PF encontrou evidências de que os irmãos têm 87 imóveis e são sócios diretos ou indiretos de pelo menos 25 postos de gasolina no estado do Rio
A Polícia Federal (PF) solicitou a abertura de quatro inquéritos para investigar indícios de crimes revelados na operação que prendeu os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, o ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como os mandantes do assassinato de Marielle Franco, e um assessor do clã denunciado por organização criminosa. Esses ilícitos não estão relacionados à morte da vereadora.
Entre os casos, segundo a colunista Malu Gaspar, do Globo, destacam-se as suspeitas de lavagem de dinheiro a partir do império imobiliário dos Brazão, conforme revelado anteriormente pelo blog. Há também suspeitas de lavagem de dinheiro contra o delegado Rivaldo Barbosa e sua esposa, Érika Andrade de Araújo.
A PF pediu a abertura de um inquérito para apurar crimes contra a administração pública envolvendo Chiquinho Brazão e Rivaldo, além de posse ilegal de arma de uso restrito por um assessor de Domingos.
Uma foto da escritura de um terreno na Zona Oeste do Rio, encontrada no celular apreendido de Domingos, é considerada uma peça-chave para corroborar a versão de Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, de que as motivações do crime estavam ligadas aos interesses fundiários dos Brazão.
Os investigadores descobriram que apenas uma das imobiliárias controladas pela família, a Superplan, da qual Domingos e sua esposa Alice Kroff são sócios, possui pelo menos 87 imóveis na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um desses imóveis é um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, que pertencia a Dario Messer, o “doleiro dos doleiros”, e foi arrematado em um leilão da Lava-Jato em 2021.
A PF encontrou registros de imóveis com valores subestimados, como um terreno na Zona Oeste com indícios de grilagem. Embora as propriedades em nome da Superplan somem R$ 25 milhões conforme as escrituras, o valor de mercado é provavelmente muito maior.
Chiquinho Brazão utiliza outra empresa, a 3X, que possui sete imóveis localizados até agora. Além disso, a PF encontrou evidências de que os irmãos são sócios diretos ou indiretos de pelo menos 25 postos de gasolina no estado do Rio.
Durante as investigações, a PF descobriu “indícios veementes” de que Chiquinho Brazão, deputado federal pelo Rio e atualmente sem partido, desviou emendas parlamentares para uma empresa pertencente à filha de um assessor do clã, Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe. Segundo a delação de Ronnie Lessa, Peixe intermediou a comunicação entre ele e os irmãos Brazão. Empregado no Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), onde Domingos é conselheiro, Peixe também atuava como segurança informal e cobrador de dívidas para milicianos.
Para a PF, a destinação de emendas para uma empresa cuja única sócia é a filha do aliado dos Brazão provavelmente visava a “obtenção de vantagens indevidas”.
A PF também solicitou a abertura de um inquérito contra Peixe por posse de armas de uso restrito. Durante a operação de março que prendeu Domingos, Chiquinho e Rivaldo Barbosa, os policiais encontraram na casa do assessor uma arma da Polícia Civil do Rio de Janeiro com a sigla da Força Nacional. Para os delegados, não havia justificativa para que o armamento estivesse em posse do aliado dos Brazão, já que ele é soldado reformado da Polícia Militar do Rio. Também foi encontrada com Peixe uma pistola calibre .380 com a numeração de série raspada. A perícia recuperou o registro original, que pertencia a um morador de Eusébio (CE), a mais de 2.500 quilômetros do Rio, sem comunicação de roubo ou furto no Sistema Nacional de Armas da PF (Sinarm). A posse ou porte irregular de arma com a numeração suprimida pode resultar em 3 a 6 anos de prisão.
O quarto inquérito investigará crimes de lavagem de dinheiro e contra a administração pública cometidos pelo delegado Rivaldo Barbosa e sua esposa, Érika Andrade de Araújo.
Fonte: Agenda do Poder