Ronaldo divulgou uma carta aberta à torcida cruzeirense, explicando os motivos do seu desentendimento com o Conselho Deliberativo do clube.
247 - Nos últimos dias, veio à tona uma crise que envolve o empresário Ronaldo Fenômeno e a concretização da compra do clube Cruzeiro. O jornalista Rodrigo Mattos, em sua coluna no portal UOL, explica detalhes deste imbróglio.
"Em dezembro, Ronaldo e Cruzeiro anunciaram o acordo inicial para compra de 90% da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do clube, o negócio tem que ser confirmado até abril. Nesta semana, Ronaldo pediu mudanças nos termos iniciais com a inclusão dos Centros de Treinamentos. Como reação, conselheiros cruzeirenses revelaram que o investimento de R$ 350 milhões de Ronaldo, na realidade, seria gerado pela própria SAF. Houve troca de acusações entre as partes. Desse imbróglio surgem as questões: 1) Como serão os termos finais do acordo de compra da SAF do Cruzeiro por Ronaldo? 2) Há ameaça que a negociação não se concretize? Quais seriam as consequências? 3) Em caso de confirmação do negócio, como seria a gestão da SAF? Como fica a dívida?", questiona.
"Ao contrário do que afirmou a nota inicial sobre o acordo, não há uma garantia de que Ronaldo vai aportar R$ 400 milhões de capital próprio no Cruzeiro. Pelos termos do acordo, o ex-jogador só tem a obrigação de investir de fato R$ 50 milhões do seu dinheiro. Além disso, é exigido que o jogador gere R$ 350 milhões em receitas incrementais em cinco anos. O que é isso? A gestão de Ronaldo na SAF tem que gerar esse extra a mais em relação à receita média do clube nos últimos cinco anos, que foi em torno de R$ 225 milhões por ano. Ou seja, a SAF tem que ter renda R$ 70 milhões anual superior a esse valor, isto é, em torno de R$ 300 milhões no total. Se não conseguir essa meta, aí, sim, Ronaldo precisa injetar capital próprio para complementar. Em resumo, os termos reais do acordo não condizem com o que foi anunciado pela XP em dezembro. E Ronaldo nunca corrigiu essa informação pública de seu parceiro.", explica.
De acordo com o jornalista, "a cúpula do Conselho Deliberativo do Cruzeiro não se opôs à proposta de Ronaldo de incluir os dois CTs no acordo em troca de assumir a dívida tributária. Também não se opôs à intenção do ex-jogador de entrar com um pedido de Recuperação Judicial da SAF do clube. Ou seja, a tendência é que essas duas mudanças sejam incorporadas ao acordo final. Mas, em sua carta, os conselheiros pediram "reequilíbrio de todas as questões envolvidas no negócio". Seu principal questionamento é relacionado ao investimento prometido na SAF do Cruzeiro. A questão é se os conselheiros terão força e poderão impor mudanças nesses termos, e se Ronaldo vai aceitar modificações nessa área Mas, em sua carta, os conselheiros pediram "reequilíbrio de todas as questões envolvidas no negócio". Seu principal questionamento é relacionado ao investimento prometido na SAF do Cruzeiro. A questão é se os conselheiros terão força e poderão impor mudanças nesses termos, e se Ronaldo vai aceitar modificações nessa área.".
"Não há sinalização nem de Ronaldo, nem dos conselheiros de intenção de romper o negócio. Pelo cenário atual, a tendência é que a venda seja confirmada até o meio de abril, possivelmente com um acordo. Caso o quadro mude e ocorra um rompimento, o Cruzeiro teria de devolver o dinheiro já investido por Ronaldo como se fosse um empréstimo —são R$ 23 milhões. Além disso, teria de buscar um outro investidor, em um cenário em que já houve outros interessados. Os direitos dos jogadores já foram transferidos à SAF, então, o futebol seguiria gerido pela empresa", acrescenta.
O jornalista também esclarece que "o pagamento das obrigações anteriores à constituição do Cruzeiro-SAF é de responsabilidade do Cruzeiro-Associação, pela Lei da SAF. É preciso destinar 20% da receita da SAF para o clube para quitação da dívida. Teoricamente, isso abrange todos os débitos, mas há uma discussão sobre o passivo tributário. Agora, Ronaldo quer assumi-lo: são R$ 150 milhões já parcelados. Caso Ronaldo confirme a Recuperação Judicial ou Extrajudicial por meio da SAF, terá de submeter as condições de pagamento aos credores. A vantagem é que haverá descontos maiores, e a SAF não precisará destinar necessariamente 20% da receita. Além disso, há maior segurança jurídica na recuperação. No total, o clube tem quase R$ 1 bilhão de dívida. O risco é que, se os credores não aceitarem acordo, pode ser decretada a falência da SAF do Cruzeiro, o que seria o primeiro caso no futebol do Brasil. Neste cenário, é bem provável que Ronaldo consiga bater a meta de receitas, em torno de R$ 300 milhões. Antes da crise, em 2017 e 2018, o Cruzeiro tinha receita na casa de R$ 340 milhões."