil.

Márcio Pochmann - Essas grandes corporações praticamente não têm os seus bancos de dados no Brasil. Elas praticamente não empregam ninguém, não pagam tributos. Ao mesmo tempo, esses dados brutos depois voltam na forma de um modelo de negócios, de alta lucratividade. 

Das dez maiores empresas que operam na Bolsa de Valores dos Estados Unidos, sete são essas de tecnologia. Há maior regulação em geral nos países do Hemisfério Norte. No Sul Global, ainda estão faltando iniciativas nesse sentido. Isso é, inclusive, algo que a gente tem discutido no âmbito do Brics (parceria entre economias emergentes do mundo, da qual o Brasil faz parte), uma proposta de organização em bases mais civilizadas.

Agência Brasil - Quais são, na sua avaliação, os dados em que estamos mais vulneráveis e que essas empresas têm acesso?

Márcio Pochmann - Para começar, a cada dia, essas empresas têm uma espécie de censo do país. Elas têm todos que usaram internet, as decisões de compras que fizeram, para onde viajaram, ou seja, informações absolutamente necessárias para quem quer fazer planejamento. 

Por exemplo, agora, durante a tragédia no Rio Grande do Sul, quantas pessoas foram atingidas, o que elas fizeram e como se deslocaram? É possível saber isso pelo movimento do celular. 
É um prejuízo para o país porque não dispõe dessas informações que permitiriam atuar de forma mais rápida diante de circunstâncias pelas quais ainda operamos de forma analógica e não digital. 

Por outro lado, a questão que se coloca é que você tem hoje empresas estrangeiras sabendo mais do país do que os próprios governantes. Essas empresas têm interesses econômicos. Essa questão da soberania é fundamental. Eu diria assim, do ponto de vista da autonomia, de quem governa o país.

Agência Brasil - Pelo sistema prever algum tipo de controle também, o projeto não pode ser criticado em relação a isso?

Márcio Pochmann -  No nosso caso, o que a gente tem a dizer é que o IBGE opera com a Lei de Sigilo. Nós vamos às casas dos brasileiros, a 90 milhões de residências e ninguém tem acesso às informações nomeadas.

O acesso que pretendemos ter é desnomeado. Não será possível identificar quem são as pessoas que estão usando o celular, por exemplo. 

Essa é uma regra básica para poder trabalhar as informações do ponto de vista estatístico. A ideia do controle é muito mais, na verdade, do entendimento da sustentação democrática. O que acontece é que o uso do algoritmo foi comprovado em situações anteriores, inclusive no uso eleitoral.

Agência Brasil - Os dados podem ter benefícios para o sistema público e privado também, correto?

Márcio Pochmann - Veja um caso simples: os estrangeiros vêm para o Brasil acompanhando pelos chips do telefone. É possível saber onde embarcaram e para que cidades vão. Tudo isso, do ponto de vista da organização de uma política de turismo, é muito mais eficiente nesse sentido. 

Você acompanhar também o deslocamento das pessoas: em que velocidade, em que quantidade, quais os horários. São informações que, obviamente, para quem está à frente de tomar decisão, podem ser absolutamente fundamentais, seja no setor público, seja no privado.

Onde é que vai localizar uma loja? Onde tem fluxo de pessoas? São informações que, para o setor privado, certamente ajudariam em relação às atitudes a tomar. Isso não significa expor pessoas porque há o sigilo estatístico.

Agência Brasil - E esse sistema ficaria sob coordenação do IBGE?

Márcio Pochmann - Isso.  É a instituição que tem credibilidade que vai à casa das pessoas. As pessoas informam porque acreditam que aquelas informações não serão publicizadas. 

A gente não tem a mesma segurança com essas empresas privadas. Há casos já divulgados no Brasil de uma rede que oferece um produto mais barato e o cidadão tem que dar o CPF. Depois, teria havido a venda desses cadastros. Não é o caso do IBGE. Não temos nenhuma denúncia nesse sentido.

Agência Brasil - O senhor entende que estamos em prejuízo financeiro para o nosso país em relação a isso?

Márcio Pochmann  - Sim, porque tem uma transferência de valores, a gente paga royalties. No caso da coordenação desse novo sistema nacional de geociência, seriam reduzidos custos porque você tem hoje uma diversidade de bancos de dados, inclusive empresas privadas que operam esse sistema. O que estamos pretendendo é algo que permitiria uma redução de custos considerável.

Agência Brasil - O senhor tem ideia de quanto tempo será preciso para implementação desse sistema?

Márcio Pochmann - Esperamos ter o sistema em 2026, quando o IBGE completará 90 anos.

Fonte: Brasil 247