Jornalista chama de "inacreditável" a postura da oposição de "sustentar a versão delirante de que é Lula que tem que se explicar. Bolsonaro conspirou à luz do dia. Todos viram"
Míriam Leitão, Bolsonaro e Lula (Foto: Reprodução | REUTERS/Adriano Machado | Ricardo Stuckert)
A jornalista Míriam Leitão, em artigo publicado no jornal O Globo neste domingo (23), afirma que "o Brasil, a democracia, e o governo Lula (PT) foram vítimas no episódio de 8 de janeiro. Essa é a única verdade factual". No entanto, ela aponta: "por incrível que pareça, o governo está se deixando ficar na defensiva, pela série de erros estratégicos que cometeu".
"Não deveria ter colocado as imagens em sigilo, deveria ter analisado todas essas cenas com rapidez, para entender o comportamento de cada um dos servidores e não ser surpreendido, como foi na semana passada. Deveria ter feito uma imediata e completa mudança no Gabinete de Segurança Institucional, um dos centros mais ativos da conspiração antidemocrática", diz Míriam Leitão.
Ela reafirma que "o que houve no dia 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe de estado. Isso é inequívoco. Ninguém deveria ter que escrever isso novamente como faço agora. Imagina o que teria acontecido se o presidente Lula não tivesse voltado imediatamente para Brasília, se não tivesse mobilizado todos os poderes e a federação em torno da defesa da democracia? Imagina se os golpistas tivessem conseguido provocar um efeito contágio em outras capitais? Tudo ficou extremamente frágil naquelas horas tensas do 8 de janeiro. Um governo, ao fim da sua primeira semana, ainda comemorando os ecos da festa da posse, foi atacado por vândalos que haviam sido açulados pelo ex-presidente durante quatro anos e cevados na frente de quartéis do Exército.
Criminosos atacaram todos os símbolos do poder da República, com sanha demolidora. Imagina se Lula tivesse aceitado a proposta de assinar um decreto de Garantia da Lei e da Ordem? Passaria a ser uma sombra em seu próprio governo, tutelado pelos militares".
Ela chama de "inacreditável" a tentativa da oposição de "querer inverter o ônus da prova e sustentar a versão delirante de que a culpa é da vítima e de que é o governo Lula que tem que se explicar. Bolsonaro conspirou à luz do dia. Todos viram".
"Foi a soma dos acertos do governo Lula que evitou o pior. Mas os erros cometidos desde então o colocaram na kafkiana situação em que está agora", diz Míriam, falando sobre a CPMI que deve ser instalada no Congresso Nacional para investigar o 8 de janeiro e que pode, se dominada por bolsonaristas, se voltar contra a gestão Lula e contra a verdade. "O governo precisa reagir, mostrar competência política para fazer a verdade prevalecer na CPI e, ao mesmo tempo, negociar a tramitação das matérias importantes para o projeto da administração como, por exemplo, o arcabouço fiscal. A luta do 8 de janeiro não terminou. Os que cometeram crimes, ou se acumpliciaram com os criminosos, querem mudar a História. Se a mentira prevalecer sobre o que foi aquele momento, não é o governo que ficará mal, é a democracia que correrá riscos mais uma vez".
Fonte: Brasil 247 com jornal O Globo