O ex-presidente afirmou que Bolsonaro não tem "comportamento civilizatório" e "não conhece, não tem responsabilidade com o Brasil"
Lula e Bolsonaro (Foto: Ricardo Stuckert | Ricardo Stuckert)
247 - Em entrevista nesta quinta-feira (23) à Rádio Difusora, de Manaus, capital do Amazonas, o ex-presidente Lula (PT) afirmou que a população brasileira cometeu um "erro histórico" ao eleger Jair Bolsonaro (PL) em 2018.
Lula disse que Bolsonaro tem "comportamento fascita", ao passo que não apresenta postura "civilizatória". "A sociedade brasileira precisa se dar conta de quem em 2018 o povo brasileiro, quem sabe, tenha cometido um erro histórico, quem sabe, levado pelas mentiras, levado pelas fake news, e tenha levado esse país a cometer o maior erro histórico ao eleger uma pessoa com comportamento fascista, sem nenhum comportamento civilizatório. Esse cidadão não conhece o Brasil, não tem responsabilidade com o Brasil, não sabe a importância da manutenção da floresta [amazônica] para o planeta Terra e não sabe a importância da Zona Franca de Manaus para a sobrevivência do povo desse estado [Amazonas]. Significa que ele não conhece, que ele só sabe fazer bobagem, andar de jet ski, andar de motocicleta".
O petista lamentou o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips na Amazônia e destacou que a proteção da floresta vem sendo deixada em segundo plano desde o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). "É muito triste a morte do jornalista inglês, a morte do indigenista brasileiro. Nós vínhamos de um processo ascendente de fortalecimento da Funai, da Polícia Federal da região, da fiscalização da região em função do tráfico de armas e de drogas.
Lamentavelmente, depois do golpe que deram na presidente Dilma toda a estrutura de acompanhamento das reservas indígenas foi sendo destruído, incentivado pelos governos fascistas, [defendendo] que era importante abrir a porteira para passar o gado, abrir para o garimpo, para pescadores profissionais pescarem em reservas indígenas. É uma pena que o governo inexista nessa região. É uma pena que o governo tenha cometido um descaso com a preservação da Amazônia, com os territórios indígenas e a saúde da população".
"Nós vamos voltar a fazer aquilo que a gente já vinha fazendo. Nós tínhamos diminuído o desmatamento da Amazônia em 80%, estávamos fazendo a maior demarcação de terras indígenas da história desse país, estávamos fazendo territórios que a gente queria que fossem reservas florestais, para que a humanidade pudesse viver mais dignamente com aquilo que a Amazônia poderia contribuir. Mas de 2016 para cá a gente tem gente governando esse país que não se preocupa com isso, que passa por cima disso. Você tem um presidente da República que vai a Manaus e, em vez de visitar, quem sabe, parentes das vítimas [Bruno e Dom], vai fazer motociata como se nada tivesse acontecido, da forma mais irresponsável", acrescentou.
Lula disse que tentará visitar indígenas do Vale do Javari. "Quando eu for a Manaus, vou ver se consigo conversar com indígenas, quem sabe visitar o Vale do Javari, para que a gente possa marcar uma posição mais forte. Não haverá garimpo em terras indígenas. Essa é uma questão de lei, da Constituição, um dever moral da sociedade para com os indígenas brasileiros".
Sobre a proteção de fronteiras internacionais dentro da floresta amazônica, Lula disse que fará uma reunião nas próximas semanas com governadores para delimitar o papel do Exército e das Forças Armadas na região. "Eu vou ter uma reunião nas próximas semanas com todos os governadores do PT e dos partidos coligados para que a gente possa, a partir da experiência desses governadores, saber que política a gente pode ter para as nossas fronteiras. É preciso saber qual será o papel do Exército. Embora o Exército não tenha papel de polícia, é preciso que a gente rediscuta qual é o papel do Exército ao cuidar das nossas fronteiras. [Em segundo lugar] qual é o papel da Polícia Federal. Ela precisa fazer concurso, precisa ter mais policiais porque a gente precisa de mais gente ocupando as nossas fronteiras. Vamos ter que envolver as Forças Armadas, vamos ter que envolver a Polícia Federal para que nossas fronteiras deem segurança aos nossos estados, ao nosso povo".
Além disso, o ex-presidente prometeu, uma vez de volta à Presidência da República, convocar reunião entre presidentes dos países que fazem fronteira com a Amazônia brasileira para reforçar a segurança e
preservação da região. "Haverá possibilidade de um grande acordo".
Perguntado sobre a demarcação de terras indígenas, o petista deu sua palavra de que demarcará quantas terras forem necessárias caso seja eleito.
"Vamos demarcar o que tiver que demarcar e vamos preservar o que precisar preservar. Não se trata mais de política de governo, de partido. Se trata de uma necessidade da humanidade para que a gente possa preservar aquilo que os humanos ainda destruíram. Se o mundo está pelado é porque alguém destruiu. Se nós ainda temos a floresta amazônica com muita coisa preservada, nós precisamos ter responsabilidade, até pensando economicamente. E [demarcar] as terras indígenas é uma obrigação ética, uma obrigação moral, uma coisa de responsabilidade com aqueles que são os verdadeiros donos do Brasil. Eles não precisaram descobrir o Brasil. Eles já estavam aqui quando os portugueses descobriram. Então temos que respeitá-los, garantir o espaço necessário para que eles possam viver, do jeito que eles sabem viver, colocar sua cultura em prática. É isso que eu vou fazer".