PT esgotou a paciência dos dirigentes com Carlos Siqueira, presidente do PSB, e com o prefeito do Recife. Saída pode ser apoio deles a Lula, fora da Federação
Luís Costa Pinto, do 247 – Quando o ex-vice-governador paulista Márcio França anunciou, há dois dias, que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin estava “99,99% fechado” com o PSB, França não só blefava: estava jogando otimismo ao vento para evitar contemplar a tempestade que ele e o presidente do Partido Socialista Brasileiro, Carlos Siqueira, colhem depois de terem semeado nuvens cinzas-chumbo sobre o canteiro de obras no qual PT, PV e PCdoB tentam construir a Federação Partidária de esquerda.
“Não trabalhamos mais com a possibilidade de Alckmin no PSB. O PV é o caminho natural dele”, disse ao Brasil 247 um integrante da cúpula petista que tem acompanhado todas as negociações para a composição da chapa presidencial. “Mas, diria que há 99,99% de chances de Geraldo Alckmin ser o vice de Lula, não pelo PSB”, completa, provocando uma remissão lógica à frase de França.
Dirigentes do PV e do PCdoB já disseram à cúpula do PT que têm interesse em criar uma Federação só com as três legendas ou com outras novas siglas que se juntem a eles. Se o PSB desejar, apoia a candidatura presidencial do ex-presidente Lula no plano nacional. Porém, os partidos federados teriam candidatos próprios em estados relevantes para os socialistas, como Pernambuco e Espírito Santo (além do Distrito Federal).
O PSB, por meio de uma retórica dura de Siqueira, insiste nas candidaturas a governador de Márcio França, em São Paulo, e de Beto Albuquerque, no Rio Grande do Sul. O PT, por sua vez, não abre mão dos líderes nas pesquisas nos dois estados: Haddad, para o governo paulista, e Edegar Pretto, para o gaúcho. Em Brasília, o PV quer lançar o deputado distrital Leandro Grass (ex-Rede) e o PSB também insiste em candidato próprio. Petistas, verdes e comunistas têm dialogado entre si e apontam, juntos, o maior responsável pelo desentendimento: Carlos Siqueira.
A proatividade anti-aliança do presidente do PSB intensificou-se depois que caiu a ficha do esvaziamento dele como dirigente partidário a partir do momento em que o condomínio da Federação começar a operar num eventual (e muito provável) governo Lula-Alckmin. O papel dos presidentes dos partidos federados ficaria menor que o atual protagonismo deles. Como não é político “com voto”, é apenas um competente burocrata da estrutura partidária, o presidente do PSB passou então a exagerar nas filigranas para selar a união dos quatro partidos.
Penna, presidente do PV, abriu as portas para Alckmin e outros egressos do PSDB
O Partido Verde movimenta-se no sentido oposto do PSB e isso tem agradado de sobremaneira tanto petistas quanto integrantes da cúpula parlamentar do PCdoB. José Luiz Penna, presidente dos Verdes, é amigo pessoal de longa data de Alckmin e foi secretário dele em duas oportunidades. Na última 2ª feira, 14 de fevereiro, ao se reunir com o ex-governador paulista, Penna não só deixou claro que a ficha de filiação de Alckmin já estava até “rascunhada” como deixou claro que ele levaria quem quisesse para o PV.
Os ex-senadores Aloysio Nunes Ferreira e José Aníbal (suplente, ainda, de José Serra) vão se filiar ao Partido Verde. Em razão disso, deputados estaduais e prefeitos que ainda estão no PSDB e gravitam em torno de Alckmin, de Nunes Ferreira e de Aníbal (que foi presidente da legenda) devem segui-los na troca de partido. Há uma possibilidade, ainda, de filiados ao PSDB tomarem o mesmo rumo em Minas Gerais, em alguns estados nordestinos e em Goiás (onde o ex-presidente Lula passou a liderar as pesquisas de intenções de voto, apesar da relevância do agronegócio na política e na economia locais).
Para Alckmin se filiar ao PV faltam duas conversas – juntos, dirigentes de PT, PV e PCdoB encerrarem (com lamentações) as tratativas para a Federação com o PSB e deixar claro que haverá consequências políticas; e Lula assimilar a nova configuração da Federação que será a sua estrutura de alianças de governo no Congresso. Depois disso, restará o passo final, a cargo de Geraldo Alckmin: ir até Penna e marcar a data do anúncio formal.
O PV brasileiro pretende se reestruturar totalmente a partir da nominata de deputados de 2022. A ideia é devolver ao Partido Verde nacional o mesmo caráter de sigla social-democrata que ele tinha ao ser criado emulando o PV de Joschka Fischer na Alemanha Ocidental (depois, Alemanha apenas). O PV de Fischer foi um aliado central do Partido Social-Democrata alemão em governos dos anos 1970 a 2000. Agora, Annalena Baerbock, líder dos Verdes alemães, é a ministra do social-democrata Olaf Scholz no governo de coalizão que sucedeu à Era Merkel na Alemanha. A aliança de governo de Scholz só saiu porque Baerbock, de 41 anos, renovou os quadros técnicos da legenda e manobrou o PV para dentro da coalizão. É o papel que o PV brasileiro pretende jogar, se não em 2022 de imediato, mas já a partir de 2026, requalificando sua atuação política e remodelando seu tamanho e suas pretensões.