Programa vai ao ar
neste domingo, às 22h, na TV Brasil
Agência
Brasil - O Caminhos da Reportagem que vai ao ar neste domingo (31) trata
dos desdobramentos, ainda hoje presentes, do golpe militar no Brasil, que há 60
anos colocou fim ao governo de João Goulart. Uma após a outra, tropas do
exército aderiram à sublevação iniciada em Juiz de Fora, na madrugada daquele
31 de março de 1964.
O movimento teve apoio de setores conservadores
da política e da sociedade, de empresários, da Igreja Católica e das Forças
Armadas. Castello Branco assumiu a presidência em 15 de abril, tornando-se o
primeiro dos cinco presidentes-generais.
A ditadura civil-militar iniciada ali durou 21
anos. A atriz Dulce Muniz lembra bem daquele dia. Ela ouviu o anúncio pelo
rádio: “Veio uma voz… a partir deste instante, a Rádio Nacional passa a fazer
parte da cadeia da legalidade. Pronto. Estava dado o golpe. Eu tinha 16 anos.”
José Genoino saiu da pequena Encantado, um
distrito de Quixeramobim, no Ceará, para estudar em Fortaleza. Em 1968, quando
é decretado o AI-5, ele fazia parte do movimento estudantil. Genoino entra para
a clandestinidade, vai parar em São Paulo e, depois, para a região do Araguaia.
“A minha geração só tinha três alternativas: ou
ia para fora do país, ou ia para casa e podia ser presa e morta, ou então ia
para a clandestinidade”. Ele é um dos poucos sobreviventes da Guerrilha
organizada na região que hoje faz parte do norte do Tocantins.
Até hoje, são raros os espaços de memória que
contam a história dos anos de repressão. O principal deles é o Memorial da
Resistência, criado no prédio que abrigava o temido Departamento de Ordem
Política e Social, o Deops, em São Paulo.
Para a diretora técnica do Memorial, Ana Pato,
“a criação de centros culturais de memória dedicados à memória dessa violência
do Estado são fundamentais para que as gerações seguintes não só aprendam isso,
mas que a própria sociedade consiga elaborar o trauma.”
No Rio Grande do Sul, o projeto Marcas da
Memória tenta demarcar, identificar e explicar a história de importantes
espaços repressivos em Porto Alegre. Dos 39 aparatos da ditadura conhecidos no
estado, apenas nove ganharam placas. Algumas delas já estão apagadas.
Segundo Jair Krischke, coordenador do Movimento
de Direitos Humanos, e um dos idealizadores do projeto, não há interesse por
parte do poder público em iniciativas como esta: “Nós, como organização
privada, estamos fazendo aquilo que o Estado deveria fazer. Como não faz, nós
fizemos, provocamos.” O desejo de Krischke, e de todos que trabalham e lutam
para que as marcas da ditadura não sejam esquecidas, é transformar esses
espaços pelo Brasil em museus e memoriais.
Uma das grandes referências no tema é o Museu da
Memória e Direitos Humanos de Santiago, no Chile. Para María Fernanda García,
diretora do museu, “é muito importante se dizer que aqui houve atropelos do
Estado. É preciso lhes dar a visibilidade e a dignidade às vítimas, o que não
lhes foi dado durante aquele período, e também depois, durante muitos anos”.
Não prestar contas com o passado faz com que a
democracia brasileira se torne frágil e que a violência do Estado ainda seja
recorrente. “A questão da impunidade é altamente contagiosa. A violência que
constatamos ainda hoje é fruto disso, da impunidade. A tortura ainda é usada
pelas polícias e nos presídios. É uma herança que nós não conseguimos nos
livrar”, afirma Jair Krischke.
Violência policial que em 2015 matou o filho de
Zilda de Paula. Ele é um dos 17 mortos na chacina de Osasco e Barueri, cometida
por policiais militares encapuzados. Até hoje, Zilda busca justiça. “Perdi meu
filho único, Fernando Luiz de Paula. Nunca pensei que eu ia passar por isso,
nunca pensei.”
Na faixa que ela tem em casa, com os rostos de
outros mortos da chacina, lê-se a frase: “Sem justiça não haverá paz”. Dona
Zilda conclui: “Não vai ter justiça e nem paz. Não tem justiça, porque esse
caso para a justiça já foi encerrado.”
O programa Caminhos
da Reportagem – 1964: Memórias que
Resistem vai ao ar neste domingo, às 22h, na TV Brasil.
Fonte: Brasil 247 com Agência Brasil