Em 2021 foram criados 457 novos clubes de tiro, 34% a mais que em 2020. Em 2022 já abriram outros 268. "A gente não abriu uma escola por dia, mas abrimos clubes"
247 - Em 2021, 457 novos clubes de tiro foram abertos no Brasil, o que representa um crescimento de 34% em relação a 2020, de acordo com o jornal O Globo. Significa dizer que mais de um novo estabelecimento de tiros passou a funcionar no país todos os dias.
No primeiro trimestre de 2022, 268 clubes foram criados. Atualmente há 2.070 entidades de tiro desportivo com registros ativos, de acordo com o Exército Brasileito. Os números foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação pelos institutos Igarapé e Sou da Paz.
"A gente não abriu uma escola por dia no Brasil no último ano, mas abrimos clubes", afirma a assessora especial do Instituto Igarapé, Michele dos Ramos. "Quando olhamos o aumento dos clubes e nenhum indicativo de que a fiscalização é uma prioridade dos órgãos, isso é muito preocupante. Ainda mais considerando o impacto dessa dinâmica na segurança pública nas cidades, porque há um crescimento de pessoas que transitam nesses locais com armas municiadas".
Michele dos Ramos ainda explica que há falta de fiscalização em relação aos clubes. "Em 2020, o Exército fiscalizou só 2,3% dos arsenais privados do país. Os militares visitaram apenas 7.234 dos 311.908 locais que deveriam ser inspecionados, entre casas de caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, além de lojas e clubes de tiro", diz a reportagem com base em números divulgados no boletim “Descontrole no Alvo”, do Igarapé. O instituto afirma ainda que o governo Jair Bolsonaro (PL) "está favorecendo o armamento de grupos específicos em detrimento da segurança da população em geral”.
As regras de instalação e funcionamento de tais estabelecimentos também não são totalmente claras. Dono do G16 Universidade do Tiro e Caça, o empresário Gustavo Pazzini cita uma lista extensa de documentos necessários para abrir um clube. É preciso também estar em dia com cinco órgãos. "O Exército concede a liberação do Certificado de Registro (CR), que permite atividades com produtos controlados, e fiscaliza os espaços físicos que armazenam esses itens. A Polícia Federal autoriza transações entre lojistas com permissão para vender armas de fogo. A Polícia Militar fiscaliza, por meio dos Bombeiros, as instalações físicas da sede do comércio. À Polícia Civil cabe a inspeção das pistas de tiros. Já a Prefeitura dá a licença de funcionamento", diz a reportagem.
Em nota, o Exército afirmou que não sabe dizer quantos clubes de tiro foram interditados ou fechados por irregularidades: “[os processos] não são registrados em sistema informatizado”.