Helena Chagas, colunista do 247, é vice na chapa
Cristina Serra (Foto: Divulgação)
Por Gustavo Kaye, do Agenda do Poder - A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) terá, em abril, uma nova direção. Com as eleições à vista, a jornalista e escritora Cristina Serra, filiada à entidade desde sua formação, apresentou nesta sexta-feira (4) sua candidatura.
Se eleita, ela pode ser a primeira mulher no comando da ABI desde sua criação, há cerca de 113 anos. Por ora, a chapa por ela presidida é a única no pleito. Outras ainda estão em articulação e podem ser oficializadas em breve, segundo informou Paulo Jerônimo ao Portal IMPRENSA.
Em entrevista exclusiva, Cristina fala sobre suas propostas, e como vê o futuro da instituição. Confira!
Portal IMPRENSA: Qual é a importância da eleição da ABI este ano?Cristina Serra: A ABI tem um papel histórico de lutas em defesa da democracia. Na época das Diretas, ela teve um papel muito importante. O presidente era o Barbosa Lima Sobrinho, um senhor de bastante idade que participou ativamente da campanha. Eu era estudante de jornalismo, via a atuação dele, achava inspirador. Me sentia muito representada por aquele senhor de terno, cabeça branca. Mas ele falava por mim, naquele momento, como cidadã, eu me sentia representada por ele e mais ainda como jornalista. E por isso me associei a ABI.
Em função desse histórico da ABI, em um ano como esse que a gente vai enfrentar, torna-se mais importante. Na verdade, a atual direção da abi foi eleita em 2019, nós já tínhamos o governo Bolsonaro, já havia um contexto, mesmo no começo do governo, de hostilidade contra a imprensa e contra os jornalistas, por parte do presidente, e foi se agravando a ponto de, segundo um levantamento da Fenaj, ele ser o ponto de origem da maior parte dos ataques contra imprensa e contra os jornalistas.
Quando a atual diretoria foi eleita, já havia esse contexto, e tem feito um trabalho muito importante de defesa da categoria, de defesa dos jornalistas, e de defesa da democracia, portanto, dando continuidade a esse papel histórico da ABI.
Nesse ano, que será tão importante o combate ao extremismo de direita, mais ainda isso põe em relevo a importância dessa atuação da ABI em defesa da democracia, do Estado Democrático de Direito, das liberdades democráticas, dos jornalistas e da liberdade de expressão.
A eleição acontece no final de abril, muito próximo da campanha eleitoral [presidencial], portanto nós temos essa coincidência, nós jornalistas, cidadãos, de ter duas eleições muito importantes e decisivas para o Brasil e para o jornalismo.
PI – Quais são os principais projetos do programa da chapa que vc preside?
CS – O programa que defendo, e tem o apoio de várias pessoas, e da atual diretoria inclusive – mas não só, já tenho conversado sobre isso com muitos colegas, em primeiro lugar, defesa a democracia. Em segundo lugar, recuperar a ABI do ponto de vista material e financeiro.
A ABI, a sede, fica no Rio de Janeiro, em um lugar que tem uma importância cultural muito grande, em um complexo onde fica o antigo Ministério de Educação, do Museu Nacional de Belas Artes, da Biblioteca Nacional. O prédio da ABI sofreu um impacto muito grande com a pandemia, porque ela é proprietária do prédio inteiro, mas só ocupa alguns espaços. Os outros são alugados para operações comerciais, uma série de outros negócios. Com a pandemia, esses locais foram esvaziados, as pessoas entregaram as salas e não puderam mais cumprir os contratos, já que a pandemia nos obrigou a trabalhar remotamente.
Isso teve um impacto enorme. A gente precisa encontrar outras maneiras, esperamos que o controle da pandemia, essas salas voltem a ser alugadas, mas a pandemia nos mostrou que precisamos de novas fontes de rendas. Precisamos encontrar formas inovadoras de financiamentos, além, claro, das mensalidades. O prédio é antigo, tem problemas de manutenção. Temos a ideia de manter cursos, que a gente possa cobrar valores factíveis, fazer eventos cobrando pelo uso dos espaços. Isso tudo está sendo discutido para dar uso para aquele prédio.
Outra pauta muito importante, de forma resumida, é a digitalização da comunicação da ABI. A ABI já melhorou muito nesse aspecto, com o canal do Youtube, mas estamos no começo. Precisamos de uma grande modernização, ingressar nesse mundo digital, como eu disse, já existe uma presença, mas ela precisa ser mais constante, rápida.
PI – A ABI está promovendo junto aos poderes legislativo e judiciário várias ações. Como vc vê o andamento destes processos e qual o mais importante?
CS – Acho que todas as ações, fazendo um apanhado, são importantes pois se referem basicamente a defesa da democracia ou das liberdades democráticas. A ABI tem sido muito atuante no sentido de garantir liberdade de expressão, se posicionar contra qualquer tentativa de censura de algum meio de comunicação ou do exercício profissional.
Mas isso faz parte da ABI e eu acho que ela mantém essa linha, mas claro, intensificado isso, porque estamos em um contexto difícil, em que os ataques partem do próprio presidente. Então a todo momento é preciso se posicionar em relação a isso.
Uma das comissões mais importantes da ABI é a de Direitos Humanos, como essa área também tem sido muito atacada, partindo novamente do presidente, ministros e alguns setores, a ABI também tem sido levada a se posicionar em relação a isso.
Por último, mas não mais importante, a ABI encaminhou um pedido de impeachment do Ministro da Saúde Marcelo Queiroga por conta do atraso na vacinação das crianças. O direito à saúde é o direito à vida, é o mais basico de um ser humano. O atraso que vimos, essa propaganda negativa contra a vacinação das crianças por parte do ministro da Saúde, que é um médico, é tão indigno, que a ABI tomou essa iniciativa. Infelizmente, como várias iniciativas nesse sentido, como o próprio pedido de impeachment do presidente, não foi para frente.
PI – Qual a posição desta chapa em relação a regulamentação dos meios de comunicação? E em relação às Big Techs?
CS – A posição é claríssima, embora esse termo “regulamentação” se presta a muitas interpretações. Para se posicionar, a gente precisava saber de que a gente está falando exatamente quando se fala de regulamentação dos meios de comunicação.
Mas, independentemente disso, nossa posição é da ABI, a posição que está no Estatuto da ABI e na Constituição: liberdade de imprensa, de expressão. Para nós, isso é cláusula pétrea.
Somos defensores inarredáveis e comprometidos com a liberdade de imprensa, de expressão. Não se fala nessa discussão, se é que se refere a controle de conteúdo, somos terminantemente contrários.
Sobre as big techs, é extremamente complexo, que está sendo discutido em vários níveis, até porque nós, como sociedade, precisamos entender melhor esses impactos na comunicação, a maneira como elas usam o conteúdo produzido por jornalistas. Está no nosso horizonte, mas é uma discussão que precisa ser aprofundada.
Nosso compromisso é defender a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão tal como está na Constituição.
PI – A ABI nunca teve uma presidenta (ou presidente mulher…) no seu comando nestes 94 anos. Já tiveram outras mulheres que concorreram a esta função? Como vc vê este desafio?
CS – Com muita humildade, como uma imensa responsabilidade e um desafio estimulante. É importante assinalar que quando passei a cabeça de chapa essa questão veio à tona, considerando que a categoria é majoritariamente feminina – pelo que tenho lido, não tenho um levantamento específico.
Nesse aspecto da representatividade é muito importante, mas o que me levou a aceitar a candidatura é considerar que eu tenho uma contribuição a dar nesse momento em que o Brasil atravessa.
Tem o componente da representatividade que é importante, mas acho que posso acrescentar também. Da mesma forma como eu fui convidada para ser presidente, trazendo representatividade pela minha capacidade de contribuição, isso foi também o que nos guiou na composição da chapa, que não está inteiramente formada, mas já tenho o nome da vice, que é uma mulher também, a Helena Chagas, uma grande jornalista que construiu sua carreira no jornalismo de Brasília, é uma pessoa muito querida, foi secretária de Comunicação, com status de ministra, no Governo Dilma, então traz essa experiência do setor público, agrega esse elemento importantíssimo nesse momento.
Nós a convidamos por esses motivos, não por ela ser mulher, mas que bom que são duas mulheres na cabeça de chapa. Traz um peso que nos legitima na categoria profissional.