Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Julia Zanatta (PL-SC) participaram de evento sobre liberdade de expressão no Congresso argentino
A deputada argentina Maria Celeste Ponce, partidária do presidente Javier Milei, promoveu nesta quinta (30) o evento “Censura — Liberdade de expressão e direitos humanos no Brasil”, que reuniu deputados federais bolsonaristas, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Julia Zanatta (PL-SC), no Congresso argentino. O evento foi divulgado entre os brasileiros presos pelo 8 de janeiro que fugiram do país e estão na Argentina em busca de refúgio político.
Antes de iniciar o evento, o deputado gaúcho Marcel Van Hattem (Novo-RS) pediu que a Argentina acompanhasse os brasileiros que precisam de proteção e estimou que haverá mais de cem “refugiados políticos” nos próximos dias.
“Estou aqui para abordar a questão dos brasileiros que hoje moram na Argentina e não podem voltar ao Brasil. Pelo contrário, são pessoas que têm opiniões contrárias ao crime e principalmente à política e que hoje são condenadas no Brasil a passar anos de prisão. É por isso que estamos aqui no Congresso Nacional da Argentina para pedir ajuda ao governo e aos deputados para que estas pessoas possam viver em liberdade. E no Brasil estamos trabalhando para que os brasileiros que hoje são perseguidos não sofram o que estão sofrendo.”, disse.
Nesta quinta, na entrada do Congresso argentino, mais de 20 pessoas fizeram fila, entre elas vários dos foragidos do 8 de janeiro, acompanhados pela advogada Carolina Siebra, que se apresenta como membro da Associação de Famílias e Vítimas de 8 de janeiro (ASFAV). Embora os foragidos não tenham podido entrar no evento oficial por não constarem da lista de convidados, eles aguardavam os deputados na entrada do Palácio Legislativo, em Buenos Aires, à espera de manifestações de apoio.
Um dos brasileiros que fugiu para a Argentina afirmou ser o responsável por reunir o grupo que também busca refúgio no país vizinho. Reportagem do portal UOL revelou que ao menos nove pessoas acusadas de participar da tentativa de golpe em 8 de janeiro do ano passado fugiram do país, e algumas seguiram para a Argentina. Mas esse número pode ser ainda maior. Eles foram condenados pelo STF por diversos crimes, como tentativa de golpe de Estado, associação criminosa e depredação de patrimônio púbico, e são réus por envolvimento em atos golpistas. Muitos negam as acusações.
A advogada Carolina garantiu que estão trabalhando para obter asilo político na Argentina dos acusados “perseguidos politicamente” e que eles têm direito à defesa. “Alguns têm asilo provisório e procuram asilo permanente.” A advogada mostrou-se confiante de que vão obter asilo e destacou que a maioria procura emprego.
Embora a grande maioria não tenha querido falar com a imprensa, vários confirmaram que estão na Argentina há pelo menos um ou dois meses e que tentam obter asilo permanente.
Na reunião, falaram os deputados Eduardo Bolsonaro, Marcel Van Hattem, Julia Zanatta, Rodrigo Valadares (União-SE) e Ezequiel Silveira, da Asfav. Ludmila Lins Grilo, ex-juíza do Tribunal de Justiça do estado de Minas Gerais, aposentada compulsoriamente por ironias públicas ao combate à pandemia, dar apoio explícito ao ex-presidente Bolsonaro e criticar decisões de tribunais superiores. Ela diz ter se exilado nos Estados Unidos, também participou virtualmente.
Eduardo Bolsonaro foi fotografado próximo ao fugitivo Marco Antônio Simal. Ele não tinha mandado de prisão, mas quebrou a tornozeleira eletrônica para sair do Brasil.
A primeira a apresentar o evento foi a deputada argentina Celeste Ponce, que afirmou que o objetivo do encontro era repudiar veementemente a perseguição sofrida pelos brasileiros, e dizer à esquerda que “estamos dispostos a defender os valores ocidentais”. “Temos que ser o farol do Ocidente no mundo, travar a batalha cultural e defender a liberdade contra o socialismo corrupto e empobrecedor”, afirmou ela, que é do partido Libertad Avanza, o mesmo do presidente Milei.
A deputada Julia Zanatta, por sua vez, solicitou anistia aos presos pelos fatos ocorridos no dia 8 de janeiro. Julia disse que há mais de 80 pessoas presas, segundo ela, sem o devido processo legal.
Questionado pela reportagem sobre o apoio ao pedido de asilo, o deputado Eduardo Bolsonaro disse que a Argentina em seu procedimento de refúgio dá o direito de permanecer no país aos brasileiros que assim o solicitarem. “Considero lamentável que estas pessoas no Brasil estejam recebendo de 14 a 17 anos de cadeia, o que não se dá a pessoas que assassinam a outras nas ruas do Brasil. A saída para nós é uma anistia.”
O deputado Rodrigo Valadares disse que se uniu a advogados e vítimas do dia 8 de janeiro no encontro na Argentina para “denunciar a perseguição política e a falta de liberdade de expressão” dentro de um quadro de suposta tirania que o Brasil vive. Depois foi a vez de Ezequiel Silveira, da ASFAV, que pediu ao parlamento e ao governo argentino que não negassem o pedido de asilo dos presos políticos de 8 de janeiro e que pressionasse a OEA (Organização dos Estados Americanos) para garantir um julgamento justo e imparcial.
Por fim, Ludmila Lins Grilo, ex-juíza de Minas Gerais, afirmou que foi perseguida politicamente por publicar em suas redes sua opinião sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), pelo que teria se exilado nos Estados Unidos.
Ao final do evento, os deputados se reuniram com os fugitivos de 8 de janeiro que se encontravam do lado de fora e pessoas que não puderam entrar no Congresso para conversar antes de sair.
Nas redes sociais, a deputada Ponce afirmou que apresentou uma declaração de repúdio “à perseguição política no Brasil” e que se sente honrada de realizar uma conferência no Congresso Nacional argentino junto aos deputados brasileiros. “Apoio a moção e trabalharei desde meu lugar para conformar uma direita”. A reportagem entrou em contato com a deputada, mas ela não quis gravar entrevista.
Fonte: Agenda do Poder com informações do UOL.