É necessário reverenciar o heroísmo dos que combateram e deram suas vidas pela libertação
(Foto: Reprodução)
247, por José Reinaldo Carvalho - A vitória sobre o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial constitui um magno acontecimento da História da humanidade. As forças progressistas do mundo contemporâneo devem rememorar essa conquista, para extrair as lições dos trágicos acontecimentos que marcaram o período de vigência do nazifascismo e os horrores da guerra.
É necessário reverenciar o heroísmo dos que combateram e deram suas vidas pela libertação. Necessário também defender as conquistas democráticas e sociais decorrentes do triunfo sobre o nazifascismo, expressão terrorista do capital monopolista e do imperialismo, responsável pelo desencadeamento da guerra de agressão e rapina que provocou cerca de 75 milhões de mortos, dos quais cerca de 27 milhões de cidadãos soviéticos, por inúmeros sofrimentos e o horror dos campos de concentração nazistas.
Ainda hoje é preciso combater as falsificações históricas e reafirmar que foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, dirigida pelo Partido Comunista que com seu Exército Vermelho, o heroísmo de seus soldados e do povo soviético, o fator decisivo para que se chegasse ao Dia da Vitória, em 9 de Maio de 1945.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi resultado do agravamento das contradições interimperialistas e, simultaneamente, do propósito da destruição do primeiro Estado socialista, a URSS, expresso, nomeadamente, no apoio e conivência do Reino Unido, França e Estados Unidos com o rearmamento e ambição expansionista da Alemanha nazista.
A vitória sobre a Alemanha nazista e os seus aliados foi alcançada graças à contribuição decisiva da União Soviética socialista.
A guerra envolveu direta ou indiretamente 80% do mundo, causou imensas dores, ingentes e indeléveis sacrifícios, provocou dezenas de milhões de mortes e incontáveis destruições materiais.
A Segunda Guerra Mundial começou como um confronto entre as grandes potências capitalistas. A rigor, com o final da Primeira Guerra (1914-1918), não terminara a luta pela redivisão do mundo, por mercados, zonas de domínio e influência. Nem a disposição das potências imperialistas para levá-la a efeito por meio da violência. Era a sobressaltos que se afigurava o fenômeno do desenvolvimento desigual do capitalismo no curso da nova fase monopolista.
A Alemanha, então a potência mais agressiva, visava a impor sua hegemonia na Europa e ampliar seu império para o Oriente Médio e a África. O Japão pretendia a hegemonia na região do Pacífico, convertendo em suas colônias a China, a Coreia, a Indonésia, a Indochina, a Índia e as ilhas do Oceano Pacífico. Já os fascistas italianos sonhavam em transformar o Mar Mediterrâneo num “lago italiano” e ocupar a Argélia, a Tunísia, a Córsega e outros territórios. Visava ainda ao domínio sobre os Bálcãs.
Esses objetivos entravam em contradição com os interesses da Inglaterra, da França e da nova potência imperialista emergente, os Estados Unidos da América. Foi por esta razão que do lado oposto ao eixo Alemanha-Itália-Japão, enfileirou-se a coalizão formada por aquelas três potências ocidentais.
Acontecimentos trágicos que marcam indelevelmente a história da humanidade devem ser sempre lembrados para que não se repitam, se as gerações posteriores forem capazes de extrair os ensinamentos pertinentes. Por isso é necessário recordar alguns fatos anteriores ao Primeiro de Setembro de 1939, quando a guerra começou.
Pacto anti-Comintern
Pouco recordado, um dos episódios mais pedagógicos a esse respeito foi o chamado “pacto anti-Comintern”. Em outubro de 1935, as tropas italianas invadiram a Etiópia. Alemanha e Itália empreendiam ações para esmagar a luta republicana e democrática do povo espanhol. Os dois países mantinham entendimentos para dividir as zonas de influência na Europa e aplicar uma política internacional comum.
Em 1936, representantes do Japão e da Alemanha assinaram em Berlim o “pacto anti-Comintern”, ao qual se uniu a Itália. Tratava-se de um esforço para convencer a opinião pública de que o seu objetivo era a luta contra o comunismo, especialmente contra o Comintern (o Comitê da Internacional Comunista).
Por outro lado, Estados Unidos, Inglaterra e França desenvolviam uma política de suposta neutralidade e "não intervenção", calculando superar as contradições com os países fascistas às custas da União Soviética. Essas três potências estimavam que, na luta contra a agressão fascista, os seus adversários se debilitariam, o que lhes permitiria manter suas zonas de influência e de ocupação colonial e liquidar a União Soviética como país socialista.
A política de “não intervenção” visava a isolar a União Soviética e criar as condições para uma grande cruzada dos países imperialistas contra esta, utilizando como força de ataque o fascismo alemão e o militarismo japonês. Diante de tal situação a União Soviética seguiu a política da segurança coletiva, segundo a qual os países interessados em sua segurança nacional deveriam manter laços entre si com tratados de ajuda mútua a fim de se defenderem de agressões.
A direção soviética advertiu que a política de não intervenção significava um encorajamento à agressão, permitia deixar o terreno livre à guerra e transformá-la em guerra mundial. Ficava claro nessa política de não intervenção o obscuro desejo de que, na frente oriental, o Japão entrasse em guerra contra a China e ainda mais contra a União Soviética. Nunca fez parte dos planos das potências imperialistas realizar qualquer ação que impedisse que a Alemanha golpeasse a União Soviética. O que pretendiam era fazer com que a Alemanha e a União Soviética se debilitassem numa guerra entre si para depois sair em cena com suas forças ilesas, e, no “interesse da paz”, impor as suas condições aos países beligerantes debilitados.
O complô de Munique
É nesse quadro que tem lugar o “complô de Munique”. Em março de 1938, as tropas hitleristas entraram na Áustria, sem nenhuma resistência e proclamam a anexação do país. Apesar de ter sido uma agressão e uma clara demonstração dos planos expansionistas da Alemanha, os governos ocidentais reconheceram a anexação, que não deixava de ser um encorajamento a esses planos.
A conferência de Munique, entre chefes de governos da Alemanha, Inglaterra, França e Itália, realizada em setembro de 1938, chancelou os planos alemães e configurou-se como uma desonrosa cedência da parte da Inglaterra e França, por isso mesmo não foi isenta de contradições.
Os acordos ali assinados previam que a Tchecoslováquia entregasse à Alemanha no prazo de dez dias a região dos Sudetos e outros territórios fronteiriços, o que equivalia à completa liquidação do Estado Tchecoslovaco.
A política de cedências, que representava também um perigo para os países que a praticavam, não era isenta de contradições. Havia setores que enxergavam que tal política inflaria o bloco dos países fascistas, pois era óbvio que estes apresentariam novas exigências de anexações, o que entraria cada vez mais em contradição com os interesses da própria Inglaterra, da França e dos Estados Unidos.
Antes de se tornar primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, partidário da política de enfrentamento militar a Hitler, fez um discurso na Câmara dos Comuns (parlamento britânico) criticando a posição adotada na Conferência de Munique: “Escolhemos uma derrota, sem guerra, cujas consequências nos acompanharão longe em nosso caminho”. “Vocês escolheram entre a guerra e a desonra; escolheram a desonra e terão a guerra”. Mais tarde, em suas memórias, o líder britânico, que de pró-soviético não tinha nada, muito ao contrário, escreveu: “A oferta dos soviéticos foi de fato ignorada. Eles não foram consultados em face da ameaça hitlerista e foram tratados com indiferença, para não dizer com desdém, o que marcou o espírito de Stálin. Os acontecimentos se desenvolveram como se a Rússia Soviética não existisse. Pagamos terrivelmente por isso”.
Pacto germano-soviético
A primeira reação política e diplomática da União Soviética foram as conversações de Moscou, em março de 1939, com França e Inglaterra, visando a firmar um tratado de ajuda mútua, para a eventualidade de uma agressão alemã. Enquanto isso, os países imperialistas mantinham entendimentos secretos com Hitler a fim de dividir zonas de influência no mundo. Foi o que levou a União Soviética ao controvertido, mas demonstrado pelos fatos como salvador, tratado de não agressão com a Alemanha, em 1939. Com o tratado, a União Soviética temporariamente neutralizou a agressão nazista e paralisou os esforços dos imperialistas ingleses e franceses para isolá-la.
A recordação desses fatos e o resgate das decisões táticas e estratégicas da época servem para extrair lições, o que pode ajudar as forças anti-imperialistas de hoje a melhor se situar nos quadros complexos com que se defrontam.
Caráter patriótico da resistência
Tendo sua origem nas contradições interimperialistas, a Segunda Guerra Mundial foi gradualmente mudando de caráter. Os povos dos países ocupados ergueram-se na resistência popular-nacional antifascista, passando a protagonizar uma justa luta democrática e de libertação nacional. Os próprios Estados capitalistas, a partir do desencadeamento da guerra, viram-se confrontados com o perigo nacional, o que criou condições para a formação de um amplo e poderoso movimento patriótico e antifascista.
Para os povos do mundo e as forças progressistas e revolucionárias que tomavam a frente de suas lutas, apresentou-se o imperativo e combater pela democracia e a libertação nacional. Para os povos da União Soviética, então liderada por Stálin, o principal desafio passou a ser, a partir da invasão alemã do seu território, empreender a guerra patriótica em defesa da pátria do socialismo.
Formou-se, assim, uma frente antifascista de dimensões mundiais. Os próprios países capitalistas, nas condições da ameaça que a Alemanha nazista representava para a sua soberania e integridade, uniram-se à luta dos povos do mundo e da União Soviética.
Decerto, as potências ocidentais não eram aliados confiáveis, mantinham posição ambígua e vacilante quanto à causa da libertação dos povos e da democracia. Isto tinha ficado patente quando da assinatura do Pacto de Munique, quando essas potências alimentavam o desejo de jogar a Alemanha contra a União Soviética, julgando que assim contornavam a guerra contra si próprias.
Malgrado o caráter imperialista dos aliados, a frente antifascista foi indispensável e salvou a humanidade de uma tragédia maior.
A vitória sobre o nazi-fascismo seis anos depois, a conquista de democracia e da paz, coroou o esforço de guerra dos aliados, a luta dos povos e a direção lúcida e justa da União Soviética, que na sequência da vitória passou a liderar o bloco que o escritor Jorge Amado chamaria de "o mundo da paz".
Quase oito décadas depois do término da Segunda Grande Guerra, a humanidade se vê ameaçada por novos conflitos. O ambiente internacional encontra-se carregado por ameaças neocolonialistas, guerras comerciais, ingerência nos assuntos internos de países soberanos, violações ao direito internacional, direitização da vida política, criminalização dos movimentos sociais e todo tipo de contradições que podem desembocar em novas tragédias.
Somente a união dos povos e sua mobilização na defesa consequente da soberania nacional, da democracia e da paz serão capazes de conjurar o perigo de guerra.
Fonte: Brasil 247