Veículos explodiram em Cordeirópolis; terceiro roubo foi em Piracicaba
Grupo explodiu três carros-fortes em rodovias do interior de São Paulo entre o final da tarde e o início da noite desta segunda-feira (8).
O primeiro ataque aconteceu na rodovia Washington Luís, em Cordeirópolis (a 176 km da capital), sentido São Paulo. Armados com fuzis, os criminosos explodiram dois carros-fortes.
O barulho de tiros e de explosão assustou motoristas que passavam pela rodovia. Alguns tentaram fugir na contramão e contaram ter ouvido um estrondo forte e visto muita fumaça.
A rodovia foi interditada na altura do km 157, o que provocou congestionamento na região. Os ocupantes dos carros-fortes não ficaram feridos, mas testemunhas viram manchas de sangue entre os destroços dos veículos.
Segundo a Polícia Militar, o grupo ocupava dois carros e fugiu em direção à rodovia dos Bandeirantes. Eles são procurados por equipes do Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia) na região de Campinas.
No início da noite, outro carro-forte foi atacado com explosivos na rodovia Luiz de Queiroz, em Piracicaba (a 157 km da capital), nas proximidades de uma churrascaria, no km 143.
Um carro foi incendiado, provavelmente para dificultar as buscas pelo grupo responsável.
28 réus que haviam sido denunciados como ‘incitadores’ também participaram da invasão e passarão a responder como ‘executores’
A Polícia Federal (PF) descobriu que ao menos 28 réus do 8 de janeiro que haviam sido denunciados como incitadores — por terem sido presos no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército — também participaram da invasão às sedes do Três Poderes. Com isso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) realizou um acréscimo à denúncia e eles também vão responder como executores. A identificação ocorreu a partir de evidências coletadas pela PF, que incluem material genético, impressões digitais e registros em câmeras de segurança.
Foram encontrados “vestígios genéticos” em metade dos casos, em objetos como lata de refrigerante, garrafas de água, lenços umedecidos, boné, máscara e amostras de sangue. Também foram identificadas “impressões dígitopapilares” de quatro réus, incluindo em uma placa que dizia “destituição três Poderes já” e em vidros do Planalto e do Congresso. Além disso, a participação de dez investigados foi comprovada pela análise de imagens.
As evidências foram colhidas ainda no 8 de janeiro e analisadas nos meses seguintes pela PF. Parte da defesa dos acusados questiona o recolhimento do DNA dos réus, utilizado para a checagem com as amostras encontradas nos locais dos crimes. A alegação é que essa coleta não poderia ter ocorrido de forma compulsória.
Inicialmente, as pessoas presas em frente ao QG do Exército, um dia após os atos golpistas, foram denunciadas por incitação ao crime e associação criminosa. Com o acréscimo, esses 28 réus passaram a responder também pelos cinco crimes atribuídos aos executores: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado). Com isso, caso condenados, eles podem ter as maiores penas até agora, já que somariam os crimes dos dois grupos.
Em 27 dos casos, o chamado aditamento da denúncia já foi analisado e aceito pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O acréscimo mais recente começou a ser analisado no dia 5 e será julgado até dia 12. O relator, Alexandre de Moraes, votou favorável ao recebimento das novas imputações. Em todos esses casos foi descartada a possibilidade de um acordo de não persecução penal, negociado com os demais incitadores.
Um dos casos em que o acréscimo já foi confirmado é o da Cândida Filipak. A PF encontrou vestígios do DNA dela em uma lata de refrigerante deixada no Salão Nobre do Palácio do Planalto. Filipak já foi suplente de vereadora em Terra Rica (PR). Sua defesa afirmou que o material genético é uma prova “ilícita”.
Já em um cartaz que dizia “destituição três Poderes já” e “comunismo no Brasil não”, recolhido na cúpula do Congresso, foram identificadas as impressões de Graco Magnus Mengue. Em entrevista logo após ser preso, Mengue chegou a dizer que não participou da “ocupação” das sedes dos Três Poderes. Sua defesa não respondeu ao aditamento da denúncia e não foi localizada.
Amostras de sangue foram coletadas em dois casos, ambos no STF: em um equipamento de raio-x (que pertencia a Luciano Melo de Sousa) e em uma coluna externa (que era de José Marques Filho). A defesa de Marques Filho apontou que a coleta do DNA foi “ilegal”. O advogado de Sousa também considera que a prova é ilícita.
No Salão Negro do Senado, a marca de uma mão foi identificada como sendo de Marcia Maria da Silva. Sua defesa afirmou que esse elemento não prova que ela entrou no local e danificou os bens públicos.
Bilionário já havia dito que desrespeitaria as determinações do STF e chegou a chamar ministro de ‘ditador’
Elon Musk, dono do “X” (antigo Twitter), voltou a atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes na madrugada desta terça-feira. Em uma das publicações, o bilionário chamou Moraes de “ditador brutal”, acusou o ministro de interferir na última eleição presidencial e disse que Moraes tem o presidente Lula “na coleira”. O empresário ainda afirmou que vai tirar funcionários da rede social do Brasil.
O empresário repostou e interagiu com dezenas de usuários da rede social que endossaram sua visão sobre Moraes e o STF. Entre as mensagens, está o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG): “Elon disse que Alexandre tem Lula na coleira e que ele manipulou a eleição para elegê-lo. Como membro do congresso brasileiro e representando milhões de pessoas, peço que nos forneça mais informações. Isso será crucial para o futuro de nosso país, @elonmusk”, disse o parlamentar.
“Precisamos levar nossos funcionários no Brasil para um lugar seguro ou, de outra forma, retirá-los de posições de responsabilidade. Depois disso, faremos um completo vazamento de dados. Eles foram informados de que serão presos”, disparou Elon Musk.
Em outra postagem, Musk compartilhou a mensagem de um usuário que exaltou o fato do governo Jair Bolsonaro ter “reconhecido as contribuições excepcionais de @elonmusk para o Brasil, considerando-o um verdadeiro e estimado amigo da nação”.
O bilionário estadunidense já havia dito que iria desrespeitar as determinações da Corte que pedia a suspensão de contas na rede social e requeria informações sobre usuários. O ministro do STF Alexandre de Moraes é relator de inquéritos que apuram a circulação de fake news e de ataques a urnas eletrônicas e ao sistema democrático do país em plataformas digitais, como o X.
“Mas como Alexandre libertou Lula da prisão e influenciou a eleição a favor de Lula, é óbvio que Lula não tomará medidas contra ele. A próxima eleição será crucial”, afirmou Musk no X.
No domingo, Musk afirmara que iria publicar tudo o que foi exigido por Moraes e que o ministro “deveria renunciar ou sofrer impeachment”. A ofensiva do empresário começou no sábado, 6, quando ele compartilhou publicações do jornalista estadunidense Michael Shellenberger que apontavam supostas violações da liberdade de expressão no Brasil.
“Por que é que o parlamento permite a @alexandre o poder de um ditador brutal? Eles foram eleitos, ele não. Jogue-o fora”, escreveu.
Desde então, Musk tem feito acusações ao Supremo. Afirmou que Moraes “aplicou multas pesadas, ameaçou prender nossos funcionários e cortou o acesso do X no Brasil”, e que iria “levantar todas as restrições (impostas)”.
Após as ameaças de Musk, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a inclusão do empresário como investigado no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento e a abertura de investigação por obstrução à Justiça, “inclusive em organização criminosa e incitação ao crime”.
A decisão de Moraes também fixou uma multa diária de R$ 100 mil por perfil, caso a big tech desobedeça qualquer decisão do tribunal, inclusive a reativação de perfil cujo bloqueio foi determinado pelo STF.
Entre essas contas estão as do blogueiro Allan dos Santos, do empresário Luciano Hang, do ex-deputado cassado Daniel Silveira, do jornalista Oswaldo Eustáquio, do ex-deputado Roberto Jefferson, entre outros. Eles são acusados de “propagar ideias antidemocráticas que atentam contra o Estado democrático brasileiro” e negam tais acusações.
Reação do STF
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou que “decisões judiciais podem ser objeto de recursos, mas jamais de descumprimento deliberado”. “Essa é uma regra mundial do Estado de Direito e que faremos prevalecer no Brasil”, disse o ministro em nota oficial.
De acordo com o ministro, “o Supremo Tribunal Federal atuou e continuará a atuar na proteção das instituições, sendo certo que toda e qualquer empresa que opere no Brasil está sujeita à Constituição Federal, às leis e às decisões das autoridades brasileiras”.
Reação do governo
O ministro Paulo Pimenta, chefe da comunicação do governo, citou em entrevista o caso do blogueiro foragido Allan dos Santos e lamentou, sem citá-lo, que “criminosos procurados” voltaram a usar a rede com permissão do X. realizou uma transmissão ao vivo na rede passada após a decisão de Musk, com críticas ao ministro do STF. O vídeo já teve mais de 100 mil visualizações. Foragido da Justiça brasileira desde outubro de 2021, Allan hoje vive nos EUA, de onde fez a live.
— Vejo como desrespeito. Acho que o Brasil não pode permitir de forma alguma uma engenharia externa que procure estar acima da nossa legislação. Acho que todas as medidas judiciais cabíveis devem ser adotadas — afirmou o ministro.
Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, o senador Flávio Bolsonaro (PL) defendeu o bilionário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), criticou o Judiciário, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes, e afirmou, sem apresentar provas, que o processo eleitoral de 2022 foi manipulado para favorecer o presidente Lula. Ele também defendeu…
Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, o senador Flávio Bolsonaro (PL) defendeu o bilionário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), criticou o Judiciário, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes, e afirmou, sem apresentar provas, que o processo eleitoral de 2022 foi manipulado para favorecer o presidente Lula. Ele também defendeu o arquivamento do inquérito das fake news e negou que seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, tenha tentado um golpe para permanecer no poder após a derrota, como apontam as investigações da Polícia Federal.
O senador saiu em defesa de Musk, que vem travando um embate com Moraes. No domingo, o ministro determinou que Musk seja investigado por obstrução à Justiça, inclusive em organização criminosa, e incitação ao crime, após o bilionário anunciar que retiraria todas as restrições de contas no X determinadas pelo Judiciário brasileiro. Até o momento, Musk não cumpriu a ameaça, mas usou a rede social, enquanto a entrevista acontecia, para atacar o ministro e pedir seu impeachment, chamando-o de ditador e acusando-o de ter favorecido a eleição de Lula.
Para Flávio Bolsonaro, Musk não cometeu crime algum e não deveria ser investigado. “Uma cidadão americano, uma empresa privada, do meu ponto de vista, não cometeu crime nenhum, apenas falou, se posicionou, fez uma pergunta ao ministro que usa a rede social dele. O Elon Musk não tem foro por prerrogativa de função, está tudo errado. O ministro toma mais uma vez uma decisão monocrática, antes que qualquer ato fosse cometido, já incluindo Musk no inquérito”, disse.
O senador comparou o Brasil à Venezuela, dizendo que o país pode sofrer sanções por não ser democrático. Mesmo o Brasil tendo passado recentemente por eleições consideradas justas e limpas, Flávio sugeriu que, se eleito nos Estados Unidos, Donald Trump pode adotar sanções contra o Brasil, como fez contra a Venezuela, por entender que a atuação do STF atualmente faz com que o país não tenha uma democracia. Ele ainda mencionou a proximidade entre Trump e Musk para reforçar a sugestão.
Apesar de criticar Moraes, o senador disse que seu impeachment “não é o caminho certo”. Para ele, o episódio com Musk é uma chance para o STF (Supremo Tribunal Federal) “voltar à normalidade”, arquivar inquéritos como o das milícias digitais.
“Não acho que pedir impeachment de ministro do STF seja o mais adequado. Defendo autorregulação do Supremo. E essa é uma ótima oportunidade”, disse.
Ameaças a ministros do STF
Flávio negou que os Bolsonaro e seus apoiadores tenham qualquer papel nos ataques sofridos por ministros do STF. “Não é culpa do Bolsonaro, o ódio sofrido pelos ministros (…) Você não pode atribuir isso ao bolsonarismo”, disse. Bolsonaro, aliados e apoiadores, porém, fizeram sucessivos ataques aos ministros, sobretudo a Moraes, e à Corte. No 7 de setembro de 2021, por exemplo, o então presidente chamou Moraes de “canalha” e disse que não cumpriria mais suas decisões.
Ataques ao processo eleitoral
Flávio atribuiu derrota do pai a interferências no processo eleitoral. Ao dizer que seu pai é honesto e está sendo bem recebido no Brasil todo, foi questionado sobre o porquê de ele ter perdido as eleições, se seu governo foi tão bom. O senador respondeu, sem apresentar provas, que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) favoreceu Lula. “O que o TSE fez antes, durante e depois das eleições, ficou muito claro para todo mundo que ele pesou muito mais a favor de um lado do que do outro”, disse.
Ao longo da entrevista, Flávio disse algumas vezes que não entraria na questão dos ataques às urnas eletrônicas, mas acabou colocando o sistema em dúvida repetidas vezes. Disse que “os brasileiros têm dúvidas” sobre a lisura do processo, sem mencionar que o próprio Bolsonaro e seus aliados passaram anos atacando as urnas, sem conseguir provar qualquer interferência no processo eleitoral. As urnas são auditadas junto a outros órgãos federais, incluindo as Forças Armadas.
“Desconfiança das urnas é só em casos pontuais, tipo para a Presidência”, disse o senador. Ele havia sido questionado sobre a incongruência de pôr em xeque um sistema que o elegeu diversas vezes, assim como a seu pai e seus irmãos.
Tentativa de golpe
Flávio classificou como “crime impossível” a suposta tentativa de golpe por Bolsonaro. De acordo com investigações da Polícia Federal, o então presidente e seus aliados planejaram um golpe de Estado para reverter o resultado das eleições. Ele teve o passaporte retido depois de ser alvo de uma operação em fevereiro.
Indícios do plano incluem depoimentos de dois comandantes das Forças Armadas e minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. O plano golpista foi confirmado por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em acordo de delação premiada.
Flávio diz que não houve crime de tentativa de golpe. O senador comparou a situação ao planejamento de um assassinato, em que alguém chega a comprar uma corda para cometê-lo, mas muda de ideia. Ele foi questionado pelos entrevistadores, uma vez que a mera tentativa de golpe já é um crime tipificado.
Novamente sem provas, Flávio sugeriu que Lula foi responsável ou conivente com os atos de 8 de janeiro. No dia dos ataques, Lula estava em Araraquara, interior de São Paulo, para prestar assistência às vítimas das chuvas que atingiram a região. Para Flávio, Lula “fugiu”.
“O que ele estava fazendo lá? Eu acho que ele saiu [de Brasília] torcendo para acontecer o que aconteceu. Não dá para colocar na conta do Bolsonaro o 8 de janeiro. Lula já estava no cargo, os movimentos estavam esvaziando. Eles sabiam e tinham a informação e não fizeram nada”, disse.
Ex-integrantes da cúpula da PM do Distrito Federal são réus no STF por omissão nos atos golpistas. Na denúncia, a PGR (Procuradoria-Geral da República) apontou “alinhamento ideológico e de propósitos” entre os denunciados e os bolsonaristas que pediam a intervenção das Forças Armadas.
Bolsonaro não vai fugir em caso de condenação, diz senador.
Ele foi questionado sobre os planos do ex-presidente em caso de pedido de prisão pelas investigações do 8/1. Para Flávio, seu pai sofre “perseguição” e “nem deveria ser investigado”.
Flávio minimiza caso da embaixada da Hungria. Questionado sobre a estadia de Bolsonaro na embaixada da Hungria, após operação da PF que apreendeu seu passaporte, o senador disse que não havia qualquer intenção de fuga ou pedido de asilo e que seu pai é muito amigo do presidente húngaro, Viktor Orbán. Segundo o senador, Bolsonaro não teria avisado sobre o caso nem à sua mulher, Michelle Bolsonaro. Ao ser questionado sobre a estranheza da situação, em pleno carnaval, Flávio afirmou que “não tinha nada para fazer em Brasília no carnaval.
Caso dos imóveis pagos em dinheiro vivo e das milícias
Flávio se defendeu de acusações de ‘rachadinha’. Ele afirmou que tem patrimônio compatível com sua renda e negou o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis, como foi revelado por reportagem do portal UOL em 2022. De acordo com o parlamentar, as aquisições foram feitas em moeda corrente, por meio de transferências, e não em dinheiro vivo.
O senador também negou ter ligações com milícias do Rio de Janeiro. Ele afirmou ter conhecido o miliciano Adriano da Nóbrega por causa de seu trabalho no Bope, em 2001. “Soube que estavam sendo injustiçados”, disse. A mãe e a ex-mulher de Adriano teriam sido contratadas para trabalhar no seu gabinete como gesto de solidariedade pela situação vivida pelo ex-policial e em prol da “causa dos policiais injustiçados”.
“Não tem nada a ver Bolsonaro com grupo de extermínio, vinculação de Bolsonaro com milícias. Nunca defendi poder paralelo para extorquir morador”, concluiu.
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco,
disse que o embate evidencia a necessidade de avançar em uma legislação
específica e na aprovação do projeto das fake News
Alexandre de Moraes e Elon Musk (Foto: Reuters)
Raquel Miura, RFI - O empresário Elon Musk subiu ainda mais
o tom na noite dessa segunda-feira ao chamar o ministro Alexandre de Moraes de
ditador. Desde o fim de semana o dono da plataforma X tem publicado críticas ao
ministro do Supremo Tribunal Federal, o que lhe rendeu a inclusão no inquérito
que investiga as mídias digitais antidemocráticas e alerta de multa caso
descumpra decisões envolvendo bloqueio de contas. A RFI ouviu especialistas na
área para entender o que está por trás desse embate.
O professor e presidente da Intercom, Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Juliano Domingues, disse à RFI
que o cenário evidencia interesses opostos, com visões bem diferentes sobre
democracia.
“Esse debate contribui para explicitar um conflito entre dois
mundos que operam a partir de lógicas muito distintas e conflituosas entre si.
De um lado, a gente tem o Judiciário e instituições vinculadas ao modelo de
Estado-nação, das democracias liberais. Do outro lado, a gente observa grandes
empresas da tecnologia da informação e da comunicação digital que tentam impor
uma espécie de governança global de viés autoritário, exercido pelo poder
econômico, mas principalmente pelo poder simbólico, uma vez que essas empresas
são responsáveis por boa parte do fluxo comunicacional e informacional no
mundo. Ou seja, elas são responsáveis por boa parte daquilo que as pessoas
percebem enquanto realidade”, destacou Domingues.
O analista se recorda de uma publicação de 2020 em que
Musk falou que daria "golpe em quem quisesse", numa referência à
política interna da Bolívia, para afirmar que nesses embates as instituições
devem primar pela defesa dos interesses públicos.
“O próprio Elon Musk já se declarou na sua rede social como um
golpista confesso. Acho que isso é um dado relevante. É a utilização sem
qualquer pudor dessas ferramentas absolutamente poderosas nesse mundo
contemporâneo em que vivemos, no sentido de desestabilizar determinados países
para que os objetivos da empresa sejam alcançados. Em meio a esses interesses
privados, as instituições, no caso o poder Judiciário de forma mais específica,
devem atuar para fazer valer o interesse público, o interesse da nação
brasileira”, afirmou o dirigente da Intercom.
Debate acirrado
- O embate acirrou o ambiente das redes
sociais, com bolsonaristas em polvorosa pedindo o impeachment de Alexandre de
Moraes e também o meio político mais à esquerda que classificou como grave a
postura de Elon Musk. E há quem tenha visto mesmo um discurso sob medida do
bilionário tentando pavimentar a ponte entre a política americana e a
brasileira, na aposta de uma vitória de Donald Trump por lá.
Entre os analistas ouvidos pela RFI, mesmo quem tem mais
ressalvas a certas decisões do STF considera que empresas que atuam aqui não
podem afrontar decisão judicial.
“Se Elon Musk se nega a cumprir as ordens judiciais, o STF
tem, sim, razão em enquadrá-lo. Mas com isso eu não estou dizendo que as ordens
do ministro Alexandre de Moraes sejam justas. Não é isso que eu quero dizer. E
seria muito inocente fazer uma avaliação puramente jurídica deste debate. Eles
ocupam espaços completamente diferentes no campo ideológico. Seus seguidores
fiéis já têm opinião formada, eles não estão abertos a conversar”, descreveu o
advogado e professor de Direito da Universidade de Brasília, Henrique Costa.
“É difícil dizer quem tem razão, mas Elon Musk, uma vez que ele
desafia frontalmente a justiça e leva o debate para um campo que não é o campo
do direito, acaba perdendo a razão. Se a situação piorar, se o embate
persistir, é possível um bloqueio total da X na região do Brasil, que é uma
evolução bastante factível”, analisa o advogado.
Já o especialista em Direito, Manoel Moraes, professor da
Universidade Católica de Pernambuco e titular da Cátedra UNESCO/UNICAP de
Direitos Humanos Dom Helder Câmara, fala da democracia defensiva contra a
ameaça fascista para descrever o cenário atual.
“No Brasil nós podemos discordar do Supremo. Não há nenhum
problema sobre isso. No Brasil não existe nenhum tipo de ditadura. Ao
contrário, tem o exercício da democracia. Agora, desde Karl Popper, que é um
grande escritor teórico, e outros intelectuais que estudaram o fascismo, nós
sabemos que eles se infiltram dentro da democracia", diz Moraes.
"Os fascistas não acreditam na democracia, mas usam
os instrumentos democráticos para ruir a democracia. Então esse fenômeno
produziu o que chamamos de uma democracia defensiva. São mecanismos que hoje se
desenvolvem no mundo para que a gente se proteja dos fascismos, desses
discursos que ameaçam a democracia”, acrescenta o especialista.
Para Moraes, nenhum setor da economia é alheio à regulamentação
e as mídias sociais precisam respeitar os limites legais. “Porque o nosso
direito constitucional criminaliza determinados discursos, manifestações,
postagens. O nosso direito constitucional é um direito baseado na proteção da
dignidade humana. E a X tem CNPJ, para atuar no Brasil precisa ter escritório
aqui e tem que observar as regras do país”, afirmou o professor da Unicamp.
Para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG),
fica evidente a necessidade de avançar na legislação específica e aprovar o
projeto das fake news, que responsabiliza as Big Techs por conteúdos falsos e
nocivos mantidos na internet. Sem isso, frisou, o judiciário continuará à
frente no combate contra discursos de ódio e ruptura institucional.
“A participação do Poder Judiciário, tendo que decidir
questões relativamente ao uso dessas redes sociais, sem que haja uma lei que
discipline, isso acaba gerando controvérsias como essa que vimos, do Poder
Judiciário precisar agir em relação a atos antidemocráticos, às violações de
direitos, atentado à democracia, e isso sendo interpretado como algum tipo de
censura. As plataformas não acertam sempre, também não erram sempre", diz
o senador.
"O Poder Judiciário também não acerta sempre, ele
pode eventualmente errar, mas é muito mais fácil errar no ambiente em que não
há lei que discipline, do que o contrário. Há um papel cívico que deve ser
exercido pelas plataformas digitais, de não permitir que esse ambiente seja um
ambiente vale tudo”, concluiu Pacheco.
Uma colaboração com o FBI, a Polícia
Federal americana, não está descartada
Elon Musk e Alexandre de Moraes (Foto: Leon Neal/Pool via Reuters | ABR)
A Polícia Federal
(PF) vai investigar se o bilionário extremista Elon Musk cometeu crimes ao
ameaçar descumprir ordens judiciais estabelecidas pelo ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No último sábado (6), o dono do X
questionou Moraes em uma antiga publicação do ministro no seu perfil na
rede.
Fontes da investigação relataram à reportagem da CNN Brasil que uma colaboração
com o FBI, a Polícia Federal americana, não está descartada, se for necessária
para apuração da PF.
Saiba mais - Musk usou
suas redes na madrugada desta terça-feira (9) para promover novos ataques
contra a soberania brasileira, com o pano de fundo central o ministro do STF
Alexandre de Moraes, e desta vez citando também o presidente Lula.
“Como @Alexandre de Moraes se tornou o ditador do Brasil?
Ele tem Lula na coleira”, disse o bilionário em sua rede social X, antigo
Twitter, que já perdeu 71,5% do seu valor de compra após ser adquirido pelo
extremista.
Na sequência, quando questionado pelo
deputado bolsonarista Nikolas Ferreira sobre o que seria a citada ligação entre
o presidente Lula e Moraes, Musk deu a entender que vazaria dados secretos em
breve, mas que antes teria que retirar os seus funcionários do Brasil em
segurança.
Segundo o jornal, o ministro do STF caiu
na armadilha da extrema direita
Elon Musk e Alexandre de Moraes (Foto: REUTERS/Adrees Latif | Rosinei Coutinho/SCO/STF)
O jornal Folha de S.
Paulo também publicou editorial sobre
o embate entre o bilionário Elon Musk, dono do X, e o ministro Alexandre de
Moraes, do STF. "O fogo cruzado serve mais a iludir do que a esclarecer.
Engrossa o caldo da polarização, dinâmica política que gera muito calor e pouca
luz. No saldo, é provável que o embate seja mais benéfico ao bolsonarismo do
que ao interesse público", escreve o editorialista.
O texto também critica o inquérito das fake news.
"Decerto o sentido da crítica a Moraes não soa descabido. O ministro já
estendeu bem além do razoável uma frente de investigação nada transparente,
ademais questionável desde a origem. Ao atacar um problema real, o das ameaças
à democracia, Moraes adentrou um terreno pantanoso, o de definir o que é
verdade e o que não é, atoleiro do qual parece não conseguir sair",
acrescenta.
"O inquérito das fake news está aberto há mais de cinco
anos, em caráter sigiloso. O das milícias digitais, instalado em 2021, foi
prorrogado até o fim deste mês. Nesse período, o STF já cometeu erros evidentes
de abordagem, como ao censurar reportagens jornalísticas no âmbito da eleição
de 2022", acrescenta.
"Do ponto de vista institucional, o episódio deixa
uma armadilha à frente do STF. As opções para o tribunal ficam embicadas no
caminho de dobrar a aposta, eventualmente derrubando o acesso no Brasil ao X. O
custo não seria pequeno, dada a excepcionalidade da medida. Faria melhor a
corte suprema se contivesse a si própria e dedicasse mais tempo aos assuntos de
impacto mais direto na vida do cidadão brasileiro, que pouco se beneficia do
calor da polarização", finaliza.
Uma rede de venda e
aluguel de CNPJ de farmácias que já haviam fechado as portas mobilizou os
golpistas
Farmácia Popular atendeu 2,7 mi via Mais Médicos
Deixando um rombo de R$ 2,5
bilhões nos cofres públicos apenas entre o período de 2015 a 2020, golpistas
utilizam o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) em um esquema de fraude do
programa Farmácia Popular. De acordo comG1, medicamentos estão em nome de
pessoas que nunca os solicitaram, alimentando um rombo.
De acordo com a
reportagem para saber se seu nome foi usado no esquema, baixe o aplicativo
"Meu SUS Digital"; Entre com o seu perfil registrado no portal gov.br
(caso não tenha conta, acesse o site para fazer o cadastro); Clique na ação
"Medicamentos"; Clique na aba "Recebidos", onde é possível
ver os registros de medicamentos e desabilitar a autorização de retirada de
medicamentos pelo Farmácia Popular.
O esquema funcionava
da seguinte forma: Uma rede de venda e aluguel de CNPJ de farmácias que já
haviam fechado as portas mobilizou os golpistas. A partir do pagamento, os
golpistas se beneficiavam dos recursos do programa Farmácia Popular, do Governo
Federal.
Ao citar apreensão de um dos envolvidos
em esquema de lavagem, o jornal Estado de S.Paulo retratou o homem do PCC como
"contador de Lulinha"
(Foto: Reuters)
A Transwolff e
Transwolff, duas das maiores empresas de ônibus de São Paulo, criadas com
dinheiro ilícito do grupo de narcotráfico do Primeiro Comando da Capital (PCC),
foram alvo na manhã desta terça-feira, 9, da Operação Fim da Linha. A ação é
resultado de uma investigação de quatro anos feita pelo Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São
Paulo, pela Receita Federal e pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica).
No entanto, ao citar apreensão de um dos envolvidos, um
contador do PCC, o jornal Estado de S.Pauloretratou o homem
como "contador de Lulinha", como mostra o trecho abaixo da
matéria assinada por Marcelo Godoy:
“É aqui que aparece o contador João Muniz
Leite, homem de confiança do advogado Roberto Teixeira, o compadre do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muniz trabalhou como contador do filho do
presidente Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, e já prestou serviços para o
próprio presidente”, diz um trecho da reportagem.
Senador disse que tal ação não seria o
melhor caminho para o Brasil
(Foto: Reprodução)
No programa Roda
Viva, da TV Cultura, exibido nesta segunda-feira (8), o senador Flávio
Bolsonaro disse que não apoiaria um pedido de impeachment contra o ministro do
STF, Alexandre de Moraes, caso ocorresse uma movimentação neste sentido.
“Eu sou sempre pelo diálogo, não considero que um
impeachment de um ministro seja a solução do Brasil”, indica.
O presidente recordou a saída do Brasil
do mapa da fome da ONU em 2014, situação que retrocedeu durante os governos
Michel Temer Jair Bolsonaro
Lula com outras lideranças em Brasília (Foto: Ricardo Stuckert / PR)
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) alertou nesta segunda-feira (8), no Palácio do Planalto, que é
necessário enfrentar o problema da fome em nível global. De acordo com o
relatório sobre Alimentação, Agricultura e Nutrição da Organização das Nações
Unidas (ONU), divulgado no ano passado, mais de 700 milhões de pessoas passam
fome no mundo. No documento O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo
(SOFI), publicado também em 2023 pela Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado
de insegurança alimentar moderada em 2022. O levantamento também apontou que
21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave,
caracterizado por estado de fome.
O chefe de Estado brasileiro recordou a saída do Brasil do
mapa da fome da ONU em 2014, situação que retrocedeu durante os governos Michel
Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2023). "É preciso criar uma
consciência de que a fome não é aceitável. Um mundo que produz a quantidade de
alimentos que produz não pode ter gente passando fome", afirmou Lula,
durante evento em Brasília (DF), com o secretário de Estado do Vaticano,
cardeal Pietro Parolin. Acompanharam a reunião a primeira-dama Janja da Silva e
o assessor especial da Presidência, embaixador Celso Amorim.
O presidente também elogiou o papel do papa Francisco como um
dos grandes líderes do mundo que tem se colocado contra a guerra e a
desigualdade.
Ambos concordaram sobre a importância de os governos garantirem a liberdade
religiosa.
O cardeal Parolin citou o interesse da Santa Sé sobre a
situação dos povos indígenas. Sobre esse tema, o presidente Lula citou a
criação do Ministério dos Povos Indígenas e o fato de a FUNAI também ser
presidida por uma indígena. E que pretende, em breve, anunciar a homologação de
novas terras.
O religioso comentou sobre os esforços
que o governo brasileiro tem feito em prol dos Yanomami e os desafios
representados pelo garimpo ilegal e outras formas de crime organizado, “hoje
uma indústria internacional”. “No que depender do nosso governo, os povos
indígenas terão o melhor tratamento possível”, garantiu.