Para editora da revista Jacobin, esquerda tem de ajudar a fechar flancos para evitar volta da direita miliciana fascista; assista
Aline Klein (Foto: Reprodução)
Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - A editora da revista socialista Jacobin no Brasil, Aline Klein, afirma que a esquerda brasileira, seja revolucionária ou reformista, terá de se mobilizar para ajudar o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva a blindar o Brasil da possibilidade de retorno da extrema direita de inspiração neofascista.
Em entrevista ao jornalista Haroldo Ceravolo Sereza no programa SUB40 desta quinta-feira (03/11), ela defendeu a atuação das forças progressistas em duas frentes nos próximos anos: para defender o governo eleito e para exigir dele ações políticas à esquerda.
“O conjunto dos socialistas vai precisar arregaçar as mangas e participar das pressões pelo fim da fome, para resolver o caos da dinâmica do trabalho no Brasil e para fechar os flancos para que a gente não viva de novo uma experiência com governos de extrema direita. Lula por si só não opera milagres. Não foi uma vitória fácil e tranquila, ele não recebe um país pacificado. A extrema direita conseguiu organizar 58 milhões de votos e fazer esse circo de horrores nas ruas nos últimos dias”, argumenta a organizadora do livro recém-lançado ABC do Socialismo (ed. Autonomia Literária).
Valendo-se de conceito da filósofa marxista Rosa Luxemburgo, Klein descarta que haja contradição entre esquerda revolucionária e reformista, vendo antes complementariedade entre as duas vertentes: “as reformas significam construir poder, dar condição para que a classe trabalhadora e o movimento socialista obtenham vitórias e avanços. Todo aquele que se diz socialista deve agora ajudar a construir um governo de esquerda que feche os flancos no nosso país para essa direita”.
Para isso, a esquerda deve ocupar espaço no governo, em vez de deixar vazios que levem o PT a fazer unidade com partidos de direita como o União Brasil. Em sua interpretação, Lula tem chamado a unidade à esquerda em seus discursos, como quando anuncia, por exemplo, a criação do Ministério dos Povos Originários.
A editora classifica os bloqueios de rodovias como manifestações de um setor desgarrado e perdido nas “brumas da mentira” aplicadas por Jair Bolsonaro, mas com suporte econômico evidente: “em parte esses bloqueios, muitos deles em Santa Catarina, foram organizados com estrutura absurda de alimentação e barracas, com dinheiro que a burguesia e a elite catarinense tinham dado. Aquele churrasco estava preparado para a vitória do Bolsonaro. Gastaram carne que já estava comprada, agora não tem mais carne”.
A força mobilizadora do presidente não encontra eco em sua capacidade política: “Bolsonaro mostra fragilidade nesse campo, perdeu todos os apoios, vai ser obrigado a fazer a transição. Não acredito que a coisa se massifique, mas existe resistência, e a gente vai ter que disputar o fundamentalismo religioso e a cultura reacionária que o agronegócio impôs em algumas regiões do país”.
Segundo a editora, entre as ambições da revista Jacobin e do livro ABC do Socialismo está a de apresentar as ideias socialistas e fazê-las se tornarem atraentes para a juventude brasileira.
Filha de uma família de trabalhadores, Aline Klein milita pelo socialismo desde a adolescência e, na eclosão das Jornadas de Junho de 2013, cursava geografia na USP e trabalhava no setor de separação de produtos da fábrica da Natura, depois de exercer ofícios precarizados como secretária, recepcionista e atendente de callcenter.
Na fábrica, encontrou uma realidade bem diferente da aprendida nos manuais socialistas e comunistas: “tudo mudou muito. A maioria dos meus colegas era de universitários que tiveram acesso pelo governo Lula, e que saíam assim que tinham uma oportunidade fora do setor industrial”.