‘Vírus nunca deixou de circular’, explica pesquisador da UnB. Intensidade da nova onda, entretanto, é baixa se comparada com o que ocorreu entre 2020 e 2022.
Na última quinta-feira (15), o Distrito Federal registrou a primeira morte por Covid-19 em 2024. A vítima, uma mulher com idade entre 30 e 39 anos, sem comorbidades, morava na região de Santa Maria e, conforme a Secretaria de Saúde do DF, não tinha tomado todas as doses da vacina.
A pasta também apontou um aumento de 102,1% nos casos de Covid em uma semana: as notificações subiram de 828 novos casos para 1.673 novos casos da doença. Segundo pesquisadores, esses números e o óbito alertam para uma possível nova onda do doença.
O portal g1 conversou com o pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento, da Universidade de Brasília Tarcísio Rocha Filho. Ele faz parte de um grupo de pesquisadores da UnB, da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) que acompanham os casos de Covid-19 no Brasil desde 2020.
Para o pesquisador, o vírus nunca deixou de circular na população, e há uma nova onda em curso.Mesmo que menos intensa do que a vivida entre 2020 e 2022, ela preocupa, principalmente com o período de volta às aulas (leia a entrevista abaixo).
g1: É possível dizer que a Covid-19 voltou?
Tarcísio Rocha Filho: Na verdade, o vírus SARS-CoV-2 nunca deixou de circular na população, embora em muito menor intensidade do que no auge da pandemia. Isso permite que o vírus mude, e que novas variantes apareçam, que são mais contagiosas. No Brasil ocorreram cerca de 12 mil mortes ao longo do último ano e 862 no último mês. O número oficial de casos, que sempre é bastante subestimado, foi de 1,5 milhão em todo o país em um ano, sendo 150 mil no último. Há uma nova onda em curso, de baixa intensidade, mas em diferentes estágios segundo o local.
g1: Quais são as possíveis causas dessa nova onda de Covid-19?
Tarcísio Rocha Filho: Novas ondas são causadas pela aparição de novas variantes que conseguem, de alguma forma, driblar a imunidade adquirida ao ter a doença ou pela vacinação.
g1: As férias e o carnaval podem ter aumentado as chances de contágio?
Tarcísio Rocha Filho: Períodos de férias facilitam o deslocamento de pessoas entre cidades, e portanto uma mais rápida circulação de novas variante por todo o território. Já o carnaval causa grandes aglomerações em um curto período de tempo, o que também facilita a transmissão do vírus entre as pessoas.
g1: E quando a população poderá sentir, com relação ao número de casos, o efeito desse tempo de ‘descuido’?
Tarcísio Rocha Filho: O tempo de incubação do vírus é em torno de cinco dias. Mas, o que se espera, é uma onda de baixa intensidade quando comparada com o que ocorreu entre 2020 e 2022.
g1: A volta as aulas é uma preocupação nesse momento?
Tarcísio Rocha Filho: A volta às aulas tende a aumentar a circulação do vírus. Apesar de os casos serem mais leves em crianças, com raros casos graves, elas transmitem o vírus para os pais e pessoas próximas. Não há razão para qualquer suspensão de atividades escolares, apenas uma maior atenção para identificar casos. É de extrema importância vacinar também todas as crianças de forma completa, como para qualquer outra doença para a qual exista uma vacina. A grande maioria dos casos graves da Covid-19, que podem levar à morte, são de pessoas que não se vacinaram apropriadamente.
g1: Existem novos sintomas, além dos já conhecidos como febre e tosse?
Tarcísio Rocha Filho: Os sintomas permanecem essencialmente os mesmos. Por vezes, pode parecer um quadro gripal, o que leva muitas pessoas a não suspeitar da Covid-19, o que também favorece a transmissão do vírus.
g1: Como se proteger dessa nova onda da doença?
Tarcísio Rocha Filho: A principal medida é manter a vacinação em dia, com a última forma da vacina. Não basta ter tomado uma ou duas doses, pois a proteção cai com o tempo, e as primeiras vacinas não eram adaptadas para as atuais variantes. Sempre que houver um aumento do número de casos, e sobretudo para os grupos de risco, evitar aglomerações e usar máscaras apropriadas.
Fonte: Agenda do Poder com informações do g1.