Com risco de perder a eleição no primeiro turno, Jair Bolsonaro acusou o ministro Edson Fachin de atuar para eleger Lula "de forma não aceitável"
Bolsonaro, Fachin e Lula (Foto: Reuters/Adriano Machado | Antonio Augusto/Secom/TSE | Ricardo Stuckert)
Lisandra Paraguassu, Reuters - O presidente Jair Bolsonaro acusou, sem apresentar provas, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Edson Fachin, de conspirar para ajudar a eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em outubro e disse ser "impossível" ele não estar em um segundo turno nas eleições presidenciais deste ano, apesar de pesquisas de intenção de voto apontarem a chance da vitória de Lula em primeiro turno.
Em entrevista ao canal Terraviva, Bolsonaro afirmou que Fachin já defendeu que Lula deveria ter participado das eleições de 2018 --à época o ex-presidente estava preso e teve sua candidatura rejeitada pelo TSE com base na lei da ficha limpa, que veda a candidatura de pessoas condenadas por órgãos colegiados da Justiça, como era o caso de Lula na ocasião.
"Não podemos esquecer que foi o Fachin o relator do processo que retirou o Lula da cadeia, e agora está à frente do TSE. Ou seja, um tremendo desgaste para retirar Lula da cadeia, está à frente do TSE e tudo faz para que não haja transparência, obviamente, no meu entender, para eleger o Lula de forma não aceitável no meu entender", afirmou.
Na sequência Bolsonaro levantou novamente acusações infundadas de fraude nas eleições de 2014 --já desmentidas pelo TSE, pela Polícia Federal e pelo PSDB, cujo então candidato, Aécio Neves, supostamente teria sido prejudicado.
"No meu tempo, lá atrás, ganhava a eleição quem tinha voto dentro da urna. Agora, parece, quero que esteja errado --é um direito meu desconfiar, é um direito meu desconfiar--, espero que não ganhe as eleições a quem tem amigo para contar o voto dentro do TSE", acusou, mais uma vez sem qualquer prova.
Ao ser questionado se participaria de debates no período eleitoral, Bolsonaro afirmou que por estratégia deixaria essa decisão em aberto, mas que participaria em um eventual segundo turno. Ao falar dessa possibilidade, afirmou que seria impossível não haver um segundo turno e novamente levantou a possibilidade de fraude no caso de perder a eleição.
"Eu vou esperar um pouco e, em havendo segundo turno - , espero que haja... Ô ministros Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes: pelo que se vê nas ruas comigo é impossível não ter segundo turno. Ou é quase impossível não ganhar no primeiro turno. Espero que nada demais aconteça, estamos trabalhando para que flua com normalidade as eleições", afirmou.
Procurada, a assessoria de imprensa do TSE não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre as declarações de Bolsonaro.
As pesquisas eleitorais feitas até agora mostram uma distância nas intenções de voto entre Lula e Bolsonaro, no primeiro turno, que variam de 9 a 21 pontos percentuais. Em alguns casos, os levantamentos apontam a possibilidade de Lula vencer sem a necessidade de uma segunda rodada de votação.
Bolsonaro e seus aliados afirmam não acreditar nas pesquisas de intenção de voto e citam as viagens do presidente, em que é recebido por apoiadores, como sinais de que tem amplo apoio entre a população.
Entretanto, as pesquisas indicam uma elevada avaliação negativa do governo, motivada principalmente pela alta da inflação, que tem impactado no bolso dos brasileiros. O presidente nega ter responsabilidade pela alta dos preços, apontando ser um fenômeno internacional, causado pela pandemia de Covid-19 e pela guerra na Ucrânia.
Um dos principais motores da inflação tem sido as altas constantes nos preços dos combustíveis anunciados pela Petrobras, estatal controlada pela União. Bolsonaro atribui os constantes aumentos à "ganância" da estatal e classificou seus lucros como "exagerados", ao mesmo tempo que exalta os lucros da estatais durante seu governo ao criticar as gestões petistas.