"O dólar não cai por conta de pessoas sérias, mas dos especuladores", afirmou o presidente eleito durante encontro com a sociedade civil na COP27
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
247 - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu na COP27 nesta quinta-feira (17) com representantes da sociedade civil e fez críticas ao teto de gastos.
Ele afirmou ser necessário manter o olhar para a agenda social, e não só para a fiscal. "Não adianta ficar pensando só em dado fiscal, mas em responsabilidade social. Vai aumentar o dólar, cair a bolsa? Paciência. O dólar não cai por conta de pessoas sérias, mas dos especuladores".
"O que é o teto de gastos? Se fosse para discutir que não vamos pagar a quantidade de juros do sistema financeiro que pagamos todo ano, mas mantivéssemos os benefícios, tudo bem. Mas não, tudo o que acontece é tirar dinheiro da educação, da cultura. Tentam desmontar tudo aquilo que é da área social", completou.
Lula finalizou o discurso sob aplausos e coros de "o Brasil voltou".
Veja os principais trechos da fala do presidente:
"Queria dizer para vocês da imensa alegria e do imenso prazer de poder estar vivendo este momento. Possivelmente pela juventude de vocês, muitos não compreendem o significado de uma reunião como essa. Não há disposição de muitos governantes no mundo de participar de uma reunião dessas com a sociedade civil";
"Muitas vezes os governantes não gostam de ser cobrados e começam a tratar as pessoas como se fossem oposição, quando, na verdade, a cobrança é tão boa ou melhor do que aqueles que concordam, pois ela sempre nos mostra que há algo a fazer";
"Depois de tudo o que aconteceu no Brasil, na minha vida, voltar a ser presidente do Brasil, com a participação de mulheres, povos negros, jovens, e poder fazer uma estreia a nivel internacional, em um espaço da ONU, em um tema que interessa muito ao Brasil, estou feliz;
"Os fóruns da ONU não podem ser discussões intermináveis. Às vezes tenho a impressão que as decisões precisam ser cumpridas. precisamos de um órgão de governança global que possa discutir o que fazer. Muitas vezes, o dinheiro prometido aos países em desenvolvimento também não sai. Os US$ 100 bilhões foram prometidos em 2009, e sinceramente, as pessoas parecem que se esquecem. Por isso cobrei, lembrei que há uma dívida que precisa ser paga para os países que têm floresta sejam recompensados para cuidar daquilo";
"Como pode, pouco tempo depois, o país perder essa alegria. Como é que pode esse país que chegou a ser a sexta economia, cair para 13? Andamos para trás";
"Sempre digo que as pessoas mais humildes subiram só um degrauzinho na escala social da nossa História, mas muito pouco foi muito para um país que não estava habituado a cuidar das pessoas mais humildes. Esse é o tipo de melhora que não pode parar e eles pararam. Pararam de investir na universidade, na tecnologia, nas escolas técnicas... Até a cultura, extremamente importante para formação do povo, eles acabaram. Na lógica deles, cultura é uma coisa perigosa, que mexe na consciência das pessoas";
"A principal razão pela qual eu assumi a minha candidatura para voltar a ser presidente é que eu acho que é possível fazermos esse país voltar a ser feliz, é possível garantir que a juventude pode planejar, ter perspectiva de futuro";
"Vamos pegar um país pior do que em 2003, com o desmonte e descrédito das instituições. Passamos a ter um Executivo sem nenhuma relação com a sociedade brasileira. Que, em quatro anos, não se reuniu com ninguém da sociedade civil, mas ofendeu mulheres, negros, periferia, portadores de deficiência. A nossa tarefa é recuperar, porque eu não vejo o Brasil dar certo sem envolver a sociedade nas decisões. Vamos fazer conferências com a juventude, com os povos negros, com as mulheres. A gente não tem que ter medo de ouvir as coisas ou de ouvir o que não gostamos de ouvir. Quando se dispõe a governar o país, não tem que pensar só nas coisas boas. Tem que ouvir e ter a humildade para ver que está errado. O Brasil precisa ser recuperado";
"Quero provar que é possível aumentar salário mínimo, gerar empregos, ter mais pessoas pobres na universidade, na escola técnica";
"Vamos criar o Ministério da Cultura, fazer o país fervilhar do ponto de vista da cultura, inclusive levá-la onde tem que estar, não apenas no teatro municipal, mas à periferia do país";
"Queremos estar onde muitas vezes a sociedade branca não está. Fazer um país mais humano. Se não resolvermos a situação social, não vale a pena governar o país";
"Não adianta ficar pensando só em dado fiscal, mas em responsabilidade social. Vai aumentar o dólar, cair a bolsa? Paciência. O dólar não cai por conta de pessoas sérias, mas dos especuladores. O que é o teto de gastos? Se fosse para discutir que não vamos pagar a quantidade de juros do sistema financeiro que pagamos todo ano, mas mantivéssemos os benefícios, tudo bem. Mas não, tudo o que acontece é tirar dinheiro da educação, da cultura. Tentam desmontar tudo aquilo que é da área social";
"Temos que garantir que vamos aumentar o salário mínimo acima da inflação. É por isso que vamos criar o Ministério dos Povos Originários. Ter uma relação concreta com os povos indígenas do país. Não podemos aceitar mais a ideia que 14% da terra está nas mãos dos indígenas, mas não dizem que a terra é do Estado. Vamos reconhecer os quilombos brasileiros";
"Voltei com disposição de fazer o que não fiz da última vez, fazer mais";
"O verdadeiro empresário do agronegócio sabe que não pode fazer queimada. Sabe onde não pode queimar, onde não pode derrubar. Nós vamos evitar que haja exploração de garimpo em terras indígenas. Não me preocupo quando dizem que o agro não gosta do Lula. Não quero que gostem, mas que me respeitem. Não é necessário cortar árvores. O que precisamos é uma frase que a Marina [Silva] dizia em 2003: 'o que interessa não é proibir, mas dizer como fazer as coisas'";
"Derrotamos o Bolsonaro, mas o bolsonarismo se mantém aí. Vocês estão vendo a violência com que eles atacam as aldeias indígenas. Vocês sabem o que acontece e a fúria dos madeireiros. Vamos precisar ter muito mais competência, habilidade";
"Vamos precisar ter muito mais competência, habilidade. Não podemos ficar brigando e não governar. O nosso povo tem que voltar a tomar café, e almoçar todo dia";
"Tenho orgulho de vocês. Graças a Deus eu sou eleito presidente deste país que tem um povo como vocês, que possa me ajudar a fazer a reconstrução ideológica, política e social do Brasil";
"Se não tivermos uma ONU forte, não vamos lidar com a questão do clima como precisamos";
"Vai tentar fazer a cúpula dos países amazônicos... Todos vizinhos e nunca se reuniram. O Brasil tem que tomar iniciativa";
"Muito obrigado por tudo o que fizeram até agora e precisarão fazer. Só quero que saibam que nossa volta tem o significado de reconstruir o nosso país. Será uma tarefa imensa, e eu quero que vocês nos ajudem a reconstruir esse país".