Expectativa sobre placar na reunião é
grande e há receio de novo racha
Na véspera de uma das decisões mais importantes do Comitê de
Política Monetária (Copom) este ano, o presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, retomou sua ofensiva nesta
terça-feira, 18, contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto
Campos Neto. Em entrevista à Rádio CBN, Lula disse que o chefe da
autoridade monetária não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e
trabalha para prejudicar o País.
Segundo economistas ouvidos pelo Estadão, as
falas de Lula devem ter pouco efeito sobre o resultado do Copom desta
quarta-feira, 19, já que cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro são
considerados mais vigilantes com a inflação (hawkish) e podem sozinhos formar
maioria entre os nove membros. A aposta majoritária do mercado financeiro é
pela interrupção dos cortes, com a manutenção da taxa básica de juros (Selic)
em 10,50% ao ano.
A dúvida, no entanto, é se as
declarações terão influência sobre os quatro diretores indicados por Lula, que
poderiam abrir divergência pela continuidade dos cortes. Isso porque, do ponto
de vista do mercado financeiro, mais importante do que a parada ou esse corte
adicional é que a decisão seja unânime – depois da forte divisão da
reunião de maio. Na ocasião, cinco diretores herdados do
governo anterior votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto, enquanto os
quatro indicados por Lula votaram pela queda maior, de 0,5 ponto.
Ainda assim, na visão do mercado, o
custo reputacional para esses diretores seria grande, e o resultado seria uma
forte piora das expectativas de inflação – dificultando ainda mais o trabalho
do BC, a partir do ano que vem, quando Lula indicará o próximo presidente da
autarquia e mais dois diretores.
O economista Luis Otávio Leal,
especialista em inflação e sócio da G5 Partners, entende que a entrevista do
presidente Lula foi negativa, mas não vê capacidade de impacto na decisão do
Copom. “Sem dúvida foi ruim, mas não acho que deve influenciar o Copom de
amanhã. Continuo com a minha visão de que vão tentar uma unanimidade”, afirmou.
Sérgio Goldenstein, da Warren
Investimentos, também aposta em unanimidade na decisão, pois avalia que o Copom
dará um “tiro no pé” caso se sujeite a pressões políticas. “Seria uma mega tiro
no pé o Copom se sujeitar a pressões políticas num momento de aumento da
desconfiança acerca da condução da política monetária a partir de 2025 e de
maior desancoragem das expectativas de inflação”, afirmou.
O resultado seria uma piora das
expectativas, o que levaria a um aumento da curva de juros, com aperto das
condições financeiras e impacto sobre a economia real.
Eduardo Velho, da JF Trust
Investimentos, entende que a fala de Lula manterá um viés ruim para a curva
futura de juros, porque permanecerá a dúvida sobre o perfil do presidente do
Banco Central que irá tomar posse a partir de janeiro do ano que vem. “Infelizmente,
a entrevista do Lula é ruim para manter um viés de stress, mas sobretudo de
desconfiança com a gestão dos juros para 2025.”
Ele entende, contudo, que uma decisão
unânime pode reforçar o viés independente dos quatro diretores, com efeito
positivo sobre a curva de juros.
“Se Galípolo e os demais da nova parte
da diretoria do Bacen votarem a favor de manter a Selic em 10,50%, não teria
apenas efeitos imediatos de recuo dos juros futuros na quinta-feira pela manhã
e ganho reputacional pelo Bacen, mas também, apontaria que a chance de essa
pressão política do Palácio do Planalto e da base do PT perderia um pouco o
peso na formação dos preços dos mercados”, afirmou.
Pressão
sobre indicados por Lula
Sérgio Vale, economista-chefe da MB
Associados, ainda aposta que a decisão será unânime, mas entende que aumentou a
probabilidade de os votos terem divergência, após a fala do presidente.
“Ainda acho que deve ser consenso, mas
abriu bastante novamente a possibilidade de divergência. Não estranharia em
nada se os escolhidos pelo governo desde o ano passado optassem por uma queda
de 0,25 ponto percentual. Mas vai ser difícil justificar isso”, afirmou.
Como mostrou o Estadão, a
reunião do Copom representará um dilema para o diretor de política monetária
Gabriel Galípolo. Ele é o principal cotado para assumir a presidência do Banco,
no início do ano que vem.
Se votar como Campos Neto na decisão
desta quarta-feira, passará confiança, o que ajudará a reduzir as expectativas
de inflação. Por outro lado, pode desagradar o presidente Lula e também
integrantes do PT – o que colocaria as indicações para a presidência sob risco.
Na entrevista à CBN, Lula falou que o “(próximo) presidente do BC será uma
pessoa madura, responsável, com respeito pelo cargo que exerce e que não se
submeta à pressão do mercado”.
Ao Estadão/Broadcast, o
ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore & Associados Alexandre
Schwartsman afirmou que vê um aumento
marginal na chance de uma nova decisão dividida do Copom, aumentando a pressão
sobre Galípolo. “Acho que fica mais delicada a situação de um
cara como o Galípolo, que imagino que esteja se encaminhando para votar com o
consenso”, afirmou.
Fonte: Agenda do Poder com informações do jornal Estado de São
Paulo, Estadão