A apresentadora Aline Klemt foi indiciada após defender ao vivo o extermínio de palestinos durante o programa Atualidades Pampa
A Delegacia Especializada no Combate à Intolerância de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, finalizou a investigação sobre um caso de suposto crime cometido pelas declarações de Aline Leal Fontanella Klemt, uma comunicadora que, em seus comentários, defendeu a eliminação da população da Faixa de Gaza, informa a Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal).
Aline Klemt faz parte dos comentaristas do programa Atualidades, transmitido pela TV Pampa de segunda a sexta-feira, às 19h, e expressou seu apoio aos bombardeios israelenses a Gaza durante uma edição do programa em 10 de outubro do ano passado.
Em suas palavras, "Hoje, sinceramente, não tem outra forma, a não ser, realmente, dizimando uma população que acha que matar aleatoriamente tá tudo certo”, afirmou Aline Klemt. Para justificar o genocídio da população palestina, ela citou uma notícia incorreta de que palestinos teriam decapitado crianças em 7 de outubro, informação que foi desmentida no mesmo dia pela mídia israelense e posteriormente reconhecida como notícia falsa por grandes veículos de comunicação dos EUA e internacionais.
O comentário gerou grande repercussão, especialmente nas redes sociais, causando preocupação entre a comunidade brasileira-palestina, particularmente a do Rio Grande do Sul, que é a maior do Brasil, e resultando em uma ampla indignação tanto dentro quanto fora dessa comunidade.
A investigação foi iniciada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul após um boletim de ocorrência feito pela Fepal, representada pelo secretário de Assuntos Jurídicos da entidade, o advogado Nasser Judeh. Sob a liderança da delegada Tatiana Barreira Bastos, o inquérito também agregou outras denúncias semelhantes feitas por diferentes indivíduos e organizações.
Durante o inquérito, Judeh relatou que a Fepal foi contatada por várias pessoas, tanto da comunidade brasileira-palestina quanto de outras, "aterrorizadas com as falas de Aline Klemt". Ele afirmou que tais falas incentivam o discurso de ódio, o preconceito e a intolerância étnica”, reforçando que “também pode configurar a incitação ao genocídio”.
Interrogada, a acusada não negou ter defendido a dizimação de uma população, mas afirmou que se referia "aos integrantes do Hamas". O inquérito registra sua defesa da seguinte maneira: “No contexto de sua reflexão, proferiu a frase de que para lidar com um grupo inimigo que dizima um povo, não haveria outra saída, a não ser ir para a guerra e dizimar uma ‘população’, se referindo aos integrantes do Hamas”.
No relatório, entretanto, a delegada contradiz a comunicadora, consignando que “na gravação do vídeo é possível perceber, em um momento anterior, que a suspeita faz afirmações sobre uma ‘população’ que estaria sofrendo lavagem cerebral do grupo terrorista (sic) Hamas, ou seja, a suspeita faz uma diferenciação entre o grupo terrorista (sic) Hamas e uma população que sofreria lavagem cerebral por parte deste grupo”. A delegada pontua que “apesar de a suspeita não ter nomeado, é sabido que tal população é o povo palestino”, concluindo que “tudo isso nos leva a compreensão de quando a suspeita afirma que não há outra saída senão dizimar esta ‘população’, ela não está se referindo ao grupo terrorista (sic) Hamas, mas sim à população que, em sua análise, estaria sofrendo lavagem cerebral e estaria apoiando indiscriminadamente as ações do grupo terrorista (sic) Hamas”.
Incitação do genocídio - O presidente da Fepal, Ualid Rabah, concorda com Judeh quanto à incitação do genocídio. Para ele, trata-se de “caso notório de incitamento ao genocídio”. “Defesa mais do que evidente do extermínio da população palestina de Gaza, uma espécie de defesa das ações israelenses que buscavam, àquela altura, como seguem buscando, a eliminação dos palestinos do território de Gaza, seja assassinando em massa, seja deslocando toda a demografia palestina para fora das fronteiras desta parte da Palestina”, comentou Rabah.
Segundo o dirigente brasileiro-palestino, as declarações da comunicadora se inscreveram em contexto comunicacional massivo, no Brasil e em todo o chamado “ocidente”, no qual houve praticamente uma campanha midiática, informacional, direcionada a legitimar a ação israelense que viria e, depois, seguir defendendo as ações das forças de ocupação israelenses. Para Rabah, parte de uma “propaganda de guerra disfarçada de notícia”.
“O que ela disse, inclusive com uma espécie de longa introdução à sua fala, explicando-se, justificando-se para concluir pelo extermínio palestino, acontece quando, diante da matança indiscriminada ação israelense, já era alertado que acontecia a maior matança de crianças e mulheres já vista em conflitos bélicos convencionais, ou seja, quando já era patente, porque era televisionado, que se tratava de um genocídio”, lembra Rabah, para cravar que “se tratou de defesa consciente, não meramente de uma ideia a realizar, ou de uma ‘opinião’, ainda que genocida, mas, sim, da defesa do que estava em curso, de um genocídio nitidamente em curso”.
Para Judeh, manifestações como a de Aline Klemt chegam a ultrapassar o incitamento ao genocídio ao povo palestino em Gaza, transbordando sobre as comunidades palestinas em todo o mundo. Ele lembra que nos primeiros dias, quando o noticiário era avassalador em defesa das ações israelenses, os ataques aos palestinos e seus descendentes, e também aos árabes e muçulmanos em geral, em alguns países ocidentais, dispararam. Ele lembrou de caso nos EUA, em que um homem de 71 anos, contaminado pelo noticiário com narrativa pró-Israel, atacou a facadas, em 15 de outubro, uma mulher palestina e seu filho de seis anos. O menino sofreu 26 facadas morreu em decorrência dos ferimentos.
O jurídico da Fepal seguirá acompanhando este caso, além de diversos outros, idênticos ou semelhantes, em curso no judiciário brasileiro, no RS e em outros estados, todos instaurados a seu pedido.
Agora o Ministério Público do RS determinou a juntada de certidões de antecedentes criminais da indiciada. “Seguiremos acompanhando de perto este caso, para que a lei seja aplicada”, observou Judeh.
Fonte: Brasil 247