Agências de risco, no entanto, têm
melhorado as perspectivas da economia brasileira
O economista Armínio
Fraga, ex-presidente do Banco Central, lançou críticas contundentes à atual
situação fiscal do Brasil, contestando o otimismo em relação ao governo Lula e
argumentando que o país deveria ter sido rebaixado em sua avaliação de crédito.
Em uma entrevista ao
Estadão, Fraga expressou surpresa com a decisão da agência de classificação de
risco Moody's de melhorar a perspectiva da nota de crédito do governo
brasileiro, especialmente considerando o cenário fiscal desafiador.
Para Fraga, a deterioração das finanças públicas
brasileiras é evidente e há muito tempo percebida. Ele ressaltou que a
capacidade do país em honrar seus compromissos externos não é suficiente para
compensar as deficiências no campo fiscal. Fraga destacou que, apesar das
reformas implementadas desde 2016, não há uma trajetória clara de progresso na
área fiscal, o que levanta dúvidas sobre a eficácia das políticas adotadas. A
Moody's, no entanto, discorda. Saiba mais:
Reuters - A Moody's
reafirmou nesta quarta-feira (16) a classificação de risco de crédito do Brasil
em Ba2 e alterou a perspectiva do país de "estável" para
"positiva", conforme comunicado da agência de rating.
No texto, a agência avaliou que as perspectivas de
crescimento real (descontada a inflação) do Produto Interno Bruto (PIB) do
Brasil são mais robustas do que nos anos pré-pandemia, "apoiadas pela
implementação de reformas estruturais em múltiplas administrações, bem como
pela presença de barreiras de proteção institucionais que reduzem a incerteza
em torno da direção política futura".
Conforme a Moody's, a alteração da perspectiva para
"positiva" é sustentada pela avaliação de que "um crescimento
mais robusto, combinado com um progresso contínuo, embora gradual, em direção à
consolidação fiscal, pode permitir a estabilização do peso da dívida do
Brasil".
"A Moody's espera que o crescimento real do PIB fique
em média em torno de 2% em 2024-25 e no médio prazo, bem acima da taxa média
anual pré-pandemia de -0,5% observada em 2015-19", afirmou a agência.
"O crescimento mais robusto do PIB nos últimos anos e no
curto e médio prazo é, em parte, o resultado de reformas estruturais
implementadas ao longo de sucessivas administrações", acrescentou no
comunicado.
No entanto, a agência pontuou que existem riscos para a
execução, por parte do governo, da consolidação do orçamento.
Ao tratar da manutenção do rating Ba2, a Moody's citou a dívida
ainda elevada do Brasil.
"A classificação Ba2 reflete uma solidez fiscal ainda
relativamente fraca, dada a rigidez dos gastos do Brasil, o elevado peso da
dívida e a fraca capacidade de pagamento da dívida, que permanece sensível a
choques econômicos ou financeiros", afirmou a agência.
"A Moody's espera que o peso da dívida provavelmente
aumente ligeiramente em 2024-25, antes de se estabilizar dentro de alguns
anos", acrescentou.
Uma das principais agências globais de rating de crédito,
a Moody’s mantém a classificação Ba2 para o Brasil desde fevereiro de 2016, o
que coloca o país no grupo de “grau especulativo”.
REAÇÃO DO GOVERNO - Em
nota, o Ministério da Fazenda comemorou a mudança de perspectiva para o rating
do país.
"Essa decisão é a primeira movimentação da Moody’s
desde 2018, quando houve a mudança de perspectiva de negativa para estável, e
reforça a melhoria na trajetória da nota de crédito verificada desde 2023, com
a elevação do rating tanto pela S&P quanto pela Fitch", afirmou o
ministério, citando as duas outras agências globais de classificação de risco.
Em dezembro do ano passado a S&P elevou a nota de
crédito de longo prazo do Brasil para BB, de BB-. Antes disso, em julho de
2023, a Fitch havia elevado a nota de crédito do Brasil para BB, ante BB-.
Ainda assim a classificação do país permaneceu em terreno especulativo em ambas
as classificações.
Em sua conta na rede social X, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, também destacou a decisão da Moody's.
"A Moody’s acompanhou as outras agências de risco ao
reconhecer a mudança para melhor das nossas perspectivas econômicas. Isso tem a
ver com o trabalho conjunto dos três poderes, que colocaram os interesses do
país acima de divergências superáveis", escreveu Haddad.
"Mesmo com a deterioração momentânea da economia
global, o Brasil caminha e recupera credibilidade econômica, social e
ambiental", acrescentou.
Fonte: Brasil 247 com entrevista ao Estadão