Presidente do Congresso disse que a crise gerada pela demissão do chefe do GSI não muda a disposição do pedido de criação da comissão mista formada por deputados e senadores
Reuters - O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que vai ler no dia 26, próxima quarta-feira, o requerimento de criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os ataques de 8 de janeiro.
Pacheco disse ainda que é preciso esclarecer os fatos que levaram à demissão do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general da reserva Gonçalves Dias.
G. Dias, como é conhecido, caiu após a divulgação de imagens que o mostram circulando pelo Palácio do Planalto em meio aos ataques ao local em janeiro. A oposição usa o vídeo para inflamar os pedidos pela instalação da CPMI, onde pretendem insistir na tese de que o governo Lula facilitou os ataques dos apoiadores bolsonaristas em janeiro para faturar politicamente.
Para Pacheco, o caso envolvendo G. Dias, como é conhecido, não muda sua disposição de proceder à leitura do pedido de criação da comissão formada por deputados e senadores, ao argumentar que a CPMI preenche os requisitos para funcionar.
"Para efeitos da CPMI, não há mudança alguma, acho até que o governo deveria ter tido essa postura desde o início, uma postura que tive em afirmar a gravidade do 8 de janeiro, das consequências daqueles atos antidemocráticos e que era legítimo ao Parlamento fazer as investigações próprias relativamente a isso", disse ele, em entrevista para o LIDE Brazil Conference, em Londres.
Pacheco justificou não ter feito a leitura do requerimento na terça, dia 18, porque houve um pedido dos líderes da maioria da Câmara e do Senado para adiar a realização de uma sessão do Congresso para que, num encontro futuro, se pudesse apreciar também, além da questão da CPMI, o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o piso nacional da enfermagem.
Entretanto, nos bastidores, o senador atuou em linha com o governo para não realizar a sessão do Congresso na terça, mesmo diante de cobranças de parlamentares da oposição. Àquela altura, e antes da queda de G. Dias, o Palácio do Planalto e aliados ainda alimentavam a possibilidade de barrar a CPI com a eventual retirada de apoios.
O governo queria evitar a comissão de inquérito para não atrapalhar a agenda de reformas em meio à chegada do arcabouço fiscal ao Congresso, mas passou a publicamente apoiar após a saída na véspera do chefe do GSI.
Após a leitura do requerimento de criação da CPI por Pacheco, deputados e senadores terão até a meia-noite de quarta para manterem, retirarem ou mesmo acrescentarem novos apoios. A comissão só será efetivamente instalada se houver o apoio, após esse período, de ao menos 171 deputados e 27 senadores.
O presidente do Congresso disse que o caso que levou à saída do chefe do GSI tem de ser esclarecido, destacando que qualquer pessoa que tenha direta ou indiretamente contribuído para os "atos lesivos à democracia devem responder por esses atos", sejam cidadãos comuns que invadiram os prédios públicos ou autoridades lenientes e tolerantes.
Pacheco considerou que a demissão de Gonçalves Dias "evidentemente" não é algo desejável, mas ocorre na política.
G. Dias se tornou o primeiro auxiliar direto de Luiz Inácio Lula da Silva a deixar o gabinete no terceiro mandato.
Fonte: Brasil 247 com Reuters