Sigilo da delação foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes em resposta às publicações jornalísticas que divulgavam informações fragmentadas sobre os depoimentos do réu
Em uma delação premiada reveladora, o ex-policial Ronnie Lessa,
réu confesso da morte da ex-vereadoa Marielle Franco e de seu motorista
Anderson Gomes, detalhou sua participação no assassinato em março de 2018.
Lessa, que nega ser um assassino de aluguel, afirmou que aceitou cometer o
crime para se tornar sócio da família Brazão em uma milícia. "Eu não fui
contratado para matar. Eu não sou um matador de aluguel. Eu fui contratado para
ser sócio e para ocupar a área", declarou em vídeo obtido pela Folha de S.
Paulo.
Lessa explicou que seu papel na organização seria
facilitar o trânsito dentro das polícias Civil e Militar, corporações nas quais
trabalhou por mais de dez anos. Segundo ele, o convite para realizar o crime
veio de Domingos e Chiquinho Brazão.
A investigação sobre a morte de Marielle Franco comprovou que
Lessa consultou dados de diversas autoridades, pesquisadores e artistas
envolvidos na defesa e garantia dos direitos humanos. A lista, apresentada pela
empresa CCFácil ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), mostra
consultas realizadas entre 2006 e 2018 pelo ex-PM. Esta apuração serviu como
uma das provas cabais da participação de Lessa no crime, uma vez que, dois dias
antes da execução de Marielle, ele consultou seu nome na plataforma.
Outro apontamento que chamou a atenção das autoridades é
que, em 7 de abril de 2015, Lessa pesquisou os dados do ministro Paulo Pimenta
(PT), então deputado federal. Um dia antes, Pimenta havia visitado o Complexo
do Alemão acompanhado de Marielle para ouvir os moradores sobre as UPPs
(Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas no local. Na época, o ministro
era presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
A lista de consultas de Lessa foi solicitada pelo MP-RJ à
CCFácil apenas em 2021. Durante a investigação, os investigadores notaram que,
entre os papéis apreendidos na casa do ex-PM na data de sua prisão, havia
anotações de login e senha para a plataforma. O documento foi o primeiro a
identificar uma pesquisa direta de Lessa ao nome de Marielle e sua filha dias
antes do crime. Até então, não haviam sido identificadas consultas com o nome
da vereadora, o que era um argumento da defesa para tentar negar a autoria do
crime.
Durante a delação, Lessa negou envolvimento em outros
crimes, como a segurança do contraventor Rogério Andrade e o assassinato de um
miliciano a pedido do ex-vereador Cristiano Girão. Ele também revelou planos
para assassinar Regina Celi, presidente da escola de samba Salgueiro, mas adiou
o crime para não comprometer a execução de Marielle.
Os investigadores continuam apurando se a motivação para o
assassinato de Marielle Franco estava ligada às denúncias da vereadora contra a
exploração imobiliária ilegal nas periferias do Rio de Janeiro. Essas denúncias
teriam contrariado os interesses de Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal
de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), e do deputado federal Chiquinho
Brazão.
Lessa, réu confesso, afirmou ter recebido garantias de
proteção para realizar o crime, alegando que a Polícia Civil do Rio estava sob
controle. Segundo ele, Domingos Brazão garantiu que as consequências policiais
seriam mínimas, mencionando um acordo com Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia
Civil do Rio. "Ele [Domingos] falava exclusivamente de Rivaldo
Barbosa", disse Lessa ao portal Metrópoles.
A delação também revelou que a ordem para
matar Marielle foi dada na manhã do crime, 14 de março de 2018, por Edmilson
Macalé, ex-sargento da Polícia Militar. Lessa e Élcio de Queiroz, que dirigiu o
carro no dia do crime, perseguiram o veículo de Marielle por cerca de três a
quatro quilômetros antes de efetuar os disparos em um local sem câmeras na
região central do Rio.
Fonte: Brasil 247