Luciana Gatti alerta sobre o impacto do agronegócio e a necessidade de transição para modelos sustentáveis em meio à tragédia dos alagamentos no Rio Grande do Sul
Em entrevista ao
programa Boa Noite 247, Luciana Gatti, cientista de mudanças climáticas e
coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), fez críticas ao modelo econômico predominante no
Brasil e seu impacto nas mudanças climáticas. Em meio ao contexto devastador
das enchentes no Rio Grande do Sul, Gatti alertou sobre as consequências da
atual política ambiental e agrícola do país.
“A transformação do Brasil na fazenda do mundo reduz nossa
proteção contra as mudanças climáticas”, afirmou Gatti, destacando a relação
direta entre o avanço do agronegócio e a degradação ambiental. “Estamos
perdendo o nosso airbag”, declarou, explicando que a destruição das florestas e
outros ecossistemas naturais está diminuindo a capacidade do Brasil de mitigar
os efeitos das mudanças climáticas.
A cientista não poupou críticas ao setor agroindustrial. “A
destruição causada pelo agronegócio está cobrando seu preço”, disse,
relacionando o aumento de desastres naturais à intensificação da exploração
agrícola e pecuária. Segundo Gatti, o atual modelo econômico está acelerando as
mudanças climáticas no Brasil. “O nosso problema é o modelo econômico do
Brasil, esse projeto de 'Brasil fazenda do planeta' está acelerando as mudanças
climáticas no Brasil, não eram assim antes do Bolsonaro”, afirmou, referindo-se
ao aumento do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa durante o
governo de Jair Bolsonaro.
Para Gatti, a solução passa por uma transição urgente para
modelos mais sustentáveis. “Está na hora de cientistas de várias áreas, bolarem
um plano de transição e começar a fazer a conversão desse modelo de agronegócio
para a agrofloresta para o turismo ecológico, a gente tem tantos outros
modelos, depende de nós, temos direito à vida.” A cientista defende que é
possível aliar desenvolvimento econômico com sustentabilidade, utilizando os
vastos recursos naturais do Brasil de maneira mais equilibrada e menos
destrutiva.
A urgência da situação também exige responsabilização, segundo
Gatti. “Esse modelo está levando a morte, esses caras têm que ser
responsabilizados, a gente está vendo o número de mortes crescendo, eles estão
agressivos no Congresso, nós também temos que ser agressivos e começar a falar
em 'justiça climática', começar a fazer um movimento por leis que comecem a
punir prefeitos e governadores.” A cientista chamou atenção para a necessidade
de um movimento político forte que pressione por mudanças legislativas que
promovam a justiça climática e responsabilizem aqueles que contribuem para a
degradação ambiental.
Assista:
Fonte: Brasil 247