Certo de sua derrota nas urnas, Jair Bolsonaro voltou a convocar seus apoiadores contra o sistema eleitoral
Bolsonaro tenta autogolpe com cerco ao Congresso e Judiciário (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | Isac Nóbrega/PR)
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro voltou nesta terça-feira a acusar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de atuarem a favor da eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro, e pediu que a população vá às ruas no feriado de 7 de Setembro para mostrar de que lado está.
Em entrevista ao SBT News, Bolsonaro repetiu acusações de que os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso estariam atuando para minar a liberdade e para assegurar a vitória eleitoral de Lula.
"O que está sendo organizado, por exemplo, é um 7 de Setembro onde a presença do povo estaria dando uma demonstração de que lado eles estão. Eles estão ao lado da ordem, ao lado da ética, ao lado da lei, ao lado da Constituição, da democracia, da defesa da família, contra a ideologia de gênero, contra o aborto", disse Bolsonaro.
"O que eles querem também? Querem eleições limpas, transparentes", afirmou o presidente, que voltou a levantar suspeitas sem fundamento, que já foram desmentidas, e sem apresentar evidências sobre o sistema eletrônico de votação.
O presidente voltou a repetir, mais uma vez sem apresentar provas, alegações de fraude na eleição de 2018, ao afirmar que teria vencido o pleito em primeiro turno, não na segunda rodada de votação. Indagado como agiria se a fraude alegada por ele sem apresentar evidências voltasse a ocorrer, recusou-se a responder diretamente, mas insinuou uma ameaça.
"Eu não vou entrar nessa área para você, eu não vou entrar com 'se'. Eu acho que eles sabem do meu potencial e do que o povo está pensando também. Nós queremos eleições limpas e dá tempo ainda de termos eleições limpas", afirmou.
Bolsonaro também foi perguntado qual seria a diferença entre as manifestações de 7 de Setembro deste ano e os atos na mesma data do ano passado, quando apoiadores foram às ruas com pautas antidemocráticas, como pedidos pelo fechamento do STF e de uma intervenção militar. Na ocasião, o presidente compareceu no protesto em Brasília e em São Paulo, chegando a discursar.
"Vai ser um 7 de Setembro e também um apoio a um possível candidato que esteja disputando, isso está mais do que claro. E é também uma demonstração pública de que grande parte da população apoia um certo candidato, enquanto do outro lado, do outro candidato, não consegue juntar gente em lugar nenhum do Brasil", afirmou.
"É ir às ruas, mas também agora não apenas ir às ruas, é saber o que eu pretendo fazer em ato contínuo, porque a população apenas indo às ruas não sensibiliza Alexandre de Moraes, Fachin, Barroso. Eles estão no propósito de botar a esquerda no poder novamente", acusou, sem entrar em detalhes sobre o que faria "em ato contínuo".
Fachin é o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao passo que Moraes presidirá a corte na eleição deste ano. Barroso antecedeu Fachin na presidência do TSE.
Bolsonaro recentemente entrou com notícia-crime contra Moraes no STF e na Procuradoria-Geral da República, mas os dois pedidos foram rejeitados. Na ocasião, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), admitiu que a medida visava tornar Moraes impedido de julgar casos envolvendo o presidente.
Na entrevista desta terça, ao atacar Fachin repetidas vezes, Bolsonaro disse que o magistrado deveria declarar-se impedido de participar da condução do processo eleitoral.