Em um esforço desesperado para escapar da Justiça brasileira,
investigados e condenados pelo ataque golpista de 8 de Janeiro utilizaram rotas
fluviais e terrestres, incluindo longos deslocamentos a pé, para buscar abrigo
em países vizinhos, especialmente na Argentina. A Polícia Federal estima que
cerca de 180 pessoas envolvidas na ação antidemocrática ainda estão foragidas.
Rosana Maciel Gomes, empresária de 51 anos, percorreu
quase três mil quilômetros em busca de refúgio. Presa dentro do Palácio do
Planalto na tarde da invasão às sedes dos três Poderes, em Brasília, Rosana foi
encontrada com diversas fotos da depredação no celular, indicando sua intenção
de promover um golpe de Estado.
Condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de
13 anos de prisão por crimes como dano qualificado e associação criminosa, ela
danificou a tornozeleira eletrônica e fugiu de Goiânia com sua família. Rosana
se deslocou até Santana do Livramento (RS), na fronteira com o Uruguai, cruzou
para Montevidéu e depois, via Rio da Prata, chegou a Buenos Aires.
Na Argentina, ela solicitou refúgio à Comissão Nacional
para os Refugiados (Conare), buscando garantir permanência provisória, com
autorização para moradia, trabalho, estudo e acesso a serviços públicos. Além
da Argentina, Uruguai, Paraguai e Peru também foram destinos dos investigados.
Pelo menos 61 pessoas seguiram o exemplo de Rosana e acionaram o Conare.
Atos golpistas de bolsonaristas. Foto: Divulgação
A Argentina, sob a presidência de Javier Milei, aliado de Jair
Bolsonaro, passou a ser vista como um país mais seguro para a permanência
desses indivíduos. Parlamentares bolsonaristas, como Eduardo Bolsonaro e
Hamilton Mourão, já se manifestaram a favor de “asilo político” para os
fugitivos.
A cabeleireira Alethea Verusca Soares, de 49 anos,
também utilizou um barco para sair do Uruguai e chegar à Argentina. Condenada a
16 anos de prisão por depredações nas sedes dos três Poderes, Alethea teve um
pedido de inclusão na lista da Interpol encaminhado pela PGR ao STF. Apesar das
medidas cautelares impostas, ela descumpriu as regras e fugiu do país, alegando
perseguição política.
Entre as rotas utilizadas pelos foragidos, a travessia
de ferry boat entre Montevidéu e Buenos Aires é uma das mais comuns. Passagens
para esse trajeto estão disponíveis na internet por cerca de R$ 500. Outros,
como Letícia Santos Lima, de 31 anos, fugiram via Taubaté para o Paraguai,
utilizando balsas para atravessar rios e chegar à Argentina.
Atualmente, a Polícia Federal compila informações
coletadas por meio de cooperação internacional para identificar o destino dos
foragidos e solicitar sua prisão para extradição. No entanto, a análise dos
pedidos de refúgio pelo governo Milei pode dificultar a extradição,
especialmente se for configurado que se tratam de perseguidos políticos.
Fonte: DCM