Um dos pontos altos foi a tradicional colheita simbólica na lavoura, que envolveu dirigentes nacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), parlamentares, o ministro Teixeira e a especialista em alimentação saudável, Bela Gil. O momento foi comemorado com cantoria, aplausos e o grito de ordem “Viva a Reforma Agrária”, como reconhecimento às famílias que optaram por produzir alimentos saudáveis e preservar o meio ambiente.
Conforme Nelson Krupinski, do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, realizar a Festa da Colheita num território 100% livre de agrotóxicos e de transgênicos é simbólico e reforça o compromisso do MST com a vida. “Aqui são produzidas mais de sete mil toneladas de arroz orgânico, mas também tem hortaliças, feijão, milho, panifícios.” Ele agradeceu aos parceiros do movimento e entidades de pesquisas que ajudaram a viabilizar, há mais de 20 anos, o cultivo de arroz orgânico através de inúmeros experimentos.
O MST lidera há mais de dez anos a maior produção de arroz orgânico da América Latina, conforme o Instituto Riograndense de Arroz (Irga). A estimativa é colher mais de 16 mil toneladas na safra 2022/2023, em uma área de 3,2 mil hectares, segundo levantamento do Grupo Gestor. A produção, que envolve 352 famílias e sete cooperativas, ocorre em 22 assentamentos localizados em nove municípios das regiões Metropolitana, Sul, Centro Sul e Fronteira Oeste do estado. As principais variedades plantadas são de arroz agulhinha e cateto.
O município sede do evento é conhecido como a Capital do Arroz Orgânico, título que foi conferido a partir da Lei 4.751/2018, de autoria do então vereador e hoje deputado estadual Adão Pretto Filho (PT). Esse reconhecimento é fruto do trabalho cooperado das famílias assentadas, que além de contribuírem com a economia local, transformaram Viamão no maior produtor de arroz orgânico do Rio Grande do Sul. Lá, são cultivados 1.600 hectares do alimento.
Para reafirmar o comprometimento com esse modelo de produção e avançar na sustentabilidade, o MST inaugurou hoje a Unidade de Produção de Bioinsumos Ana Primavesi, viabilizada numa parceria entre o movimento, a Cooperativa Dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) e Associação Internacional para Cooperação Popular (BAOBAB). A partir dela, os assentados poderão produzir seus próprios insumos, o que é sinônimo de mais autonomia e menos dependência das grandes empresas, além de crescimento da renda das famílias e melhoria da fertilidade do solo.
De acordo com Dioneia Ribeiro, produtora de arroz orgânico e integrante do Grupo Gestor, serão fornecidos bioinsumos para três mil hectares. “Estando vinculada às cooperativas da Reforma Agrária, é um marco no avanço da agroecologia em nosso país, sendo a primeira desse porte sob controle de famílias camponesas”, afirmou.
O uso de bioinsumos na produção de arroz orgânico já ocorreu nesta safra, em 28 hectares destinados à pesquisa. Para a próxima, o objetivo é utilizá-los em toda a área de produção do alimento no Assentamento Filhos de Sepé. Além disso, será expandido para todo o Grupo Gestor, contemplando ainda a produção orgânica de hortaliças, feijão, milho e soja.
Ato político, anúncios e reivindicações
A Festa da Colheita também contou com ato político. O ministro Paulo Teixeira ressaltou que o presidente Lula tem responsabilidade com a Reforma Agrária e que a melhor forma de combater a pobreza e a miséria no campo é permitir, entre outras questões, o acesso dos trabalhadores à terra e ao crédito. “Estou colocando em debate um modelo de Reforma Agrária que seja de ocupação por agrovilas, com infraestrutura de luz e internet, com agroindústrias e cooperativas que possam desenvolver a terra. Nós queremos educação no campo e remodelar os créditos para que os mais pobres acessem, que contemplem as cooperativas e desenvolvam agroindústrias no campo”, informou.
João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST, reforçou que o objetivo do movimento é produzir alimentos saudáveis, livre de agrotóxicos e sem trabalho escravo, em referência aos recentes casos ocorridos no RS. Destacou ainda a importância da organização social, para contribuir com o governo Lula e mudar a política econômica. “A fome é o ponto zero. Mas só dar comida não resolve o problema do Brasil. O que resolve é construir um outro projeto de nação, com soberania, e que de fato faça as mudanças estruturais no país”, observou.
A direção nacional do MST entregou reivindicações ao governo federal. O documento pede o assentamento imediato das 65 mil famílias acampadas no país, que vivem nesta situação há mais de 10 anos, e também a constituição de políticas públicas para as 500 mil famílias que já estão assentadas, com garantia de crédito estrutural e assistência técnica para organizar a produção de alimentos e impulsionar o desenvolvimento. Outro ponto é sobre investimentos na educação do campo, especialmente por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). O objetivo é se reunir em breve com o centro do governo federal para discutir a pauta.
A programação também contou depoimentos sobre direito humano e alimentação, momento que teve a participação da culinarista Bela Gil. Ela disse que não é possível falar em comida saudável sem falar em distribuição de terra e Reforma Agrária, e que tem muita esperança de que, com o atual governo, essas questões sejam resolvidas. “Precisamos rever como se produz, distribui e se consome os alimentos, para construir propostas e políticas para alimentar o povo com comida saudável”, apontou.
Na programação, aconteceu ainda uma encenação, que alertou para os impactos do uso de agrotóxicos na agricultura e destacou a resistência e a unidade da classe trabalhadora para a construção de uma sociedade mais justa e a efetivação da Reforma Agrária Popular. Ao meio-dia, foi servido arroz carreteiro, prato típico do estado. Durante todo o evento, os participantes puderam visitar a feira que colocou à disposição uma variedade de produtos in natura e agroindustrializados. O espaço reuniu expositores do RS, Minas Gerais e Santa Catarina.
Também prestigiaram as festividades Edegar Pretto, próximo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); parlamentares do PT, PSol, PCdoB e PDT; e representantes do governo do Estado, da Secretaria-Geral e da Comunicação Social da Presidência da República (Secom), de diversas entidades, universidades e movimentos sociais.
Fonte: DCM