Em ambos os casos, há dúvidas sobre o potencial de mudança de votos
BRASÍLIA (Reuters) - Os desempenhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro confronto direto deste segundo turno, o debate da noite deste domingo, foram comemorados por ambas as campanhas, cada lado avaliando que o seu candidato foi melhor, mas ambos admitindo que o encontro pode não ser suficiente para mudar votos.
Na campanha de Bolsonaro, fontes ouvidas pela Reuters avaliaram o resultado como o melhor desempenho de Bolsonaro em todos os debates que participou até agora, mas admitem que não há como dizer se o resultado é suficiente para tirar a diferença de votos de Lula, que venceu o primeiro turno com 6,2 milhões de votos a mais.
Para o PT, o formato do debate, mais solto, em que houve confronto direto e os candidatos puderam se movimentar no estúdio, favoreceu Lula, que pôde confrontar diretamente Bolsonaro e teve uma presença de palco melhor.
"Houve um debate ideológico, e ele ficou o tempo todo puxando Lula para esse debate. Eu penso que Lula se saiu muito bem na sua proposta, que foi, primeiro, não entrar na armadilha proposta pelo Bolsonaro. Segundo, debater a vida do povo brasileiro, debater a fome, a pobreza, a miséria. Dois projetos distintos de país. Eu penso que Lula foi muito bem, nesse sentido, ele deu conta da sua proposta", disse o coordenador de comunicação da campanha, Edinho Silva.
Uma fonte da campanha de Lula considerou ainda que ficou muito marcado que Bolsonaro não respondia quando perguntado de projetos e programas.
Segundo essa fonte, Lula admitiu que administrou mal o tempo, mas a avaliação foi de que ele não teve prejuízo porque o candidato à reeleição não soube aproveitar os minutos livres que teve para falar.
Já na campanha de Bolsonaro, viram como destaque o último bloco, quando justamente houve a má administração do tempo pelo petista e o presidente teve cinco minutos para falar sozinho.
"Lula começou melhor o primeiro bloco, depois foi melhor no primeiro bloco, Bolsonaro foi entrando, começou com as mãos para trás, depois foi tendo desenvoltura, se equilibrou bem no segundo bloco, não foi agressivo com jornalistas e 'jantou' o Lula no terceiro bloco", disse uma das fontes.
A campanha admitiu ainda que a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, de impedir Lula de usar o caso das meninas venezuelanas no debate foi a "salvação" do presidente.
Em entrevista a um podcast na última sexta-feira, após as costumeiras críticas ao regime venezuelano e às condições do povo lá que gerou um forte fluxo migratório no Brasil, Bolsonaro disse que "pintou um clima" em uma visita a meninas venezuelanas na periferia de Brasília e chegou a insinuar que menores de idade daquele país estariam se arrumando para se prostituir.
Antes do debate, Bolsonaro chegou a falar que foram as "piores 24 horas da sua vida".
Lula chegou a insinuar o caso, dizendo que Bolsonaro havia levantado de madrugada para fazer uma live por estar "com a consciência pesada", mas não o citou diretamente por causa da decisão do TSE.
"Não quisemos afrontar o TSE", disse Edinho, ao ser questionado sobre o porquê de Lula não ter tratado do assunto.