Em discurso em evento com as centrais sindicais, o ex-presidente afirmou que a "centralidade da pauta" de seu eventual terceiro governo será a geração de emprego e renda
Lula (Foto: Reprodução)
247 - O ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) se encontraram nesta quinta-feira (14) com sindicalistas em São Paulo, que apresentaram a eles a pauta unificada dos trabalhadores, debatida na Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat 2022).
"O que vocês estão apresentando é quase um programa de governo, de reconstrução desse país", afirmou Lula após receber a pauta dos sindicalistas.
Em discurso, o ex-presidente afirmou que terá como a "centralidade da pauta" de seu eventual terceiro governo a geração de emprego e renda. "O emprego é sagrado. Quando a gente tem um emprego, que a gente ganha um salário que dá para levar comida para nossa casa, quando a gente tem um salário que dá para cuidar dos nossos filhos, a gente tem uma carteira assinada, seguridade, Previdência, parece que a gente está no céu. Quando a gente está desempregado, a vida vira uma desgraça".
"É plenamente possível ter um país mais justo, termos um país mais solidário, acabar com a miséria nesse país, gerar os empregos que a classe trabalhadora tanto precisa para viver com dignidade, colocar o povo humilde dentro das universidades, fazer as pessoas tomarem café, almoçarem e jantarem todos os dias. É plenamente possível fazer com que o povo possa usufruir daquilo que ele produz. E é plenamente possível o Lula e o Alckmin fazerem um chapa para reconquistar o direito do povo trabalhador desse país".
"O que está acontecendo hoje aqui é uma novidade na minha vida política. Nunca antes na história do Brasil, todas as centrais sindicais estiveram juntas para apoiar uma candidatura à Presidência da República".
"O país não merece estar passando o que está passando. Nós não lutamos quando deveríamos lutar para não permitir que acontecesse o que aconteceu no Brasil. Toda vez que neste querido país e em qualquer país da América Latina aparece um governo progressista que quer garantir que o povo trabalhador possa melhorar, aparece alguém propondo fazer um golpe, para tentar destruir as políticas de avanços sociais que o povo consegue. Temos casos mais recentes no Equador, com o Evo Morales, na Bolívia. Tivemos a Cristina Kirchner na Argentina. E tivemos um golpe no nosso país. Um golpe premeditado, pensado, arquitetado, porque quando se quer dar um golpe se constrói uma narrativa primeiro para construir na mente das pessoas a ideia de que a mentira é verdade. E a mentira se tornando verdade, você pode aplicar o golpe que você quiser, pode até fazer guerra".
"Essa mentira foi contada para dar um golpe aqui no Brasil, para me prender e me tirar do processo eleitoral. Eles perceberam agora que nós existimos independente da vontade deles, que nós não somos uma coisa qualquer. Somos uma parte da sociedade que levanta às 5h para trabalhar, que trabalhamos até às 18h, que ficamos três horas dentro do ônibus e às vezes quando chegamos em casa não temos a comida para comer. Hoje no supermercado as pessoas não conseguem mais encher o carrinho como enchiam no tempo em que governávamos esse país. Eles destruíram uma coisa sagrada para esse país, que é a soberania. Uma nação tem que ser soberana. Ela ser soberana não é apenas para tomar conta da sua fronteira, é para ela cuidar do seu povo".
"Esse país era respeitado, muito respeitado. Quem foi o presidente que fez a correção da tabela do imposto de renda. Há quanto tempo não tem correção, em um país em que o rico paga menos do que o povo trabalhador? É por isso que tenho dito que vamos ter que fazer uma reforma tributária, uma reforma tributária que leve em conta que quem ganha mais tem que pagar mais, que não permita que a pessoa que viva com seu salário de R$ 3 mil ou R$ 4 mil, ao ir comprar um produto para levar para casa para comer, pague o mesmo imposto que paga o presidente de um banco. Para a gente fazer as mudanças necessárias, para a gente fazer a política tributária necessária, é preciso que a gente eleja a maioria de senadores e deputados. Se vocês conseguirem eleger um presidente da República e um vice e a gente só eleger uma pequena parte de deputados, a gente vai chorar e o Centrão vai continuar fazendo o orçamento secreto, fazendo com que o dinheiro seja revertido para quem menos precisa".
"Devo muito ao movimento sindical. Não foram poucas reuniões que nós fizemos, que vocês foram a Brasília conversar. E lá, muitas vezes discordando, conseguimos estabelecer um governo que gerou em 13 anos 22 milhões de empregos com carteira profissional assinada. Colocamos na nossa cabeça que os mais pobres não eram um problema, seriam a solução na medida em que a gente os colocasse dentro do orçamento".
"Se criou a ideia de que os trabalhadores e sindicalistas são contra o crescimento das empresas, porque os trabalhadores são responsáveis pelo 'custo Brasil'. O que eles não percebem é que se tem uma coisa que o trabalhador quer é que a empresa dele seja grande, que ganhe dinheiro, que gere emprego, que aumente o salário. O sonho de todo mundo é de trabalhar. Quem é o ignorante que pensa que a gente quer diminuir a empresa? Quem acha que a gente fica feliz quando a Ford, a Toyota vão embora do Brasil? Sabe porque vão embora? Porque o mercado brasileiro definhou. Quando eu deixei a Presidência, em 2010, a indústria automobilística vendia quatro milhões de carros. Hoje ela vende metade. Como ela não exporta, porque quem quer exportar são as matrizes, o que acontece? O mercado interno não dá conta de absorver. Por isso precisamos gerar emprego, precisamos brigar para o salário ser justo. Quando a gente faz uma greve porque a gente quer aumento de salário, o patrão tem o direito de negar. E a gente não vê a polícia ir na casa do patrão. O Estado nunca manda a polícia numa fábrica prender o patrão. Mas quando trabalhador faz uma greve, eles colocam de pronto a polícia para bater na classe trabalhadora brasileira. Eu tenho direito de reivindicar, ele tem o direito de negar, mas o Estado não pode estar só de um lado".
"Queremos construir com o movimento sindical uma parceria para a gente reconstruir esse país. Queremos chamar as centrais sindicais e queremos chamar o presidente da Confederação Nacional das Indústrias, o presidente da Fiesp. Não vamos deixar ninguém de fora. Todo mundo vai sentar na mesa e eu quero saber qual é o compromisso de cada um para a melhoria de vida do nosso povo. E aí vamos tentar reconstruir. Vamos juntar duas experiências. Vamos tentar reconstruir em quatro anos o que eles destruíram. Temos que construir uma centralidade na nossa pauta de reivindicação, a questão do emprego. O emprego é sagrado. Quando a gente tem um emprego, que a gente ganha um salário que dá para levar comida para nossa casa, quando a gente tem um salário que dá para cuidar dos nosso filhos, a gente tem uma carteira assinada, seguridade, Previdência, parece que a gente está no céu. Quando a gente está desempregado, a vida vira uma desgraça. Eles tentaram encontrar uma solução com o trabalho intermitente, fazendo com que o trabalhador não tenha direitos. Tentaram encontrar uma solução vendendo a ideia de que os companheiros que trabalham com aplicativos são pequenos empreendedores. E a palavra é muito bonita, todo mundo quer trabalhar por conta própria. Mas você não pode ser empreendedor se você não ganha o suficiente para cuidar da sua família, se você não tem direito de descansar, não tem direito a férias, se você quando se machucar não tiver um programa para cuidar de você. Que tipo de empreendedor é esse? Precisamos obrigar que tratem as pessoas que trabalhem com aplicativo de forma mais respeitosa. O cidadão não pode carregar comida nas costas, sentindo cheiro de comida e passando fome. Não é possível. Nós não somos contra um jovem querer trabalhar entregando comida, o que somos contra é ele não ser respeitado como trabalhador, é tirarem dele o direito".
"Queremos melhorar as coisas, adaptar uma nova legislação trabalhista à realidade atual. Não queremos voltar a 1943. A gente quer fazer um acordo em função da realidade dos trabalhadores em 2023. Meu compromisso e o do Alckmin com vocês é que a gente, chegando ao governo, podem preparar uma passagem de avião porque vocês vão ser convidados a Brasília para que a gente comece a discutir. A gente não vai fazer nada na marra, a gente vai fazer é negociando. Eles têm que se preparar. Se eles hoje estão felizes porque têm um governo que não conversa com sindicato, não conversa com mulheres, com negros, com índios, com ninguém, esse país vai voltar a ter um governo que conversa com todo mundo e tenta encontrar solução por meio da negociação. Por isso, quero dizer que vamos precisar transformar essa questão da geração de emprego em uma obsessão. Queremos empregos, queremos aumento de salário, vamos reajustar o salário mínimo todo ano de acordo com o crescimento do PIB, além da inflação. Vamos ter respeito com os outros países, com toda a sociedade, mas esse país vai voltar a ter seu povo de cabeça erguida".